Eu me arrependo das simples coisas que fiz que me levaram ao que irei contar aqui. Simples coisas que, um jovem entediado poderia buscar na internet. Baixar coisas, muitas e muitas coisas entre jogos, músicas, vídeos, imagens e várias outras. Não me importava muito com malwares, sendo que o meu computador naquela época estava muito velho pois meus pais se recusavam a comprar outro (e talvez, algum problema que inutilizasse aquela sucata velha poderia fazê-los comprar outro). "Faria absolutamente qualquer coisa para ter um computador novo." Era o que eu costumava dizer.
Um dia, ao inicializar o computador me deparei com um arquivo na barra de tarefas, o qual nunca havia percebido anteriormente, talvez pela quantidade de itens na barra de tarefas do computador (ou não). O tal arquivo era um vídeo intitulado como "openureyes.avi". O mais estranho é que não me lembro de ter baixado nada parecido. O que poderia ser então? E como o adolescente curioso que eu era não hesitei em clicar assim que a dúvida surgiu na minha cabeça. O vídeo possuía uma duração relativamente curta, 3 segundos. Abri, esperando saber do que se tratava. "Open ur eyes" que pode ser traduzido como "abra seus olhos" foi o que apareceu na tela em letras pequeníssimas (tanto que tive que repetir o vídeo um par de vezes para ver do que se tratava) e um par de olhos no escuro, que no início do vídeo estavam fechados, mas pude perceber que eles se abriram um pouco ao final. "Que porcaria é essa? Com certeza brincadeira de algum engraçadinho que não tem nada para fazer!" Nada para fazer. Que ironia eu ter dito isso. Eu excluí o arquivo do sistema e fui dormir.
No dia seguinte, ao acordar, pude perceber no espelho que meus olhos estavam meio irritados e meio fechados com as pálpebras e a esclera vermelhas, provavelmente uma conjuntivite ou alergia. Mas eles não coçavam e minha visão estava totalmente normal, talvez até melhor. "Tudo bem, deve ser só uma alergia patética" disse, estressado. Liguei o computador. Meu dia começava a partir dali. Talvez você esteja se perguntando: "Mas ele não ia para a escola?" A resposta é simplesmente não. Meus pais não se importavam se eu ia ou não, então eu aproveitava isso e ficava em casa mesmo, mais precisamente no computador, todos os dias, o dia todo.
O Windows XP iniciou normalmente. Logo a barra de tarefas mostrou-se e eu pude ver mais uma vez a quantidade de arquivos que estavam ali. Para dizer a verdade, muitos deles eu nem sabia do que se tratavam exatamente, julgando que por conta do tédio pelo qual eu passava todos os dias eu acabava por baixar coisas que nem sabia por quê. Talvez fosse o caso do vídeo do dia anterior. Mas por que eu baixaria um vídeo tão sem nexo? Por isso pensei que pudesse ter vindo junto a um dos muitos arquivos que eu tinha ali. Mas essa minha teoria se provou uma inverdade logo depois quando percebi algo estranho na barra de tarefas.
Um arquivo com o mesmo nome do do dia anterior, openureyes.avi. "De novo?" Pensei. Dessa vez o vídeo possuía uma duração de tempo um pouco maior, 7 segundos. Abri o arquivo, desta vez, confesso, que com um pouco mais de medo do que de curiosidade. Ainda era possível ler o pequeno letreiro ao fundo que dizia a mesma coisa que no vídeo anterior. Agora era possível ver um pouco mais do que estava na sala em que o vídeo havia sido filmado. O suficiente para saber que a criatura que abria os olhos, estava em um quarto. Suas pálpebras estavam inchadas e avermelhadas. E agora os olhos abertos pela metade. O vídeo terminou num lapso de luz, quando tudo ficou escuro. Excluí novamente o arquivo, mesmo sabendo, no fundo, que aquilo não adiantaria de nada. Ignorei. O resto daquele dia, passei desperdiçando na frente daquele computador que eu mesmo adorava chamar por sucata. Pelo tardar da noite, fui para a cama.
No outro dia, assim que despertei e vi o reflexo do meu rosto no espelho descobri que a situação dos meus olhos estava ainda pior. As pálpebras estavam extremamente inchadas e avermelhadas, os olhos fechados pela metade. Mas eu ainda conseguia enxergar tudo perfeitamente, quem sabe ainda melhor do que antes. "Isso está ficando pior." Eu ainda não sentia nenhum incômodo na região dos olhos. Foi aí que eu parei para associar os olhos da criatura do vídeo do dia anterior com os meus, eles estavam em situações praticamente iguais, sem falar no formato dos olhos que de recordação, me lembro serem ligeiramente iguais. Como de rotina fui ao computador e liguei-o.
Dentre os vários ícones da barra de tarefas, estava aquele arquivo incômodo novamente. Excluí-o diretamente desta vez. E mais outros três ícones com mesmo nome foram criados instantaneamente. Tentei removê-los outra vez, mas para cada ícone que eu tentava excluir eram gerados mais três do mesmo arquivo. "Tudo bem! Desisto! Vou assistir essa merda!" Gritei como se houvesse alguém para me escutar. O vídeo começou com um lapso de luz na escuridão, ao contrário de como o anterior havia terminado. Este possuía 11 segundos. Dava para ver, um quarto muito familiar e um rosto ainda mais familiar. As palavras "open ur eyes" continuavam dançando no painel do fundo. O quarto estava escuro pois a câmera em que o vídeo era gravado parecia ser de uma qualidade muito ruim, como a câmera de um computador já desgastado pelo tempo. Como o quarto estava escuro e a filmagem era péssima, eu não podia ver muita coisa ao não ser o que já descrevi aqui. O vídeo termina com aqueles olhos ainda mais abertos, agora, quase completamente. Deletei os ícones e posteriormente também deletei o arquivo. Continuei fazendo as coisas que costumava fazer todos os dias, até ir dormir.
No dia seguinte, acordei com uma cena um tanto desagradável, ou dependendo do seu ponto de vista não tão desagradável. Meus pais estavam jogados no chão do meu quarto, ensanguentados. No meio do desespero, pude ver, no espelho da parede que meus olhos estavam quase totalmente fechados, mas eu conseguia ver muito bem, mesmo assim. A webcam da sucata velha gravara tudo, durante toda a noite.
Assistindo algumas partes do vídeo, me lembrei do que havia ocorrido na noite anterior. Um laptop novinho me esperava em algum lugar do quarto, junto aos meus dois olhos que eu havia sacrificado. Mas agora, eu tinha outros quatro olhos para oferecer, então poderia pegar os meus de volta.
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Contos de Terror e Horror
HorrorEntre e apague as luzes, eles estão ansiosos para te conhecer.