Prólogo

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Para todas as demais pessoas no Aeroporto Santos Dumont, aquela era apenas uma terça-feira qualquer. A chuva se abatia inclemente sobre a cidade, tornando o trânsito ainda mais caótico para aquele fim de tarde e deixando todos os que aguardavam por seus voos temerosos de um possível atraso.

Para quatro jovens que se acotovelavam junto à enorme janela de vidro, no entanto, era o momento mais aguardado nos últimos dias. Fazia quase um mês que haviam saído de suas casas, em São Paulo, a fim de rodar o país com a terceira turnê da banda "Tormenta" e, embora não pudessem dizer que estavam no topo do mundo, estavam satisfeitos com os resultados. Tudo que desejavam, naquele momento, era voltar para casa e rever seus familiares e amigos.

A banda havia sido montada inicialmente para uma peça de Vagner Lauturo, um produtor musical reconhecido, cansado de lutar com as engrenagens do mundo televisivo. Usando o dinheiro que havia juntado em seus anos de profissão, começou a preparar jovens em canto, dança e interpretação. Apaixonou-se de cara pelos atores de sua primeira turma e decidiu investir em uma peça voltada para o público jovem, contando a história de um grupo de jovens apaixonados por música. Logo, cenas da peça caíram na rede e, quando deram por si, seus rostos estavam estampados por toda a parte.

No início, os alunos se revezavam para compor a banda Tormenta, em torno da qual a trama se passava. Porém, depois do primeiro ano, Lauturo percebeu uma química diferente em cinco deles: a dupla formada pelos orientais Shizuo Honda e Sean Lee, a ruiva Marcela Bordini, a tecladista sisuda Sandra Sabino e o caçula de nome quilométrico - Luiz Aristóteles Felipe Noel - carinhosamente apelidado pelos amigos de Luizinho.

Assim como havia acontecido com o produtor, logo os jovens conquistaram o público e, em menos de um ano, o primeiro CD já havia estourado nas paradas. Satisfeito com o resultado, Lauturo escreveu uma continuação para a primeira peça e, como esperado, a sequência teve ainda mais sucesso que a primeira apresentação. Neste terceiro ano, haviam recebido convites de outros estados e realizado a primeira turnê fora de casa.

- Acham que teremos que passar a noite aqui? - perguntou Marcela, prendendo os cabelos compridos em um rabo de cavalo. - Toda minha família já está reunida para me receber.

- Isso não é exatamente nada demais, considerando que eles provavelmente estão no restaurante da sua família, como fazem todas as noites - implicou Shizuo, também conhecido como Japa, com uma risada de escárnio.

A seu lado, Lee - que atendia por China, apesar de sua ascendência coreana - o acompanhou na risada, antes de ajeitar-se contra o ombro magro e fechar os olhos com um bocejo. A maioria das pessoas achava aquele comportamento esquisito entre dois rapazes, mas, depois de tantos anos convivendo juntos, seus companheiros de palco já estavam mais que acostumados à intimidade entre eles.

Talvez fosse coisa de oriental?

- O que vão fazer quando chegarem? - perguntou Sandra, devorando as batatas-fritas que Shizuo deixara em seu prato. - A gente podia sair pra tomar um chopp...

- Nah, tudo que quero é mergulhar em minha própria cama e acordar apenas na semana que vem! - disse Lee, apertando o amigo nos braços. - E ai de quem ousar me tirar da cama antes disso.

A um canto, Luiz assistia a interação do grupo sem dizer qualquer palavra. Em parte, porque estava igualmente cansado, mas principalmente porque observar seus amigos era, de longe, sua diversão favorita. Talvez a um deles um pouco mais que os demais.

- Lee, Sandra e Marcela - chamou Pascoal, o agente administrativo deles, papel que mais se assemelhava ao de babá. - Já abriu o embarque de vocês.

Em suas mãos (Gay Romance)Onde histórias criam vida. Descubra agora