A VOZ DO SILÊNCIO (Degustação)

CAPÍTULO 3

Dormi tarde arrumando a minha mala, pelo menos será a Marina que vai me substituir no projeto com as crianças, ela é uma pessoa fantástica, ontem chorei pensando nisso.

Eu nunca saí da comunidade, será que estou agindo certo em aceitar esse emprego? Não sei se algum dia eu terei a resposta, mas o fato é que eu preciso me sustentar financeiramente, dar um novo rumo a minha vida, sem essa montanha-russa de mãe alcoólatra e irmão drogado.

Já estava pronta para ir pra casa de Thierry, quando recebi a ligação de um celular desconhecido, atendi preocupada, será que Max já tinha sido preso?

- Bom dia, senhorita Fontes?

Devo confirmar que sou eu? E se for algum dos bandidos que Max deve dinheiro? Acho que eu vou arriscar.

- Sim, sou eu, quem fala?

- Eu sou Pedro Martins, motorista do senhor Perrot. Estou em sua porta para ajudá-la a levar os seus pertences, você pode abrir a porta pra mim?

Nem respondi e vi a sombra do homem pela janela, abri a porta e um negro parecendo um armário apresentou-se e carregou uma caixa e a minha mala até o carro.

Ele atendeu uma ligação e vi que ele estava falando com Thierry.

- Sim senhor, eu já estou com ela, vou passar-lhe o telefone, um minuto por favor.

Pedro me passou o celular e Thierry deu-me as boas vindas com aquele sotaque delicioso.

- Beatriz, seja bem vinda, eu quero que fique à vontade, se precisar de qualquer coisa, fale com Joana ou Pedro. Almoçarei em casa com vocês.

Achei muito gentil Thierry ter mandado alguém buscar-me e ainda mais almoçar conosco no meu primeiro dia em sua casa.

- Obrigado Thierry, até mais tarde.

- Até Beatriz.

Acomodei-me na suíte enorme que ficava ao lado do quarto de Christopher. A decoração era simples e delicada, com TV, home theater, a cama grande e confortável, um tapete branquíssimo, que de tão fofo os pés afundavam.

E o closet, nossa! O closet era quase do tamanho do quarto de minha casa.

No banheiro encontrei lacrados alguns vidros de perfume importado, emulsão pra banho, entre outros artigos femininos, tudo com muito bom gosto.

Ele teve o cuidado de comprar todos esses itens para receber-me em sua casa.

Apesar da camada de frieza eu podia ver por detrás um homem atencioso e muito gentil.

Fui muito bem recebida por Joana, além dos outros funcionários de Thierry : Clara, a cozinheira, Pedro e Jorge, seguranças, entre outros. Christopher ainda não chegou da escola.

Após arrumar as minhas roupas, aproveitei o tempo livre para programar um diagnóstico psicológico e as possíveis terapias a ser utilizadas em seu tratamento.

Joana contou-me que Christopher só falava com Ringo, o seu cachorro, mais ninguém. Não havia nenhuma interação com o pai, com o psiquiatra, na escola. Seu contato verbal era só com o seu animal de estimação.

Christopher chegou da escola agitado e não quis se aproximar, nem com Ringo quis brincar, só quis assistir seus desenhos animados. Joana além de governanta, cuidava pessoalmente de Christopher, ela deu-lhe banho e também brincou um pouco com ele. Eu preferi deixá-lo relaxar um pouco, depois tentaria abordá-lo com calma.

Thierry me aguardava na sala, chegou ainda a pouco, está sem a gravata e conseguia parecer mais lindo do que ontem.

Almoçamos em um clima ameno e pude perceber que apesar de todo o dinheiro que possui, Thierry é uma pessoa simples, lida com as pessoas ao seu redor sem ostentações desnecessárias.