Capítulo 2

1.4K 126 9
                                    

Em sua inocência de solteiro, Luiz imaginara que segurar Kazuya nos braços seria sua única preocupação nos dias que se seguiriam. Mal podia acreditar no quanto havia se enganado! Aquela coisinha fofa era uma eterna fonte de lágrimas, vômitos e bosta. E ponto.

A cada vez que limpava o traseiro gorducho, que nunca ficava quieto, ele se perguntava que tipo de doença mental Shizuo poderia ter sofrido para escolher, voluntariamente, um trabalho colossal daqueles para sua vida. Ainda mais considerando a criatura preguiçosa e mimada que sempre fora...

Era impossível entender!

Por várias vezes, no decorrer dos primeiros dias, Luiz chegou a considerar a ideia de voltar para o silêncio de seu apartamento, sentindo falta de seus lençóis de algodão egípcio, de sua banheira de hidromassagem e até mesmo de sua bagunça organizada. Porém, ao final do dia, quando Kazuya se acomodava em seus braços, acariciando seu rosto com ar de total adoração, toda sua revolta voava janela afora.

Havia algo de incrivelmente cativante no modo como o bebê o aceitara em sua vida, como não parecia questionar a força com que o abraçava nesses momentos ou mesmo as lágrimas que corriam por seus olhos. Sentia que cuidar de Kazuya havia sido um bálsamo para sua alma devastada. Enquanto estivesse preocupado com mamadeiras, chupetas, carrinhos de bebê, papinhas, entre outras coisas mais, ele não precisava lidar com a triste realidade da perda de seu melhor amigo.

Durante esse tempo, Shizuka se mantivera a seu lado a todo tempo, ensinando e monitorando, mas havia sido ele quem assumira o controle da casa, de fato. Junto com Akemi, havia estabelecido uma rotina em relação a suas atividades, permitindo que ela repousasse o máximo possível. Assim, enquanto ele se ocupava de Kazuya, a filha tentava resolver a parte prática, relativa a contas bancárias, responsabilidades financeiras e, claro, o assédio da mídia.

Suas companheiras de banda também haviam sido fundamentais nesse período. Todos os dias levavam algo para comerem, ligavam para ter notícias ou mesmo os acompanhavam no banho de sol do bebê. Apesar de recebe-las alegremente, a verdade é que, sempre que estavam por perto, podia sentir de forma ainda mais opressiva a falta que Shizuo fazia. Não era raro fechar a porta atrás delas com lágrimas nos olhos, se perguntando como seria capaz de enfrentar mais um dia.

No meio de todo esse furacão, Pascoal entrou em contato com Akemi, solicitando a presença deles no escritório de Lauturo para a leitura do testamento do amigo.

— A minha presença também? Mas... nem mesmo sabia que ele tinha um testamento! — surpreendeu-se, sem conseguir imaginar o motivo para tal.

— Bem, quando vocês foram admitidos na companhia, assinaram uma apólice padrão de seguro, lembra? — a pergunta de Pascoal o fez voltar a anos atrás, quando começava a entrar na adolescência. — Lee e Shizuo, porém, nos pediram orientação quanto a redação de um testamento e tomamos as providências necessárias.

Era estranho imaginar seu amigo tão cheio de vida pensando sobre a própria morte. Não era uma ideia absurda? Até porque, com o nascimento de seu filho, seria natural que tudo fosse imediatamente transferido para ele. Não precisava de nenhum documento para isso, certo?

O escritório de Lauturo era mais um casarão do que um prédio comercial. Em plena Vila Madalena, era cercado de bares e restaurantes e, talvez por isso, pudesse ser facilmente confundido com um deles. Como sempre, encontrou a porta lotada de jovens, alguns deles parceiros de trabalho, outros, ainda aspirantes a atores. Talvez por sua expressão sisuda, a maioria preferiu ignorá-lo, os poucos corajosos oferecendo a ele apenas um sorriso triste. Todos demonstravam curiosidade a respeito do bebê em seus braços, mas ninguém fez qualquer menção de se aproximar.

Em suas mãos (Gay Romance)Onde histórias criam vida. Descubra agora