Memórias

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As coisas que já vi naquele trecho de rodovia são incontáveis, desde sofrimentos plenos até coisas inacreditáveis. Mas eu me sentia bem em ajudar aquelas pessoas que precisavam de tanta ajuda, com certeza nos momentos mais críticos que poderiam vivenciar em toda a vida. Para falar a verdade muitas das mortes às quais presenciei naquele local não foram devido à imprudência dos motoristas, mas sim por conta de algum problema na estrada, o qual, eu e meu colegas nunca conseguimos encontrar o que realmente era. Parecia uma força, uma força invisível que revolvia todos aqueles carros estrada adentro. Todas as noites, eu permanecia numa estação - que na verdade era uma pequena casinha, para que os fiscais pudessem entrar para tomar um café ou descansar de vez em quando - à beira da rodovia, com mais dois outros colegas, sempre os mesmos. Nosso turno era o da madrugada, ficávamos até o amanhecer do dia, quando íamos para nossas casas que, para ser exato não eram muito longe dali.

Naquela noite em questão, meus dois colegas estavam dentro da estação enquanto eu fazia minha ronda. Tudo estava estava bem tranquilo, portanto apenas um fiscal já era suficiente para tomar conta daquele trecho da rodovia. A estação possuía lâmpadas por toda sua faixada, então ficava mais fácil para que os fiscais acompanhassem todo o movimento. E é aqui que o meu relato tem começo. Através da espessa chuva que caía eu avistei um vulto distante de mim. A tempestade não me permitia que eu me aproximasse para ver do que se tratava. "Deve ser algum reflexo, ou então devo estar ficando velho." - pensei. Mas o vulto vinha se aproximando lentamente e, pude perceber que se tratava de uma pessoa. "Como? Uma pessoa andando na estrada? Com esta chuva?!" Chamei meus colegas, os quais me afirmaram não verem nada. Eles se ofereceram para ficarem de vigias no meu lugar, julgando que eu estava vendo coisas pelo meu cansaço. Porém disse que não, que queria continuar ali.

O vulto continuava a se aproximar lentamente. E agora eu pude perceber: longos cabelos que cobriam seu rosto, baixa estatura. Quando chegou mais perto pude ver que aquele vulto se tratara de uma menina de talvez uns dez anos. Ela passou reto pela estação. Até que ela caiu logo à frente sobre os joelhos no asfalto encharcado. Corri para socorrê-la. Ela estava desacordada.

Peguei-a nos braços e fui para o interior da estação. As luzes estavam apagadas, provavelmente os dois homens deveriam estar dormindo. Meu pensamento se confirmou verdade quando entrei no dormitório e os dois ocupavam uma das beliches. Acordei-os ligando as luzes.

- O que foi agora? - disse o do colchão de cima - Apaga essa porra agora!

- Você trabalha e neste exato momento está no meio de um turno, seu imprestável! É melhor me ajudar! - disse eu, esbravejando, quase perdendo os sentidos. Não sei, às vezes trabalhar no meio de uma rodovia durante toda a noite não seja lá tão relaxante quanto se pode pensar.

- Desculpa! Mas mais cuidado da próxima vez que...

- O que foi? - disse o homem da beliche de baixo, ainda acordando - E essa garotinha?

- Eu a vi andando pelo trecho, ela acabou caindo desacordada. Bem no dia que o Dr. Morgan não veio!

- Olha, - disse o homem de cima - o que quer que façamos? Não é você o fiscal com mais habilidade de enfermaria aqui? Além disso foi você mesmo quem falou que queria fazer a ronda de hoje! Então agora cuida dessa menina! - disse ele, virando para o lado e colocando um travesseiro no rosto.

- É, ele tá certo! - disse o homem de baixo, repetindo a atitude do primeiro.

- Seus inúteis! Eu mesmo cuido disso!

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