Capítulo 6

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As primeiras semanas de Luiz em sua nova "família" foram extremamente agitados. Durante o dia, a casa era uma confusão de fisioterapeutas, enfermeiros, faxineiras e, principalmente, dos pais de Sean que queriam se certificar de que seu filho estava bem cuidado e não passava nenhuma necessidade. À noite, quando todos partiam, estavam normalmente estavam tão cansados, que muitas vezes adormeciam no sofá da sala, amontoados um sobre o outro.

Porém, à medida que os músculos de seu líder foram recuperando tônus, gradativamente os profissionais foram sendo liberados, em favor de um pouco de paz e sossego. Sua família também passou a trocar a as visitas frequentes por contatos telefônicos e, quando menos esperavam, estavam isolados pelas paredes do apartamento. Haviam, de certa forma, construído um mundo somente deles, com apenas Sandra e Marcela como embaixadores da vida lá fora.

Em vez de sentir-se mais confortável com a privacidade, Sean parecia se ressentir do excesso de silêncio. Com exceção dos momentos em que brincava com o filho, estava sempre calado, pensativo, perdido em seus pensamentos mesmo quando Luiz e Pascoal o inseriam em uma conversa. Algumas vezes, o caçula percebia que ele fingia cochilar, mas ao invés de cobrar sua participação, apenas o pegava no colo, levando-o de volta para a cama.

Aquela apatia crescente estava deixando Luiz cada vez mais inquieto, o medo de que o amigo revertesse ao estado de imobilidade o assombrava. Às vezes sentia que era ele quem estava prestes a sufocar o mais velho de cuidados, vendo que Pascoal hesitava em ser óbvio demais, mas sequer sabia se aquela era a melhor forma de abordar o problema.

— Tem certeza de que isso não está pronto? Algo me diz que está grudando no fundo... — perguntou Pascoal, olhando por sobre seu ombro. — Sei que não sou muito bom nisso, mas...

Luiz tirou a panela do fogo, depressa. Seus pensamentos quase lhe haviam custado o macarrão ao Chop Suey daquela noite, uma tentativa de tentar o paladar cada vez mais exigente de Sean.

— Acha que ele vai gostar? — perguntou, sorrindo ao girar a colher na panela as cenouras, em forma de flores, boiando no caldo grosso. — Faz tanto tempo que não o vejo sorrir... Isso me consome...

Pascoal o abraçou por trás, encostando o queixo em seu ombro, em uma posição tão íntima quanto a de amantes. Apesar de ser a primeira vez que se via em tamanha proximidade com outro homem, que não Shizuo, a convivência recente fez com que não entrasse em pânico. Amizade já não era uma palavra suficientemente boa para descrever o que tinha com os dois amigos. Aquele abraço era seu porto seguro, a certeza de que não precisava mais tomar tudo para si, que tinha em quem se apoiar.

Não podia dizer o mesmo nem de seus próprios pais.

— Luiz... Pode imaginar o que é para ele tudo isso? A dor que ele está vivendo? — perguntou, com gentileza, tirando sua mão do cabo da colher. — Algo me diz que não será com flores de cenoura que conseguiremos resolver isso.

— Então o que? — perguntou, sentindo as lágrimas correrem. — O que preciso fazer para ajuda-lo a atravessar isso? Toda vez que o vejo encarando o vazio, sinto como se fosse perde-lo novamente. E isso... Isso eu não posso aceitar!

— Não sei, Lu, mas... Se serve de consolo, foi você quem o trouxe de volta a primeira vez — lembrou, beijando seu rosto. — Sei que cuidará bem dele.

O mais novo desligou o fogo e girou, fitando os olhos castanhos com ar confuso. As palavras do amigo se pareciam demais com uma despedida.

— Onde quer chegar com esse discurso? Não está pensando em nos deixar aqui sozinhos, está?

Pascoal deu uma risada rápida, forçada, nitidamente cheia de culpa.

— Não vejo mais motivo para permanecer aqui. O fisioterapeuta de Sean me contou que ele começará a andar, em breve — ele deu de ombros. — Vocês precisam mais de mim.

Em suas mãos (Gay Romance)Onde histórias criam vida. Descubra agora