Sétimo mês - alguém viu meu cérebro? Acho que ele caiu...

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Me lembro de ter ficado cada vez mais maravilhado - e confuso - durante o sétimo mês de gravidez da minha esposa.

No começo do mês, começou uma rotina de sonhos que Hermione não esperava. Toda manhãzinha, ela me acordava contando que sonhara com Rosa na noite anterior.

– Ela era tão linda - ela dizia sempre - era igualzinha á você. Só que tinha olhos castanhos. E era pequenininha - ela deixou seu olhar vagar enquanto simulava embalar um bebê nos braços; seus braços já podiam se apoiar perfeitamente no topo de sua barriga arredondada.

Eu me lembro de ficar deliciado com a alegria dela ao contar os sonhos. Ela sorria como uma boba, e seus olhos brilhavam.

Um dia, porém, ela acordou aos berros no meio da noite. Assim que se ergueu, começou a chorar e soluçar de um modo assustador. Fiquei sem saber o que fazer enquanto a abraçava e acariciava sua cabeça.

– Shh... calma, Hermione - foi um pesadelo, só isso...

– Foi horrível... - choramingava ela, com o rosto no meu peito - eu... nossa bebê tinha... ah,, Rony!

– Calma, não foi real... foi só um sonho... vai ficar tudo bem. Nada vai acontecer com Rosa nem com você.

Durante o resto da semana, Hermione havia ficado tão insegura e vulnerável que fiquei preocupado. Será que aquilo fazia parte da gravidez?

Tive que conversar com Gina sobre isso. Afinal, ela já havia passado por isso duas vezes - o parto de Alvo Severo havia sido alguns dias atrás.

Gina balançou a cabeça, revirando os olhos enquanto embalava Alvo.

– É normal, Rony. Ela está ansiosa com o parto e com o bebê.

– Tem certeza?

– Claro. A gente sonha bastante com eles - ela arrulhou para Alvo - não é, querido? - ela riu - eu sonhava que Alvo ia sair ruivo e com olhos castanhos - ela fingiu bufar - mas o moleque aqui saiu a cara do pai. A gente carrega os filhos nove meses na barriga e eles saem uma cópia exata do marido. Fala sério...

Eu ri.

– Hermione diz que Rosa vai ser a minha cara.

Gina sorriu.

– Então é o contrário. Não vai sair com sua cara feia, graças á Deus.

Bati de leve em seu ombro, enquanto Gina ria.

Cheguei em casa mais tranquilo. Ah, mulheres e seus hormônios.

Hermione estava na cozinha. Entrei lá ensaiando um sorriso, mas ele desapareceu quando eu a ouvi chorando.

– Hermione? Tudo bem?

Ela estava debruçada na pia, com um prato nas mãos. Quando me aproximei, vi que ele havia rachado ao meio; a outra parte jazia molhada no fundo da pia.

– O que foi?

– Eu quebrei... - ela soluçava como uma criança - eu... nem pra lavar louça eu presto mais...

Tive vontade de rir com sua aflição por algo tão bobo, mas Gina me alertara que aquilo fazia parte de uma bizarra fase de "depressão de gestante". Então me limitei a suspirar e beijar suas lágrimas aflitas.

– Que isso, amor... as pessoas erram. Quebrar um prato não te torna inútil. Você é maravilhosa, e sempre vai ser

Ela deu uma risadinha tremida.

– Você sempre sabe o que dizer... não é?

– Nem sempre - respondi, abraçando-a.

Ela fungou e olhou para o chão.

– Rony..?

Diga.

– Você acha que meus tornozelos incharam?

– Que tornozelos?

Tive que desviar, rindo, do tapa que ela tentou me dar.

– Seu pré-histórico!

– Quem, eu? - continuei rindo.

Ela também começou a rir.

Assim estava melhor. Minha esposa maluquinha.

Ela arfou baixinho e pôs a mão na barriga, que aos poucos estava adquirindo o tamanho e forma de uma melancia oval - a melancia mais linda que eu já vira na vida, diga-se de passagem. Ela afagou um pouquinho onde nossa filha devia ter chutado; Rosa devia estar querendo que sossegássemos um pouco com a brincadeirinha besta.

– Rosa também deve te achar um pateta.

– Duvido. Ela ama o pai dela... não é, Rosinha? - acariciei seu ventre redondo.

– Afe. Dá um tempo, papai.

Papai. Uma palavra boba e simples. Mas que me fazia sentir um aperto agradável nas entranhas.

De certa forma, nunca havia me imaginado pai. Afinal, com o tanto de confusões e encrencas na qual eu, Hermione e Harry nos metíamos no tempo da escola, eu mal tinha certeza de que sequer passaria da adolescência.

Mas eu decididamente gostava do que ser pai representava. Gostava de imaginar Hermione como mãe.

E decididamente adorava imaginar uma filha, o meu sangue, um pedacinho meu, dentro daquela mulher maravilhosa que era minha esposa.

E, em breve, se o destino me desse a honra, me deleitava em esperar o prazer de ter nossa pequena flor em meus braços.


De Botão À FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora