CONTO 1 - COM CARINHO, HENRY PHILIPS

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Talvez alguém tenha percebido que eu mudei o nome do conto... Então vou explicar o que realmente aconteceu.

A grande coisa sobre escritoras é que elas são imprevisíveis. Para que textos sejam escritos, depende do dia dessa pessoa, do momento, do que ela sente, do que ela quer, enfim, de muita coisa. Quando eu me sentei e comecei a escrever sobre o Henry - estou falando sério, então sem risadas - o conto e o próprio personagem me levaram para uma coisa que eu não tinha planejado. Uma carta.

Eu pensei, pensei, pensei e por fim decidi que talvez ficasse bom. Espero que tenha ficado mesmo.

Nessa carta, escrita para alguém que não conhecemos, Henry vai falar um pouco dele e da infância - não muito, porque os filhos dos bruxos da Horda cresceram treinando, sem mais - de William Hãnsel, Alexis Miller e como ele está depois do que aconteceu - depois que TUDO aconteceu.

De novo, espero que gostem.

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''Meu caro e velho amigo,

Fico feliz por saber que está bem e por receber notícias de sua vida fora de Owens. Bem, sei que demorei a lhe mandar essa carta, mas sua frase ''Sei tudo o que aconteceu'' e as perguntas sobre mim, me deixaram reflexivo e tive que pensar mais do que alguns minutos para enfim escrever essas palavras. Espero que entenda.


Vermelho sempre foi uma cor com um duplo significado, sabe. Há pessoas que a levam para o lado do ódio, sangue e rancor. E ainda pessoas que dizem o contrário – ''Vermelho é amor'' eles gritam. Gosto de pensar que meus cabelos representam um pouco disso em mim. O fato de metade do que eu sou estar com as mãos sujas de sangue pela morte e a outra metade ser as coisas boas que acredito que tenho também.

Desde que nasci minha vida se resume a treinar – para ser importante, para decidir algo. Cresci sabendo que minha vida tinha responsabilidades demais para que meus ombros pudessem carregar, mas permaneci firme. Até porque eu não era o único que se sentia assim - pelo menos Ashley, Jessica, Brad e os outros deveriam ter os mesmos sentimentos. Quando se cresce sabendo que um erro seu pode custar muito mais do que uma consciência pesada, você apenas para e pensa se realmente pode se dar ao luxo de ser uma pessoa normal e acertar-errar-acertar-errar nessa eterna rotina que acho que se baseia o aprendizado.

Nunca me permiti errar. Nunca quis errar.

Meus pais eram importantes para mim e o que eles sentiam sobre a pessoa que me tornei também era. Acho que, refletindo agora, esse deve ter sido um dos motivos para William, sim, sim William Hãnsel – você o conhece, estou certo - nunca gostar de mim e vice-versa. Hãnsel sinceramente achava que tudo o que se tinha que fazer era viver, errando ou não, independente de nada. Isso sempre me irritou. Ashley me disse uma vez para eu deixar isso para lá, porque William se comportava assim pela Maldição que carregava - sempre buscando achar que todo mundo tinha que aproveitar a vida do melhor jeito e pronto. Não achei que isso fosse compreensível, como Ashley achava. Ele tinha que ser um idiota porque estava morrendo?

Quando minha fase infância-treino acabou e a dos meus amigos também, nossos pais nos juntaram em um grande grupo. Eles, detalhadamente, nos explicaram o que estava acontecendo com Owens a muito tempo. Cada mãe e cada pai começou a dizer para cada filho que eles seriam uma Horda do futuro que deveriam e teriam que acabar com uma coisa que ia contra nossos princípios bruxos. Quer dizer, crescer sendo um ser temido e sobrenatural já era bem difícil, mas ai ter que salvar uma cidade? Isso foi um pouco demais para garotos que estavam saindo das fraldas praticamente. Só que eu aguentei firme. Mesmo com as pernas tremendo. Assim como todo mundo. Naquele dia, foi a primeira vez que tive a consciência de eu realmente não poderia errar.

O Garoto Da Última CasaOnde histórias criam vida. Descubra agora