Mudança de Ares [Completo]

14 - Daniel!

Daniel Narrando:

Eu tentei dormir, mas não passou de uma tentativa. Minha cabeça está fervilhando. Mariana impregnou minha mente de uma forma inacreditável. Hoje escutando dona Neila contar histórias sobre ela, percebi o quão errado a julguei.
Fecho os olhos, e imagens daquele sorriso travesso e daquele olhar desafiador vem em minha cabeça, viro para o outro lado e a discussão com Drica volta a me atormentar. Está difícil essa situação, não queria estar  traindo ninguém, mas não posso simplesmente jogar um namoro de anos pelos ares, para viver algo que não sei se tem futuro.
Me levanto e vou até a cozinha beber um pouco de água, volto e me sento na sala. Fico olhando uma foto de quando era pequeno e estava indo com meu pai até o alto do pasto ver o dia nascendo. Foi uma das coisas mais bonitas que já vi na vida, e repentinamente me deu vontade de repetir o ato, e já sei quem eu vou levar comigo.
Tiro a calça de moletom e me enfio em meu velho jeans. Visto uma camisa e sigo para a casa grande.
Encaro a janela por alguns minutos, e um arrepio me percorre, eu deveria ter vestido uma blusa de frio também, pensei comigo mesmo.
- Mariana? - Chamei algumas vezes, e não obtive sucesso. Não posso gritar, ou serei pego aqui, e não estou afim de dar explicação de meus atos para ninguém. Então uma ideia me ocorreu. Como nos filmes de romance que minha irmã costuma assistir, catei algumas pedrinhas do chão e comecei a atirar.
Não demorou muito, até que a vi aparecer na janela, toda descabelada, mas ainda assim conseguia estar linda.
- Daniel? Está fazendo o que aqui? - Perguntou com voz de sono.
- Shhh! - Fiz sinal para ela falar baixo. - Desce aqui.
- Quê? Descer? Não. Está louco?
Ela é quem sempre apronta, e se joga, e agora eu que sou louco. Vai entender essas mulheres.
- Anda Mari desce. Você não vai se arrepender.
Um sorriso sedutor apareceu e ela saiu da janela. Fui para a varanda espera-la. Pouco tempo depois, ela apareceu em uma calça jeans justa, e com uma blusa fina de frio na cor preta. Pra piorar a situação notei que ela não usava sutiã. Essa garota vai me matar.
- Não sei quem é o mais louco, você de vir aqui a essa hora, ou eu de sair debaixo das cobertas a essa hora. - Disse sorrindo.
- Vai valer a pena. Agora vamos! - Peguei em sua mão.
- Pra onde?
- Você faz muitas perguntas. Quando a gente chegar você vai ver.
- Ah estou com muito sono pra andar. - Disse fazendo manha.
- Então sobe aí, - virei, indicando minhas costas. - eu te levo.
E sem pensar duas vezes, passou as pernas ao redor da minha cintura e os braços ao redor do meu pescoço.
Mariana não era tão pesada, mas subi o morro com ela em minhas costas não foi umas das coisas mais fáceis que fiz, mas foi bom sentir a respiração dela rente minha nuca.
Ao chegar ao topo do pasto, fui para debaixo da solitária árvore que existia ali. Era uma Cinco folhas. O motivo desse nome, é  porque em cada galho encontramos cinco folhas.
Me sentei no chão encostado no tronco, e coloquei Mari entre minhas pernas.
- Então era aqui que queria me trazer? - Perguntou encaixando a mão na minha.
- Sim. Trouxe você para ver o sol nascendo, mas vamos ter que esperar.
Do alto do pasto víamos montanhas a sumir de vista, que pouco a pouco ficavam mais claras. A fazenda parecia pequena olhando dali, como se fosse de brinquedo.
- Daniel? Posso te fazer uma pergunta?
- Até duas se quiser. - Respondi e escutei um risinho escapar.
- Por que você tem tanto ódio de garotas... garotas...  patricinhas?
  Respirei fundo, esse era um assunto muito pessoal, mas ela se abriu comigo, contando sobre o ex que a traiu, então acho que posso contar.
- Por que eu sofri muito por conta de uma. Eu a amava de forma verdadeira, e pra ela era só uma diversão, compromisso sério era só com um rapaz que tivesse grana.
- Essa garota é uma idiota. Tantas sonham por aí com um cara lindo como você, que as amasse de verdade, e essazinha aí preferiu um cara só por dinheiro. É muita idiotice.
   Mariana falou rapidamente, e não pude deixar de sorri. Comecei a beijar seu pescoço e quando estava pronto para virar o corpo dela para que pudéssemos nos beijar melhor, ela soltou um gritinho alegre e apontou para o horizonte.
- Os primeiros raios de sol!!! - Disse duas vezes.
Acomodou- se em meu peito e ficou olhando o sol saindo por trás das montanhas.
Passamos um bom tempo em silêncio, ela admirando cada detalhe da paisagem e eu apreciando o perfume em seu pescoço. Quando o sol já tinha saído por completo, voltamos a conversar, e acabamos perdendo a noção do tempo.
Acho que ficaríamos ali por muitas horas sem verificar o relógio, se o estômago de Mari não nos assustasse.
- Eu estou com fome... - Ela disse colocando a mão na barriga.
- Deu pra perceber... - Olhei o relógio e vi que já eram nove horas. - Nossa já é tarde, a gente precisa ir. - Falei me levantando e a puxando junto.
- Que Saco, aqui estava tão bom...
- É, eu sei. Prometo que te trago aqui outra vez. - Beijei seus lábios e peguei sua mão, para irmos embora.
- Promessa é dívida, e eu vou cobrar! - Retrucou com seu sorriso travesso. Esse está sendo o meu sorriso favorito.
Descemos o morro calmante e eu deixei Mari na porta de casa.
- Está entregue madame. - Brinquei.
- Faça o serviço direito e me leve até a cozinha. - Cruzou os braços.
- Melhor não. Vou entrar pelos fundos, a gente se encontra lá.
   Não gosto de passar pela sala de estar, sou um empregado, não uma visita para ficar perambulando pela casa.
- Para de bobeira! Pra que dar a volta? Você já está aqui. A gente entre e vai direto pra cozinha ok?
   É difícil dizer não com aqueles olhos verdes me encarando com expectativa.
- Ok.
   Entramos conversando e sorrindo, mas eu tinha uma sensação estranha no peito. Passamos pela sala estar, seguimos para a sala de jantar, e assim que atravessamos a porta, meu sorriso morreu. Fomos soterrados por um olhar de desaprovação, e um rapaz que não conheço devorava a Mari com os olhos e isso me irritou mais ainda. Agora entendi aquela sensação no meu peito, era um pressentimento que algo estava para acontecer.