Mudança de Ares [Completo]

20 - Mentiroso!

- Bom Dia Mari! - Disse minha avó toda animada como sempre, o que me fez esquecer o olhar mortal de minha mãe.
- Bom dia... - Respondi me sentando a mesa. Não estava afim de conversar. Na verdade eu estava sim, mas queria conversar com alguma amiga da mesma idade que eu, pra poder contar como minha noite tinha sido incrível, pena que não posso falar com Lara. Ia ser bizarro eu falar sobre minha transa com o irmão dela.
- Ta corada, parece que a noite de sono foi ótima.-  Foi a vez do meu avô falar. Acho que fiquei mais corada ainda depois de seu inocente comentário.
- Pois é...Tive um sono bem tranquilo.-  Sorri sem jeito.
- Tranquilo nada. Passei enfrente a seu quarto quando estava indo para a cozinha e escutei um monte de gemido, sussurro. Até bati na porta, mas você não escutou.-  Léo disse tranquilamente. Eu quase engasguei com meu suco. Esse papo de como eu dormir, de como foi minha noite ta me deixando nervosa.
- Vou pegar mais bolo na cozinha. Alguém quer? - Perguntei me levantando sem esperar por resposta.
Caminhei para a cozinha e assim que cheguei a porta escutei algo estranho, que me fez parar. Escutar conversa alheia é errado, mas ficar na curiosidade no meu ponto de vista é pior ainda.
- Essa história de casamento está muito estranha.-  Falou Thiago. Que casamento? Do que eles estão falando?
- A Drica não podia ter falado isso assim sem preparar a gente. Agora ela ta lá fora com Daniel. - Disse Rita, com tom de reprovação. Fiquei meio tonta. Eu não posso ter escutado isso. Eles vão se casar? Drica e Daniel? Mas ele tinha me falado que eles terminaram. Não é possível que só disse aquilo para me levar pra cama.
Dei meia volta e passei pela sala de jantar. Agradeci por estarem entretidos e não me verem ir em direção ao lado de fora da casa. O dia estava cinzento, ventava um pouco, e uma chuva fraca  deixava tudo mais melancólico. Ignorei os aspecto do dia e segui para o estábulo. Eles devem estar por lá.
A grama molhada fazia meus chinelos escorregarem, eu deveria ter colocado minhas botas, mas também eu não poderia imaginar que sairia da mesa de café direto para cá. Daniel disse que não iria me trair na manhã seguinte. Ele não pode fazer isso comigo. Não pode.
- Olá Mari! - A voz feminina me fez erguer o olhar que estava preso em meus pés. Drica.
O sorriso triunfante que ela trazia fez minha mão se fechar, pronta para soca-lá.
- Cadê o Daniel? - Perguntei me controlando.
- Por aí, mas esquece um pouquinho ele, tenho uma novidade e como estou de bom humor vou contar para você.-  Disse dando um passo me minha direção.
- Eu não estou interessada.
- Calma, você vai gostar. Eu e Daniel vamos nos casar. - Disse mais sorridente ainda. Isso tem que ser mentira. Ele me disse, que tinha se separado dela.
Não consegui falar nada. Diante do meu silêncio ela continuou: - A gente vai se casar o mais depressa possível. Ontem ele foi lá em casa, pediu minha mão, depois saiu pra comemorar a despedida de solteiro de uma vez. Aposto que ele pegou a primeira vadiazinha que apareceu pela frente.
   Meu sangue pulsava acelerado pelas minhas veias. A raiva crescia.
- Ele te procurou não foi Mari? - Ela perguntou com uma risadinha cínica. Desviei o olhar para não deixa-lá ver uma primeira lágrima escapar.- Confessa Mari, ele te levou pra cama não foi? Aposto que falou que tinha terminado comigo, só pra te levar pra cama. Não foi?
   Foi a gota d'água, as lágrimas começaram a descer. Ela não estava mentindo. Ele fez tudo o que ela estava falando. Não acredito que fui pra cama com um idiota de novo.
- Cala boca Drica.-  Falei me segurando para não deixar um monte de palavrão sair. Olhei por cima do ombro dela, e vi Daniel ao longe nos observar. Mentiroso. Ele começou a andar em nossa direção, eu não iria suportar escutar nada vindo dele.
- Mari! - Ele me gritou, mas o que fiz foi sair correndo em direção a casa. Que ódio dele, ódio de ter me feito acreditar que dessa vez seria diferente.
Corri até a sala e parei quando vi meus pais. Minha mãe me olhou indiferente. Mas isso vai mudar agora, ela vai me olhar de outra forma.
- Tudo bem mãe. Eu aceito.-  Disse decidida.
- Do que você está falando garota? - Perguntou colocando de lado a revista de moda que lia a pouco tempo atrás.
- Eu vou voltar com o Léo, pro papai ter o contrato com a tal construtora, e você ter orgulho de mim. -  Falei enxugando algumas lágrimas. E pela primeira vez na vida vi minha mãe sorrindo verdadeiramente pra mim.
- Que ótimo Mari.-  Ela veio e acariciou meu ombro.-  Agora eu senti orgulho de você.
Se eu não estivesse tão triste por Daniel se casar com outra, esse seria o momento mais feliz da minha vida.
- Mas tenho uma condição... Quero voltar ainda hoje pra casa.
- O que ta rolando? - Léo perguntou aparecendo de repente na sala. Minha mãe olhou rapidamente pra ele, mas logo  voltou a atenção para mim.
- Ok. Eu aceito essa condição, mas agora é com você filha. Reate o namoro.  - Depois de dizer isso voltou a se sentar no sofá. É isso o que vou fazer. Reatar.
- Léo você ainda quer voltar a namorar comigo? - Perguntei direta. As palavras saíram queimando minha garganta.
- Lógico.-  Disse se aproximando de mim, mas com um pequeno v se formando entre as sobrancelhas mostrando que estava um pouco confuso. Eu não o culpo por isso.
- Ótimo. A partir desse momento voltamos a ser um casal de namorados.
    Essa era a coisa certa a se fazer. Meus pais ficaram contentes e o Léo também. Um dos motivos de não ter aceitado isso antes, foi acreditar que Daniel era diferente e que teríamos algo, mas me enganei.
Passos fortes me fizeram olhar para a porta. Foi aí que vi Daniel. Parou por alguns segundos me olhando tão próxima a meu ex/atual.
Ele me fez de boba, me levou para cama, e vai se casar com outra, agora não importa mais nada. E foi com olhar confuso e falso dele me analisando que beijei Léo.