Capítulo 3

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O som grosseiro de um motor potente chegou junto do amanhecer, despertando-a com facilidade. O céu ainda tinha uma cor escura apesar de o sol já iluminar a terra antes mesmo de surgir no horizonte.

Anne se sentou no sofá da biblioteca, notando que havia pego no sono por lá mais uma vez. Os olhos azuis pousaram sobre a xícara vazia em cima da mesa, ao mesmo tempo em que uma buzina alta e vibrante invadia a casa inteira.

Suspirou, levantando-se de vez e espreguiçando o corpo ainda mole, tratou de sair do cômodo e andar até a porta de entrada.

― Anne! ― Ela arregalou os olhos quando ouviu aquela voz, seguida de mais uma buzinada estrondosa que fez todos os cachorros começarem a latir. ― Anne, acorde!

Os orbes cor de turquesa giraram enquanto abria a porta.

― Já estou acordada, Eliz! ― Teve que gritar por causa dos latidos, conforme a irmã desabrochava um enorme sorriso, fechando a porta do carro e começando uma caminhada ansiosa pelos cascalhos.

Enquanto Eliza andava até a porta, Anne notou a enorme caminhonete que tinha trazido a mais nova até ali.

― Anne! Meu Deus! Eu pensei que tinha me perdido. ― Eliza abraçou a irmã. Os cabelos castanhos presos num rabo-de-cavalo bem feito. Ainda sem entender, a Walch mais velha a abraçou de volta.

― Ainda bem que essa era mesmo a minha casa... ― Foi um pouco seca. ― Porque não me ligou avisando que vinha? Que carro é aquele?

A porta fechou e as duas começaram a andar pela casa enquanto a irmã contemplava a beleza singular da construção antiga.

― Eu nem sabia que vinha. Hoje fiquei sabendo que teria uns dias de folga e simplesmente peguei a estrada, aluguei o carro antes de sair da cidade.

― Mas você deveria ter ido pra casa ficar com-

― Eu sei! Mas sonhei com você essa noite. Foi como um sinal.

Anne parou de andar, subitamente tomada por um nervosismo sorrateiro.

― Que besteira. ― Respigou profundamente. ― Sabe que fico de mal-humor quando acordo desse jeito...

― Mas hoje não vai ficar, porque estou aqui! ― Eliza estava empolgada, andando da cozinha para a sala até a biblioteca enquanto Anne a seguia escondendo a impaciência.

As paredes do grande sobrado eram cremes na parte de dentro e brancas do lado de fora, mas a pintura estava tão velha que quando comprou a casa decidiu não pintar. Anne gostava de pensar que tudo tinha sua memória e que aquelas manchas de mofo e tinta descascada ainda tinham muito a lhe dizer.

― Acho que sim. ― Mais um suspiro vindo da mulher de olhos azuis, diferente da mais nova que não havia herdado a cor vibrante.

Eliza a encarou, parando de andar. As mãos na cintura como se olhasse para o filho.

― O que você tem?

― Sua buzina ainda não está me deixando sorrir, desculpe. ― Foi franca, como de costume.

― Desculpe-me por isso, eu fiquei empolgada e esqueci que você é uma velha ranzinza.

― Eu preciso de um café. ― Anunciou, já exausta.

― Somos duas, peguei estrada por duas horas por você, sabia?

― É verdade... ― A morena se lembrou de que não morava mais tão perto da irmã. ― Você saiu de Dantas de madrugada?

3AM - (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora