Capítulo 1

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                                                           Córsega – Segunda Temporada.


POV Camila

Eu fechei a porta de nosso quarto e ela não estava me esperando como sempre.

Engraçado como o dia estava frio e morto. Assim como meu coração.

Eu não sei exatamente onde foi que nos perdemos. Eu estive lá, ela também. Então por que eu estou vendo suas malas encostadas na parede?

Por que não sinto seu perfume todos os dias?

O que aconteceu?

Pode ter sido a gravidez que não deu certo.

Pode ter sido os sonhos deixados de lado.

Eu nunca vou saber.

Aconteceu de repente, acho que nós já sabíamos que não estava certo.

Foi num jantar. Estranho, mas foi ali que notei a falta de seu brilho.

Foi numa troca de olhares e num aperto em minhas mãos.

Anos atrás isso teria sido a mesma coisa de um "eu te amo"

Mas naquela noite, aquilo significava o fim.

Nós voltamos para casa e nos sentamos no sofá.

Passamos horas abraçadas. Cada uma com seu pensamento.

O carinho estava ali, não posso dizer que nunca discutimos, mas eram raras as vezes que isso acontecia.

Vero e Lucy conseguiram engravidar. Gêmeos.

Creio que a perda de nosso bebê tenha sido o fim para Lauren. Para mim.

Os médicos não souberam explicar.

Passamos noites chorando, lamentando.

Meses depois estávamos sorrindo, nos amando como sempre fazíamos.

Pode ter sido também os sonhos. Ou a ausência deles.

Lauren cursou direito. Ela odiava o curso.

Ela chegou em NY cheia de sonhos para a faculdade de música, mas seu pai expandiu os negócios e Lauren optou por fazer esse curso.

Eu não fiz faculdade, não me encontrei em nada naquele meio de palavras sem sentido. Tentei de tudo, medicina, gastronomia, cinema e até direito. Nada.

Isso nos desgastou.

Mas nunca dormimos brigadas. Nunca.

Nosso casamento foi respeitoso e teve amor.

Foi.

Eu não vou me acostumar com a imagem a minha frente.

Nós usamos as mesmas malas para uma viagem a Córsega.

Como isso era possível?

A notícia de que iriamos nos separar pegou nossos amigos mais próximos de surpresa.

Vero me ninou durante dias. Choramos juntas.

Liam ficou o tempo todo com Lolo.

Lolo...

Em uma noite de brigas, ela pediu para que eu não a chamasse mais assim.

Lauren.

Eu não queria, mas pedi para meu pai vir me dar colo.

Ele veio.

Eu não aguentava mais chorar. Era muita dor.

Vero ficava repetindo que não ia adiantar eu chorar, que tudo ia ficar bem. Mas em uma noite que eu estava hospedada em sua casa eu a ouvi soluçar no colo de Lucy.

- Ela esta sofrendo - Foi o que ela falou para a esposa

É, eu estava.

Foi na semana passada que Lauren avisou que iria se mudar. Alugou uma casa do outro lado da cidade. Ela iria me deixar sozinha nesse inferno.

Eu odiava aquele lugar. Aquela cidade.

Nós ainda dormíamos na mesma cama, ainda dividíamos o mesmo guarda roupas.

Semana que vem já não seria mais assim.

Eu ia dormir na nossa cama. Eu iria ter o guarda roupas todo pra mim.

Seria vazio.

Eu trabalhava como secretária no escritório de Lucy. Eu ganhava bem para uma simples funcionária.

De segunda a sexta feira. Uma rotina.

O livro de Kaleb foi um sucesso, ganhei uma porcentagem nos lucros e preferi guardar para uma emergência.

Ontem eu me deitei na cama e Lauren me abraçou. Forte.

Do mesmo jeito que ela fazia em Córsega.

Choramos em silêncio. Era como um acordo.

Eu a amava demais para ver toda aquela dor.

Eu a soltei para ser livre, mesmo que me matasse por dentro.

A porta do quarto foi aberta e eu a vi. Tão linda.

Não contive um pequeno sorriso. Ela sorriu também, mas era um sorriso triste.

Lauren foi até a janela e fechou a grossa cortina preta.

- Quero ficar um pouco com você – Foi o que ela disse

Nos ajeitamos em baixo dos cobertores grossos e ficamos encarando o teto.

- Se tivéssemos uma segunda chance... – Eu divaguei

Sei que ela escutou, mas não me respondeu.

- Eu sinto muito – Lauren disse baixinho

Me virei para encará-la e vi as grossas lágrimas escorregando de seus olhos e molhando o travesseiro.

- Esta tudo bem – Abracei seu corpo e me permiti chorar silenciosamente

O silêncio reinou na casa toda. Ficamos horas ali.

O relógio marcava 17:48. Foi quando o barulho da campainha fez meu coração bater rápido, a mesmas coisas que eu senti quando ela me beijou a primeira vez. Mas dessa vez era de medo, dor, perda.

- O táxi chegou – Lauren se sentou na cama e eu fiz o mesmo

- Tudo bem – Eu não ia falar nada mais do que aquilo

Lauren foi para a sala e as malas que antes estavam encostadas na parede de nosso quarto, agora estavam nas mãos do taxista que levou rapidamente ao porta-malas de seu carro amarelo.

Eu o vi sentar em seu banco e acender um cigarro.

Lauren me olhou e me abraçou.

Um soluço rasgou minha garganta e ela me segurou forte.

Me afastei de seus braços e tomei uma certa distância.

- Eu te amo – Foi o que ela disse antes de substituir o barulho de meu choro por uma batida forte na porta.

Ela tinha ido embora.


Córsega - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora