Capítulo 21

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       ― Se eu pegar o voo das dez da manhã, talvez consiga...

― Mas ele respondeu?

― Ainda não... ― Sentado na poltrona, com uma porção de anotações espalhadas pela mesa. ― E isso é um pouco assustador.

― Pare de pensar nisso e pesquise, Dave... ― Anne segurava um dos sobrinhos nos braços, brincando com Mike, enquanto Marina se divertia em seu berço espaçoso logo em frente aos joelhos femininos. O chocalho pendurado era uma ótima distração.

― Essa casa inteira estava dentro de um frasco... Isso não pode ser tão normal para você. ― Ele a encarou com sobrancelhas arqueadas. ― Ah, espera. Esqueci que você é a mulher do cara do frasco.

― O nome dele é Charles. E eu gosto desse titulo.

― Você é louca.

― Não desse. ― Walch o fitou de volta, olhos perigosos. ― Eu não sou louca. Já provei que estou falando a verdade.

― Fico me perguntando se não seria melhor se não fosse verdade...

― O que? ― Mike parou de cachoalhar nas pernas firmes, embora ela ainda o segurasse pelos punhos. ― Insinuando que preferiria que eu fosse louca?

― A existência de Charles é de fato um marco na existência... Você tem que admitir que algo parecido com ele nunca existiu ou foi noticiado. Ele é uma entidade que realiza desejos. Na vida real. Não nos livros ou filmes. Na vida real, Anne... Você entende?

― É exatamente por isso que não pode contar pra ninguém.

― Todos naquela delegacia já sabem sobre ele. Eu sei que sabem. E Cage? Um verdadeiro cúmplice... Como você... ― Dave ficou de pé, deixando a pesquisa no laptop de lado para caminhar até a amiga e sentar-se ao lado dela. ― Se Charles se transformasse milagrosamente em humano, e vocês fossem felizes para sempre, seria ótimo. ― O sorriso forçado passou perfeitamente o que o editor queria transmitir. ― Mas pelo visto não é assim. E pensar em você condenando sua vida para passar as madrugadas com seu gênio da garrafa parece maluquice demais...

― Você não pode me impedir em nenhuma das alternativas, Dave. ― Direta e crua, não poderia ser mais transparente. ― Eu preciso que me ajude, pare de tentar me sabotar...

― Eu estou tentando! ― Um pouco mais alta, a voz de Dave se sobressaiu. ― Dentro do humanamente possível. Não me obrigue a aceitar uma situação tão bizarra assim tão rápido, porra!

Ela não respondeu. Lado a lado, não quis encarar o amigo por longos minutos até reunir coragem suficiente para dizer:

― Não quero ficar pra sempre me encontrando com Charles às três da manhã... ― O editor inclinou levemente o rosto, observando a feição feminina de perfil. Os orbes azuis lacrimejavam. ― Eu tenho um último desejo, de qualquer maneira...

― Já parou para pensar que... você pode estar sendo impulsiva... Anne? ― E antes que a loira pudesse rebater, Dave continuou. ― Conheceu essa "entidade" ― Os dedos fizeram aspas. ― há um mês ou algo assim...? Já passou por tanta coisa nesses últimos dias, está quase perdendo a cabeça por isso... O que quero dizer é que... Você tem certeza disso? Tem certeza que esse cara, justo ele, um maldito-

― Gênio da garrafa... ― Ela completou a frase e a lágrima escorreu pela ponte no nariz até pingar no tecido aveludado do macacão de Mike. O sobrinho, calmo, a encarava pensativo. ― Por algum motivo não consigo mais imaginar minha vida sem ele, Dave... Não é um impulso... É... Uma sensação. Algo bem profundo, você sabe como eu sou, eu não..., me apaixono...

3AM - (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora