As primeiras semanas de Luiz em sua nova "família" foram extremamente agitados. Durante o dia, a casa era uma confusão de fisioterapeutas, enfermeiros, faxineiras e, principalmente, dos pais de Sean que queriam se certificar de que seu filho estava bem cuidado e não passava nenhuma necessidade. À noite, quando todos partiam, estavam normalmente estavam tão cansados, que muitas vezes adormeciam no sofá da sala, amontoados um sobre o outro.
Porém, à medida que os músculos de seu líder foram recuperando tônus, gradativamente os profissionais foram sendo liberados, em favor de um pouco de paz e sossego. Sua família também passou a trocar a as visitas frequentes por contatos telefônicos e, quando menos esperavam, estavam isolados pelas paredes do apartamento. Haviam, de certa forma, construído um mundo somente deles, com apenas Sandra e Marcela como embaixadores da vida lá fora.
Em vez de sentir-se mais confortável com a privacidade, Sean parecia se ressentir do excesso de silêncio. Com exceção dos momentos em que brincava com o filho, estava sempre calado, pensativo, perdido em seus pensamentos mesmo quando Luiz e Pascoal o inseriam em uma conversa. Algumas vezes, o caçula percebia que ele fingia cochilar, mas ao invés de cobrar sua participação, apenas o pegava no colo, levando-o de volta para a cama.
Aquela apatia crescente estava deixando Luiz cada vez mais inquieto, o medo de que o amigo revertesse ao estado de imobilidade o assombrava. Às vezes sentia que era ele quem estava prestes a sufocar o mais velho de cuidados, vendo que Pascoal hesitava em ser óbvio demais, mas sequer sabia se aquela era a melhor forma de abordar o problema.
— Tem certeza de que isso não está pronto? Algo me diz que está grudando no fundo... — perguntou Pascoal, olhando por sobre seu ombro. — Sei que não sou muito bom nisso, mas...
Luiz tirou a panela do fogo, depressa. Seus pensamentos quase lhe haviam custado o macarrão ao Chop Suey daquela noite, uma tentativa de tentar o paladar cada vez mais exigente de Sean.
— Acha que ele vai gostar? — perguntou, sorrindo ao girar a colher na panela as cenouras, em forma de flores, boiando no caldo grosso. — Faz tanto tempo que não o vejo sorrir... Isso me consome...
Pascoal o abraçou por trás, encostando o queixo em seu ombro, em uma posição tão íntima quanto a de amantes. Apesar de ser a primeira vez que se via em tamanha proximidade com outro homem, que não Shizuo, a convivência recente fez com que não entrasse em pânico. Amizade já não era uma palavra suficientemente boa para descrever o que tinha com os dois amigos. Aquele abraço era seu porto seguro, a certeza de que não precisava mais tomar tudo para si, que tinha em quem se apoiar.
Não podia dizer o mesmo nem de seus próprios pais.
— Luiz... Pode imaginar o que é para ele tudo isso? A dor que ele está vivendo? — perguntou, com gentileza, tirando sua mão do cabo da colher. — Algo me diz que não será com flores de cenoura que conseguiremos resolver isso.
— Então o que? — perguntou, sentindo as lágrimas correrem. — O que preciso fazer para ajuda-lo a atravessar isso? Toda vez que o vejo encarando o vazio, sinto como se fosse perde-lo novamente. E isso... Isso eu não posso aceitar!
— Não sei, Lu, mas... Se serve de consolo, foi você quem o trouxe de volta a primeira vez — lembrou, beijando seu rosto. — Sei que cuidará bem dele.
O mais novo desligou o fogo e girou, fitando os olhos castanhos com ar confuso. As palavras do amigo se pareciam demais com uma despedida.
— Onde quer chegar com esse discurso? Não está pensando em nos deixar aqui sozinhos, está?
Pascoal deu uma risada rápida, forçada, nitidamente cheia de culpa.
— Não vejo mais motivo para permanecer aqui. O fisioterapeuta de Sean me contou que ele começará a andar, em breve — ele deu de ombros. — Vocês precisam mais de mim.
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Em suas mãos (Gay Romance)
RomanceLuiz Aristóteles Felipe Noel era um nome muito grande, mas ser chamado de Lu pelo melhor amigo não era muito melhor, em comparação. Jamais imaginara que, apesar de toda sua implicância, seria nele que o amigo pensaria na hora de deixar a guarda de s...