16 - É ela ou Eu!

1K 103 6
                                    

Daniel estava apoiado nas réguas do piquete, onde um cavalo novo dava incansáveis voltas. Me aproximei sem dizer nada, e fiquei olhando o animal.
- Ei, como você está? - Daniel segurou meu queixo me obrigando a olha-lo nos olhos.
- Com raiva... triste. - Respondi desviando o olhar.
- Sinto muito... - Sussurrou e beijou minha testa.
- Posso te pedir um favor? - Ele balançou a cabeça concordando. - Cela o Relâmpago pra mim. Quero ir até o lago e pensar um pouco.
- Tudo bem se eu for junto?
- Tudo bem, - Eu sabia que ele iria se oferecer para me acompanhar. As vezes ele é muito protetor. E até que eu gosto disso.
Fomos direto para o lago. Assim que desci de Relâmpago fui para uma sombra. Uma das coisas que aprendi a gostar aqui na fazenda é me deitar e ficar olhando o céu, mesmo que por entre as folhas das árvores. É como se ele me desse a paz e a força que preciso em cada momento.
- Você já conversou com aquele cara? - Daniel quebrou o silêncio.
- Ainda não.-  Respondi sem muito ânimo.
- Mari olha para mim, você ainda gosta dele?
Realmente olhei para Daniel, não porque ele mandou, mas sim porque a pergunta me pegou desprevenida. Não. Eu não gosto do Léo, mas porquê ele quer saber isso?
- Não... Por quê esta me perguntando isso?
- Sei lá. Eu não quero que você sinta nada por outro cara que não seja eu.
   Não pude acreditar no que estava  ouvindo. Não que eu não tenha gostado - eu gostei, mas por um lado, eu fiquei irritada, ou melhor magoada. É um pouco egoísta o que ele falou.
- Como assim você não quer que eu sinta nada por outros caras? - Me levantei rapidamente.
- Não gosto da ideia de você querer outra pessoa. Simples assim. - Ele me encarou. E fala sério, não é tão simples assim não.
- Eu também não quero que você sinta nada por outras garotas... no entanto tem a Drica no meio dessa história.- Eu estava praticamente gritando e eu odeio não conseguir controlar meus sentimentos desse jeito. Respirei fundo. -Daniel eu estou apaixonada por você... como nunca estive na vida. Essa situação de ficar as escondida, está me matando. Nunca pensei que iria dizer isso, mas é ela ou eu. Tome uma decisão.
Me virei de costas e peguei Relâmpago. Daniel não veio atrás de mim, acho que ficou pensando no que eu disse. É um pouco egoísta da parte dele querer que eu só tenha olhos para ele, sendo que namora com aquela garota.
Estava confusa de mais, é muita emoção para uma manhã só.
Chegando em casa subi as escadas de dois em dois degraus. E quando pensei que poderia simplesmente entrar em meu quarto e me jogar na minha cama, o Léo se materializou bem em minha frente. Revirei os olhos e ele riu. Sempre achou engraçado quando eu fazia isso.
- Podemos conversar Mari? - Perguntou com aquela voz meio rouca.
- Sério, não estou afim...
- Por favor, sei que fui um idiota, mas vamos conversar em nome da nossa velha amizade.
   Ok, ele foi um idiota mesmo, mas sempre fomos amigos, e acho que realmente precisamos conversar.
- Tudo bem, mas se você tentar me beijar, vou ser obrigada a te dar outro tabefe. - O olhei da forma mais ameaçadora possível, e abri a porta do quarto. Me acomodei na cama e tornei a encara-lo.
- Pode começar explicando como você pode ter sido tão babaca e me trair daquela forma... - Falei amargamente.
- Eu sei que fui um idiota. Eu gostava de você, e ainda gosto, mas quando a Soninha apareceu lá em casa, deixei os hormônios falarem mais alto. Sinto muito mesmo. Me desculpa...
- Pedidos de desculpas não vão apagar a dor que senti naquele dia...
- Eu sei Mari, mas eu me arrependi. Sinto falta de você, de como nos divertiamos. Sinto falta dos seus beijos, desse seu jeitinho maluquinho. E agora sua mãe apoia a gente, vamos poder viajar só nós dois sem problemas..
- Para Léo. Não existe mais "nós dois". Eu não vou voltar com você. Posso até te desculpar, mas não vou esquecer isso nunca. Ainda não entendi essa mudança repentina da minha mãe, mas não importa.
- Tudo bem... Me desculpa mais uma vez. Acho que poderíamos pelo menos voltar a sermos amigos? - Me olhou de lado.
Quando voltar para a casa, vamos nos ver com mais frequência. Participamos do mesmo grupo de amigos, nossos pais tem negócios, acho que voltarmos a sermos amigos, seria bom, evitariamos muitos constrangimentos.
- Ok. Amigos podemos ser.
- Legal. Sua mãe disse que queria falar com você sobre nós dois. Então se prepara. - Ele sorriu e foi em direção a porta.
Esse dia parece que não vai acabar nunca. Cada hora é um problema diferente.
Pensando que logo teria de enfrentar outra conversa difícil, resolvi tirar um cochilo. Fui me deitar muito tarde, e acordei pouco tempo depois com Daniel atirando pedrinhas em minha janela. Exausta me define.

Quando acordei  já era noite. Respirei fundo e me levantei. Tomei uma rápida ducha e desci. Meus pais estavam na sala e assim que me viram se puseram de pé. Ah não... Eu estou com fome demais para conversar.
- O jantar ainda não está pronto Mari, e queríamos aproveitar para conversar com você. - Falou meu pai visivelmente desconfortável. O que raramente acontece.
- Por mais que seja importante, eu não quero conversar agora. O dia foi muito cansativo e minha cota de conversas importantes foi esgotada... - Disse me jogando no sofá. Minha mãe franziu o cenho e se controlou para não brigar comigo. O que é muito estranho pois ela não pensa duas vezes antes de colar o fumo em mim.
- Você pelo menos falou com o Léo? - Perguntou ela entre os dentes.
- Sim. Nós nos acertamos.
- O quê? Que maravilha minha filha.
    Olhei para ela com a boca aberta. Quem é essa? Sem dúvidas não é minha mãe.
- Ok. Isso está muito estranho. Quem é você e o que fez com a minha mãe?
- Pare de bobeira Mariana. A Lídia só está feliz por você ter voltado com seu namorado. - Meu pai falou.
- Sinto muito, mas quando disse que nós nos acertamos. Eu quis dizer que não estamos mais brigados, mas somos apenas amigos.
Foi só eu terminar de falar que a alegria estampada nos olhos de minha mãe desapareceu, dando lugar ao olhar de desprezo que sou acostumada.
- O jantar está pronto. - Minha avó anunciou, e minha mãe passou como um foguete.
- Você nunca faz nada que preste. - Rosnou.
- E a velha dona Lídia está de volta...- Cantarolei seguindo para a mesa de jantar.
Essa situação toda está muito estranha. Porque tanto interesse no meu relacionamento com o Léo? Algo está errado. Provavelmente na conversa que teremos mais tarde, vou descobrir o que está acontecendo.

Mudança de Ares [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora