Três dias... Há três dias que não saio do quarto dele e que não como nada... tenho vivido à pala de água basicamente. Também não quero saber.
Pelo que soube pelas notícias estamos a passar por uma tempestade, há cheias por toda a cidade e a área perto do mar está completamente inundada. A trovoada começou há cerca de uma hora e só notei porque parei de tocar bateria por ter um excesso de feridas em sangue nos meus dedos.
O número de mortes não para de aumentar e só sei isso porque continuo à procura do nome da Mandy, do Ash e dos meus progenitores. Vejo todo o tipo de nomes, de famílias inteiras que morreram e tenho anotado para ver quantas famílias é que morreram e a lista de quem é o quê a quem, para quando acabar eu poder ir procurar as pessoas e avisar visto que só a nossa área, por ser a zona mais alta, é que tem internet, televisão e as condições das casas e ruas estão razoáveis comparado com o resto da ilha.
Saio do quarto pela primeira vez e reparo que estão todos a dormir no quarto do Caspar por ser o mais longe do quarto do Ash.
" Por tua culpa! Por teres estado a tocar bateria! Já viste o que fazes?!" – Grita o meu subconsciente. Porque é que ele não se pode calar por um dia que seja?
O frio é bastante mas ando com uma camisola do Ash velha e uns calções meus que nem se notam por debaixo da camisola e descalça. Com o meu cabelo preso um messy bun ando até à cozinha onde faço um chocolate quente cheio de chantili por cima.
Assim que acabo dirijo-me com a caneca para a varanda onde vejo a vila inundada, oiço ambulâncias e pessoas a gritar por socorro. Verifico novamente o site com os nomes de quem encontraram vivo e morto e anoto mais 20 que foram identificados esta manhã... Baixo o ecrã do computador e pego num livro que encontrei no quarto do Ash, o pobre livro tem um aspeto de já ter sido lido umas 500 vezes mas para mim será a primeira.
Abro o livro no sítio onde tinha deixado uma marca para me lembrar onde fiquei no meio de tanto papel. Irónico visto que o nome do livro é "Cidades de Papel"...
| Joe POV |
Acordo sentindo um silêncio invadir a casa e, por sua vez, o quarto. Ergo-me da cama a tentar não acordar ninguém e procuro pela minha irmã. Não a vejo há dias e sei perfeitamente que ela não está bem...
As coisas com ela sempre foram complicadas, os dias cinzentos e as verdades ocultas, apenas para a proteger... Eu estive lá todos os anos, todos os momentos, sei das duas partes, o que sentiam, o que diziam, o que guardavam para eles como se fosse uma caixa com algo precioso, capaz de se partir ao mais pequeno toque de aragem... Quando ela desapareceu eu fiquei de rastos e não fui o único. O sol já não brilhava tanto, a chuva já não soava como uma bela melodia para embalar ou para ficar a falar, passara a ser apenas um tormento de memórias que desapareceriam com a idade. Já não ouvia o alegre som da minha irmã a rir desalmadamente com o rapaz que sei que amava não só com todo o seu coração mas também com toda a sua alma, era uma paixão única que, até eu, tinha ciúmes da sua imensidão. Doía sempre, imenso, quando acordava e apenas ouvia o meu melhor amigo a chorar fechado no seu quarto, agarrado aos planos que tinha feito para os dois; quando, ao andar pela casa, não ouvia a Penny a falar sobre o Luke ou a reclamar com a mentalidade da minha maninha ou ouvir o Cal e o Mike a rirem do ar de apaixonado do Ash e o olhar do Caspar, vidrado na conversa deles com um ar de nojo e ao mesmo tempo de cusco.
Suspiro com as memórias duras e avanço em direção à sala para ver como se encontrava o tempo lá fora e o estado de parte da ilha, tendo em conta a vista que tínhamos do topo do monte.
Ao chegar perto da sala oiço uma música tocar baixinho, a Zoe a cantar enquanto está agarrada a um livro, a ler no único local onde não molha, sentada no chão. Aproximo-me lentamente notando no livro que ela está a ler...
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Sky Full Of Stars | A. I. | Parada
Fiksi PenggemarZoe Whelan é uma rapariga que tudo tinha mas que nada daquilo queria. Depois de umas férias marcantes Zoe fica com um sentimento marcado no coração mas devido a um acidente de carro perde memória de uma grande parte da sua vida que é capaz de mudar...