O sol brilhava forte pela tarde. A estrada era plana e arenosa. Eu transpirava muito, ainda estava com dificuldades de me acostumar aquele clima seco. Sentada no espaço de trás da van, peguei um cantil e tomei um gole de água. Comecei a ouvir um som muito baixo, quase imperceptível. Quando prestei mais atenção, notei que parecia uma sirena de bombardeio. Não havia nada perto de nós por quilômetros, mas Pavel pareceu se preocupar. Ele olhou para o combustível.
- Estamos com pouca gasolina. - Comentou. -Não sei se dará para chegarmos lá.
- Vocês têm um galão aqui na van, não têm?
- Temos, mas é para emergências.
- Se nossa gasolina acabar, vamos ter uma emergência.
- Não é esse o problema. - Lana apontou para um ponto de luz vermelha no céu, não tão longe de nós. - Você também escutou a sirene, não escutou. É um aviso assim como aquilo.
- O que é aquela luz?
- Chuva.
- Isso é ruim?
- Sim. - Cal respondeu. O menino lia um livro enquanto conversávamos. - As chuvas possuem um grande teor de acidez, corrói até metal. Se formos pegos, poucos pingos podem nos matar. Dois de pH, o que é mais corrosivo que ácido sulfúrico.
- Vem cá, Cal, você não é um tanto novo pra estar aqui fora não?
- Eu venho aqui fora desde que eu tinha oito anos, Susana. -Ele ficou irritado. - Não vem me falar que é perigoso que eu já encarei a morte muito mais vezes que você provavelmente.
- Tudo bem, não quis ofender. - Tentei segurar um sorriso, mas Cal ficava realmente engraçado tentando contar vantagens. Tinha certeza de que ele tinha visto muita coisa ruim que muitos adultos não aguentariam ver normalmente, mas ele decerta forma mantinha seu lado criança no fim e isso me alegrava um pouco. - Tem algum lugar onde podemos nos abrigar?
- Tem, mas esse é o problema. É fora da rota. Podemos perder muita gasolina indo para lá. - Pavel retomou o problema.
- Então o que fazemos?
- Nick decide. Ele é o líder.
Como se soubéssemos o que falávamos, o homem na moto mais a frente baixou a velocidade até ficar ao nosso lado. Sinalizou e Pavel esclareceu:
- É, vamos para um abrigo.
- Tsc, Susanna, você precisa tomar mais cuidado na próxima. Não temos muitos remédios, muito menos antibióticos.
Ela cuidava dos meus novos ferimentos. Estava estressada, mas eu queria aproveitar aquele momento para conversar um assunto que começava a me incomodar.
- Lana, você disse que o excesso de radiação causou mutações nas pessoas. É por isso que temos os olhos brancos, certo?
- Exatamente. Eu, você, Pavel, Cal... Todos nós somos os que deram certo.
-O que isso quer dizer? Os que deram certo.
- Quer dizer que as alterações que sofremos não prejudicaram nenhuma de nossas capacidades cognitivas, nem deformaram nossos corpos. Às vezes, acaba ocorrendo o contrário.
- O contrário? Poderia, então, ocorrer outros tipos de mutação? Algo que melhore nossas habilidades?
- Por que essas perguntas, Susanna? Você tem sentido alguma coisa diferente?
- Sim. Para ser sincera, sim. Quando Nick me atualizou sobre o que tinha acontecido com o mundo, aconteceu uma coisa muito estranha. Eu meio que surtei em um ataque de pânico. Achei que fosse só isso, mas aconteceu de novo quando aquela minhoca gigante veio atrás de nós.
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Fator Gama
Action"Ele enganou a todos. Achou que eu não ia descobrir. Falou que ia me matar. Ele tentou. Eu sobrevivi. Idiota. Vou destruí-lo, ou não me chamo Susana." Após as guerras nucleares, o mundo se encheu de radiação tornando-se inabitável e o mundo insusten...