Capítulo 4

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Após cinco dias que se arrastaram por quase uma eternidade, Thierry chegou de noite em casa.

Eu fiz um esforço hercúleo, mas não consegui disfarçar a alegria de tê-lo de volta, a casa sem ele parecia vazia e o meu corpo ansiava por seu toque.

Eu sentia-me à vontade na casa dele e Christopher também me recebia melhor, ontem ele segurou a minha mão, por ser um menino tão introspectivo e distante, eu tinha avançado muito em tão poucos dias.

Thierry deixou a mala na sala e eu como uma idiota peguei sorridente e levei até seu quarto, deixando-o surpreso.

Quando retornei pra sala, ele segurava uma caixinha na mão e me entregou.

- Eles ficarão lindos em você.

Eu abri-a com os dedos trêmulos e um par de brincos de água marinha repousavam brilhantes no veludo preto da caixinha.

Engasguei com o presente, sei que deve ter sido bem caro, entretanto, o que mais me comoveu, foi perceber que enquanto esteve ausente, ele se lembrou de mim.

Eu nunca fui uma pessoa que ganhei muita coisa na vida, isso me fez sentir querida e importante, meus olhos encheram de lágrimas.

- Os brincos são lindos, Thierry, mas eu não posso aceitar, é demais.

Seus olhos estreitaram-se, tentando captar em minhas feições o que eu estava pensando, ele queria escavar meus sentimentos, o motivo da minha recusa.

- Os brincos são bonitos demais, ou eles são demais pra você, Beatriz?

Abaixei a cabeça e falei a verdade.

- Demais pra mim.

Ele levantou o meu queixo com o dedo indicador e afagou o meu rosto com o dorso da mão.

- Nem que eu te presenteasse com um punhado desses, não seriam de forma alguma demais pra você. Acho que você precisa se ver melhor ou trocar o seu espelho, minha querida.

Ele tirou os brincos da minha mão e colocou-os em minhas orelhas, satisfeito com o resultado.

- Ficaram perfeitos com os seus cabelos soltos, não os tire mais ou eu ficarei muito aborrecido.

Ele era mandão, mas eu gostava do jeito másculo que ele falava comigo.

- Eu preciso muito falar com você, eu tenho uma proposta pra te fazer.

Thierry deixou-me na sala e voltou com uma dose de uísque e uma taça de vinho pra mim.

Nunca o vi bebendo algo forte, o assunto da sua conversa deve ser algo muito sério.

Eu notei Thierry vacilando, depois de esfregar o queixo, ele sentou-se no sofá e me puxou para o seu colo.

- Humm, assim tá bem melhor.

Uma mão segurava a minha cintura, acariciando-me através do tecido do vestido e a outra repousou em minhas coxas desnudas, eu tentei escorregar do seu colo.

- Thierry, alguém pode entrar e ver...

Ele colocou um dedo em meus lábios, em um sinal para eu me calar.

- Shh, chega Beatriz, eu estou me lixando se alguém entrar, agora fique quietinha e me ouça.

Ele estava visivelmente tenso, observei as suas mãos e estavam trêmulas.

A VOZ DO SILÊNCIO (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora