Primeiro Capítulo

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"Seria possível que aquele em seus braços fosse o filho de seu melhor amigo?", perguntava-se, enquanto encarava a miniatura de Shizuo que estava por demais distraído em mastigar a própria mão gorducha para estranhar seu colo, como a maioria dos bebês. Estava tão absorvido por sua dúvida que só se deu pela presença de Mei, irmã de Lee, quando ela tomou o bebê de seus braços, tirando-o do transe.

— Kazuya, meu pequeno! — choramingou, beijando os cabelos negros e eriçados. — Titia sentiu tanto sua falta!

Uma única frase, uma única sentença e Luiz finalmente veio abaixo. Não era pela morte de seu amigo que desabava, mas pelo fato de ter escondido dele algo como aquilo. Como pudera? O que teria feito para merecer tamanha desconfiança.

Como se lesse seus pensamentos, a mãe de Shizuo aproximou-se, sentando a seu lado.

— Não o julgue, Luiz... Nunca foi a intenção de Zuo magoar vocês – pediu, segurando seu queixo para força-lo a encará-la.

— Me desculpe por isso, tia... Sei que não é o momento para me preocupar com isso agora, mas... – ele a fitou, desesperado. — É verdade, não é? Ele é filho de Shizuo?

— Primeiro, chame-me de Shizuka. Não sou tão velha assim, Luiz! – pediu, com um sorriso, antes de virar-se para a mãe de Lee. — E Zuzu é também filho de Sean, o que torna essa história longa demais para um momento como...

Ao vê-la desabar, a mãe do líder do grupo correu para abraça-la, derramando com ela suas próprias lágrimas. Luiz arriscou olhar para as amigas e não pôde evitar sentir-se mais aliviado ao ver que sua surpresa estava igualmente espelhada em seus rostos.

Não sabia como se sentiria se tivesse sido o único a ter sido mantido no escuro.

— Sempre imaginei que estivessem juntos, mas... Um filho? — perguntou Marcela, fitando o bebê com ar de espanto. — E ele é uma cópia de Shizuo!

— Prometemos contar tudo a vocês depois, mas... No momento...

Os dois assentiram e se afastaram, não querendo interromper um momento tão delicado.

— Luiz! Não vá embora, por favor — chamou Mei, enquanto tentava acalmar um Kazuya irritado. — Shizuka saiu de casa meio atordoada, precisamos de fraldas e comida para o bebê. Poderia ir comigo à farmácia? Ele está tão gorducho que não aguento mais ficar muito tempo com ele nos braços.

Ele assentiu, um tanto surpreso por ser escolhido para algo do tipo quando normalmente era para Marcela que corriam em situações como aquela. Porém, ao ter o pequeno novamente em seus braços, esqueceu-se completamente do resto. Como se o reconhecesse, ele parou de chorar, encarando-o com ar curioso.

— Sabia! — disse, com um sorriso triste. — Percebi desde cedo que ele havia gostado de você. Isso é tão difícil!

— Difícil? — perguntou, incrédulo. — Sou sempre aquele de quem os bebês não gostam...

Ela deu de ombros, mexendo na bolsa infantil enquanto seguia pelos corredores do hospital como se soubesse exatamente onde ia.

— Crianças nunca são uma ciência exata, acredite. Tenho três e cada um é tão diferente do outro, que às vezes me pergunto se não foram trocados na maternidade...

Ele riu baixinho, puxando o capuz sobre a cabeça pequena ao ver que ainda estava muito frio lá fora.

— Não seria melhor deixa-lo aqui? — perguntou, duvidoso. — Não sei se esse frio irá fazer bem pra ele...

— Acho que ainda é melhor do que mantê-lo nesse clima fúnebre — explicou, parando em frente a porta e retirando um pedaço de pano de dentro da bolsa.

Em suas mãos (Gay Romance)Onde histórias criam vida. Descubra agora