17 - Chantagem!

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O jantar nem foi tão tenso como imaginei que seria. Foi até que divertido, posso arriscar a dizer. Assim que terminamos a sobremesa todos nós fomos para a sala tomar o essencial cafezinho após as refeições.
Meu pai e meus avós travaram uma conversa sobre a fazenda e minha mãe apenas os olhava. Sempre dizem que a sogra que é a chata, mas aqui é o contrário. Minha mãe é a pior nora de todos os tempos.
- Não está com saudade do pessoal não? - Léo perguntou me cutucando com o cotovelo. Desde que nos sentamos aqui na sala é a primeira vez que ele dirige a palavra a mim.
- Bastante. Eles devem estar aprontando todas. Essa é a primeira vez que todos curtem as férias sendo maiores de idade.
- Semana passada, a Rapha acordou no motel com aquele Roni. - Ele disse rindo. Rapha é uma das minhas melhores amigas e Roni não sei quem é.
- Quem é Roni?
- Aquele nerd, de nariz estranho, que usava sempre a camisa do super-homem.
Soltei uma gargalhada, aposto que ela estava bêbada pra ir parar na cama com um cara feito o Roni. Tinha me esquecido como é bom, conversar com o Léo. E por mais que esteja gostando da Fazenda e do Daniel, estou sentindo falta de dançar loucamente, de aprontar com meus amigos, de varar a noite dando voltas de carro e cantando da forma mais desafinada possível. Esses pensamentos me deixaram um pouco melancólica. Resolvi que essa seria a hora ideal de ir para meu quarto.
- Eu vou subir. Boa noite Léo. - Disse me levantando. Ele segurou minha mão e me olhou de um jeito fofo.
- Estou feliz, por estarmos bem de novo, mesmo que eu queira ser bem mais que seu amigo.
- Não força a barra.
Me virei e fui para o quarto. Vesti minha camisola e me deitei para ler um pouco.
Minha imaginação voou, mas logo meus devaneios foram espantados pela batida exagerada na porta. Só pode ser uma pessoa: Minha mãe.
Abri a porta e voltei para a cama.
- Podemos conversar? - Lídia perguntou se mantendo de pé no meio do quarto.
- Não tenho outra escolha... Então vamos lá! O que você tem para falar? - Eu só queria que esse papo terminasse o mais rápido possível.
- Eu poderia simplesmente entrar aqui e te mandar fazer exatamente o que quero, mas sou uma boa mãe e vou te explicar a situação toda e você logo entenderá. - Disse de forma exagerada. Ela poderia simplesmente me mandar, mas esqueceu que eu posso simplesmente não a obedecer. Tão simples neh?!
- Escuta Mari, o escritório do seu pai prestava serviço para uma grande construtora, mas recentemente por conta de um desafeto, essa parceria foi quebrada. A maior parte dos nossos lucros viam exatamente dessa construtora, e agora os pais do Léo fecharam uma sociedade com eles e prometeram contratar os serviços do seu pai novamente, mas com uma condição: Que você volte a namorar o Léo.
Se não estivesse sentada fatalmente cairia. Não acredito no que escutei. Essas pessoas só podem estar enlouquecendo. Onde já se viu colocar no meio de negócios minha vida amorosa? E mesmo se meu pai não voltasse a trabalhar com essa construtora, nós não iríamos passar dificuldade alguma, não vejo motivos para ceder a essa chantagem barata.
- Eu não vou voltar com o Léo mãe. Ainda sinto uma mágoa por tudo o que aconteceu, e sem dúvidas não o amo mais. - Disse de forma calma, com receio de sua reação.
- Como assim não vai voltar com ele? Mariana, é para ajudar a sua família. - Me olhou dramaticamente.
- Até parece que vamos morar debaixo da ponte se o papai não voltar a trabalhar com esse pessoal.
- Não vamos, mas nosso padrão de vida irá cair. Faça pelo menos uma vez na vida algo que preste garota. Me de orgulho uma vez...
Meus olhos se encheram de lágrimas. Tudo o que fiz na vida foi pensando que daria orgulho a ela e em troca ganharia um pouco de amor, mas pelo visto meus esforços foram em vão. Eu poderia aceitar isso só para deixá-lá feliz, mas e quanto a Daniel? Voltar com o Léo, significaria voltar mais cedo para cidade, e eu não quero isso.
- Não posso mãe... não posso voltar a namorar o Léo. - Sussurei.
- Você não sabe como me arrependo de ter tido você. Um filho homem não mediria esforços para ajudar a família, mas você é uma imprestável mesmo. Só serve para dar problemas. - Após terminar seu discurso deu as costas e bateu a porta. Corri para tranca-lá e só então me deixei chorar. Não acredito que ela teve coragem de falar aquilo tudo. Caramba eu sou filha dela, aquilo foi crueldade.
Chorei até começar a ficar com falta de ar, mas ainda assim era como se um punhal fosse fincado em minhas costas. Fui até a janela em busca do ar fresco da noite, e acabei ficando olhando o céu estrelado. Aos poucos meu choro foi cessando, e então no meio da escuridão vi os faróis de um carro. Apertei bem os olhos e reconheci a caminhonete de Daniel. Aposto que ele foi atrás de Drica. Quer dizer que já fez sua escolha. Ela, e não eu.
Solto um longo suspiro e volto para a cama. O que me resta é tentar dormir e esquecer um pouquinho da tristeza que parece ser infinita.

Mudança de Ares [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora