12- A moda caipira e a moda burguesa

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    O caipira tem um jeito peculiar de fala, os dialetos variam e fazem parte da cultura brasileira.

Lá pelos sertões das gerais dois cumpadres tarvam batendo aquela prosa, um pitando um cigarro de palha o outro tomando uma branquinha, estas prosas costumam ir longe. Prosa vai prosa vêm, uma pitada e outra... um gole e mais um... e tocam num assunto estranho;

- Cumpadre ocê viu o que arconteceu com o fio do cumpadre Zé da paz?

-Não sô.

-Bem, ele começou ar ficar isquisito, quieto, murcho, parecia arte tá com bicheira.

-É mesmo cumpadre. Respondeu o mestiço, sem entender nada.

- Ele não cumia, não bebia, não tinha disposição pra nada, nem cumprindo com sua obrigação com a patroa ele tarva, ocê entendeu, nê cumpadre?

- Sim! Ele não tarva dando no couro, ne.

-Ne. Riu os cumpadres.

- Ai o cumpadre Zé não fiu modo de dar jeito no seu fio e mandou o menino lá pra capitar.

- É mesmo cumpadre! Respondeu curioso.

-Que arconteceu com ele? Perguntou ainda mais curioso.

-Bem cumpadre, lá na capitar, naqueles hospitar do tamanho de num trem, os doutor viraram o menino do arverso e não acharam nada.

-Nada! Ficou intrigado e perguntou;

- E o que fizeram com o menino, cumpadre?

-Ocê arcredita que mandaram o moleque lá pra um lugar onde cuidam só de doido!

-Ocê tar brincando, ne!

- Não, cumpadre, é serio!

- Ele endoidou de vez?

- Não cumpadre, e' que lá, é onde se trata uma tar de depressão ou SSStress.

-Qui troço é isto moço!

-É uma tar doença que da em cabeça fraca. Tentava explicar o sertanejo.

-Deus me livre desse Troço!Mar como assim? O menino tarva bem, forte, trabalhava como um cavalo lá na roça ajudando o cumpadre Zé. Exclamou e perguntou o outro.

-Bem cumpadre, mês passado encontrei com o cumpadre Zé, lá pras banda de riachinho e ele tarva falando... continuava o cumpadre falando com o outro, que naquelas alturas, já estava de cabelos em pé e das goladas no copo passou a virar foi direto a garrafa, feito quem tá vendo assombração.

-... o cumpadre Zé dizia qui os doutor explicou a tar da depressão ou SSSS, ar não sei falar o nome desse troço, mar é assim:- ela parece doença de doido, mar não é. Ocê sabe qui a cabeça é qui manda no resto do corpo, ne cumpadre?

-É já ouvi falar disso. Mar continue cumpadre, pediu.

-Não sei bem por que, mar por argum motivo a cabeça do menino não tarva boa e ele foi levando, foi levando, tomando um chã aqui outro ali. Inte melhorou uns tempos, mar dispois era de dar dó do menino, cumpadre, ele caiu na cama e ficou pele e osso, acredita?

-Cruz em credo, isto não é coisa de Deus não moço! Benzeu o matuto arrepiado.

- O pior se não sabe?

- Tem mais?

-Sim, cumpadre, os doutor lá da capitar falou pra cumpadre Zé, que esse troço pode dar em quarquer um.

-É cumpadre, fou rezar mais e pedir a benção a nosso padroeiro pra esse trem ficar bem longe de mim. E o fio do cumpadre melhorou ou ainda tar com esse trem?

-Bem, cumpadre esta sumana, fiquei sabendo lá na venda, qui o menino tinha vortado da capitar com um saco de remédio. Tarva mior, mar duas vez no mês, vai ter de ir a capitar pra ter uma prosa com o doutor da cabeça.

-Prosiar com o doutor?Ou fazer o tratamento?Cumpadre, não entendeu o cacloco.

-Não sô, se acredita qui o tratamento é só prosiar com o doutor? Tentava explicar, ao outro, em vão.

Se tá de gozação comigo, ne cumpadre, se mi respeita, sou omi sério, se me conhece ar muitos tempos moço! Falou o cacloco, já bem embriago, pela a marfada da branquinha.

- Carma moço, eu to falando sério! Retrucou o outro assustado com a reação do cumpadre e completou falando firme:

- Se o cumpadre não acredita famo mudar o rumo da prosa.

-Desculpe cumpadre, pode continuar. Acalmou o matuto e outro continuou...

-É o seguinte moço, os doutor de cabeça vai proseando com o doente, proseando, ai o doente vai falando dar vida dele tudim, tudim desde quando ele nasceu.

-É como tivesse confessando com o padre, ou tomando uma prensa do doutor delegado?

-É cumpadre, mais ou menos assim.

-É só Deus na causa, Ne cumpadre!

- É só Deus. Concordou o outro.

Assim a prosa terminou e cada um seguiu um caminho, na escuridão da noite enluarada do sertão. Mas com o pensamento iluminado por mais um causo.

... moda burguesa

Em um happy hour de uma metrópole, regado a petiscos e coquetéis coloridos, dois amigos conversavam descontraídos, quando tocaram num assunto sinistro...

- Meu cê viu o que aconteceu com play boy lá da cobertura?

-Não brother, o que rolou com o play?

- Pô parceiro, cê sabe o estilo do cara, todo engomadilho, cheio de marra, ele se acha o tal!Outro dia esbarrei com ele e sua irmã lá no room do prédio, o cara parecia um trapo, todo amarrotado, barbudo, com sua irmã segurando-o pelo braço. Fiquei de cara!

- E ai meu que tava pegando? Perguntou o outro com olhar curioso.

-Eu fiquei sabendo pela vizinha, que o marrento entrou na maior deprê. Não se sabe o motivo, o camarada leva uma vida de rei!

- É brother, essa droga é coisa de maluco. Completou o outro de queixo caído.

-O play ta até fazendo análise com aquele doutor famoso que aparece na TV. O cara é o cara, nem doente o cara fica por baixo!

- É meu quem pode, pode. Eu vou é botar minha barba de molho e procura logo ajuda, para essa encrenca não me pegar. Ouvi falar que ela pode pegar qualquer um, com ou sem marra.

-E eu vou fazer o mesmo, pois dias atrás tava num desanimo e a pressão lá no trampo tá a mil, pensar que isto era só coisa de novela, mas o bagulho é real, bem real!

- Cê falou tudo, meu. Na real temos que ficar ligado. A vida é massa, mas pra curtir tem de ser de cuca fresca.

A mensagem do texto apesar dos trocadilhos é direta:

Não importa a tribo, não importa se é no interior ou nas grandes cidades, a depressão pode pegar qualquer um. Os motivos e as origens são das mais diversas. Então se liga, procure Se Conhecer Melhor, é o básico da prevenção para este mau.

Alexandre Martins.

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