Capitulo Três

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Apenas sabia que estava deitada em minha cama, embaixo daqueles lençóis brancos quase amarelos. Respirava pesadamente por ontem, abri os olhos aos poucos e senti meus dedos em algo felpudo. Uma bolinha preta encolhida perto de minhas pernas, ronronava e mexia as vezes a orelha direita que tinha um pedaço faltando.
Aquele era Sprayberry, não sei porque meu irmão chamava-o assim. Ele não tinha nada de spray, muito menos de alguma fruta para ter "berry" no nome.
- Com licença - empurrei o gato com os dedos que miou sonolento e logo se espreguiçou - bom dia, bela adormecida.
Disse isso e ri baixinho, estava conversando com o gato que se espreguiçava em minha cama deixando os pelos pretos na coberta para trás.
Quando coloquei a mão na maçaneta, ouvi mais passos do que esperava a essa hora da manhã. E para constatar, era um lindo sábado em Angeles então com certeza não era ninguém do trabalho da minha mãe.
- Mas que... - disse descendo as escadas e vendo minha mãe sendo escondida por flores que homens carregavam e deixavam na bancada da cozinha - o que é tudo isso?
Minha mãe levantou os olhos para me observar no meu pijama, uma calça preta xadrez com furos e blusa comprida branca. Estava com calor, arregacei as mangas mas não adiantou nada.
- São para você! - disse animada e tentando sair desse labirinto de rosas, tulipas, violetas... Espere um momento...
-... Essas flores são as minhas preferidas, como é que sabem? E quem sabe?
Estava confusa olhando aqueles homens entrando e saindo, outros com uniformes formais saiam da lavanderia nos fundos com as mão atras das costas. Conseguia sentir que havia corado um pouco pois estava naquelas péssimas condições de ver pessoas da Realeza.
- Vá acordar seu irmão e se vestir - minha mãe disse virando rapidamente á mim e logo tornou-se a responder as questões da casa aos guardas.
Sem entender quase tudo, tornei a subir as escadas. Levei os dedos a bochecha esquerda para sentir se havia corado mesmo, me certifiquei que sim pois... Cara, como estavam quentes!
Suspirei já cansada mesmo de começar o dia assim, segui pelo corredor a direita até ao quarto de Hamish que era ao lado do meu. Sua porta nunca estava fechada, apenas empurrei um pouco para olha-ló. Sorri fraco vendo esparramado pela sua cama pequena com livros no chão abertos.
Caminhei devagar até ele, agachei ao seu lado e arrumei seu cabelo loiro do rosto.
- Hamish... - disse em um tom de voz baixo - Hamish, acorde.
Balancei ele pelo ombro direito com a mão esquerda, nada de Hamish.
- Hamish - tentei novamente - tem chocolate com mel lá embaixo.
Apenas o vi abrindo seus olhos aos poucos com cara de malandro.
- Chocolate...? - ele abria um sorriso de canto - Mel...?
Foi isso que acordou-o, logo pulou da cama e me puxou de volta ao corredor e novamente a maldita escadas.
- Espera! - lembrei a ele sobre o que mamãe havia dito - Tenho que me trocar. Vai indo que logo desço.
Sem pensar duas vezes, o garoto desceu as escadas quase voando. Virei ao meu quarto que era de frente a escada e empurrei a porta, deixei Sprayberry sair do quarto para espiar o que tinha de bom entre aquelas flores. Logo depois, fechei a porta e meus olhos pararam imediatamente no armário do outro lado do quarto perto da janela. Aproveitei e a abri, deixando o som dos pássaros entrar e ecoarem pelo quarto. Abri as portas de madeira do armário antigo, aquilo cheirava à coisa da minha vó. Bom, eu amava minha vó. Velha Annabeth. Trabalhou no castelo igual a minha mãe, ela foi criada lá quase. Não sei com conheceu meu pai... Isso é um mistério que ela não quer responder. Meu nome veio dela, como o da minha mãe só que nós duas não temos o beth.
Voltando, peguei um dos vestidos que tinha que nunca tinha usado. Era da minha mãe esse vestido, tinha me dito que usará em um casamento de uma amiga. Um vestido vinho simples que ia até os joelhos, com mangas curtas até o cotovelo. Deixava os ombros de fora, realçando mais a beleza do rosto do que o vestido em si.
Não tinha muitos sapatos para usar, então coloquei o converse cano médio preto que tinha. Confortáveis, combinavam e tinham meu toque de estilo.
Desci as escadas assim, com os cabelos em um coque bagunçado deixando vários fios para fora.
Os guardas imediatamente levantaram os olhares para olharem para mim, como se eu fosse uma princesa descendo as escadas de mármore de um palácio. A única diferença era em uma casa velha, escadas de madeira e eu não era uma princesa... Ainda?
- Senhorita Siles - um guarda disse virando a mim - por gentileza, me acompanhe até o balcão da cozinha.
Ele ergueu a mão abrindo o caminho, sem nada a contradizer e com um pouco de medo segui suas ordens indo até o balcão onde as flores eram retiradas de cima as deixando nos lugares que minha mãe pedia.
- Bom, vamos acabar com esses mistérios não é mesmo? - disse com um sorriso tenso enquanto me sentava na banqueta ao lado do balcão - Quais são os comunicados?
Os olhos frios do guarda seguiram para o outro, fez um sinal com a cabeça deixando uma mulher entrar pela porta principal. Com unhas compridas rosas e um cabelo loiro chanel mostrava seu sorriso alegre mas falsificado pela tensão que suas oleiras a entregavam cobertas (ou tentaram cobrir) com maquiagem.
- Anna! - disse levantando as mãos - que prazer em conhece-lá. Sou Silvia, vim apresenta-lá à Seleção.

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