O desabrochar da Flor

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Quando o nono mês chegou, Hermione parecia estar ficando cansada com uma facilidade assustadora.

Mais uma vez, minha irmã explicou ao ignorante que eu era: com a gestação chegando ao fim. e com nossa filha se encaixando para nascer, aos poucos ficaria impossível Hermione sentar com dignidade. Era ao mesmo tempo um quadro assustador e cômico ver minha mulher tendo que sentar com as pernas escancaradas.

Na última consulta pré-natal, o curandeiro havia avisado que Rosa nasceria provavelmente nas próximas semanas - o que só me deixava cada vez mais ansioso.

Finalmente, uma semana depois, fui acordado com sacudidelas apavoradas.

Ao abrir os olhos, me deparei com o rosto lívido de Hermione.

- Humm.... que foi, amor..? - murmurei, bocejando.

- A bolsa... - Hermione corou.

Demorei dez segundos para reagir.

A bolsa. Pelas cuecas de Merlim...

- Estourou?? - arfei, pulando da cama.

Hermione assentiu, assustada, também se levantando.

Me arrumei correndo e levei Hermione ao Saint Mungus como um louco, pausando apenas para mandar uma coruja para minha família.

Hermione foi recebida por uma curandeira simpática, enquanto a recepcionista fazia a ficha de internação em um pergaminho.

Enquanto subíamos o elevador, Hermione soltou um grito que arrepiou meus nervos. Ela fez uma careta, abarcando a barriga com as mãos.

A curandeira que segurava sua cadeira de rodas suspirou.

- A primeira contração.

- Não sabia... - Hermione arfava, com uma expressão de dor - que doía... tanto...

Entramos na sala de parto com Hermione já na maca. Ela apertava minha mão, parecendo perdida e amedrontada.

- Rony...

- O que foi? - perguntei, preocupado.

- Se sair a sua cara.. - ela sorriu um pouco - eu te mato.

Ri baixinho, tentando distrai-la da dor.

O curandeiro Johnson nos recebeu com um sorriso.

- Preparada para ver sua filha, Sra. Weasley? - ele perguntou para Hermione.

Ela assentiu, sorrindo para mim.

Senti um gelo na barriga, um misto de expectativa e pavor. Em algumas horas, veríamos nossa pequena Rosa pela primeira vez.

O tempo parecia correr devagar dentro da sala de parto. Os gritos de Hermione já adquiriam um ritmo próprio, o que queria dizer que as contrações estavam acontecendo com um cronograma discernível. Eu tinha medo até de soltar sua mão, mesmo quando ela a apertava com uma força dolorosa. Fiquei um pouco angustiado ao ver Hermione sofrendo com a dor, mas sabia que valeria a pena quando acabasse.

- Só um pouco mais.. - disse o curandeiro Johnson depois do que pareciam horas - já estou vendo o bebê, Sra. Weasley. Só mais um pouco... faça força agora.

Hermione berrou e curvou o corpo para a frente; tive que aparar suas costas antes que caísse de volta na maca.

Sentia o suor escorrendo em minha testa. Parecia que os minutos estavam se tornando dias.

De repente, ouvi um som novo na sala, que substituiu subitamente os gritos de Hermione.

Um choro. Um choro alto, forte e definitivamente infantil.

- Corte o cordão, por favor, Gale. E limpe-a antes de traze-la.

O chão pareceu desaparecer embaixo de mim. Me senti em queda livre, embora ainda estivesse de pé. E a queda era simplesmente maravilhosa.

Minha filha tinha nascido.

Hermione se ergueu fracamente na maca quando a curandeira auxiliar se aproximou dela com um pano enrolado nos braços.

Daquele pano enrolado, ainda soava um choro fraco, quase revoltado.

Hermione aninhou-o nos braços, com uma expressão cansada, mas imensamente feliz.

- Parabéns, Sr., Weasley - sorriu o curandeiro Johnson para mim, enquanto terminava os procedimentos - é uma menina linda.

Quase tive medo de me aproximar, mas forcei minhas pernas dormentes a reagirem e irem para frente.

Olhei dentro no ninho nos braços de Hermione, e meu mundo pareceu paralisar por um longo tempo.

Uma coisinha pequena e definitivamente linda se remexia no colo de minha esposa. Tinha um punhadinho de cabelos na cabecinha redonda... cabelos ruivos. E os olhinhos sonolentos que me sondavam eram da cor do mar.

- Rosa... - Hermione arrulhou; lágrimas brilhantes desciam por seu rosto - tão... linda...

Era praticamente uma Hermione em miniatura. Só que as cores eram minhas.

O que só a tornava ainda mais perfeita.

- Minha florzinha... - sussurrei, ainda maravilhado.

Hermione se virou para mim, sorrindo de tal modo que seu rosto parecia ainda mais belo.

- Pega.

- Eu?

- Não, a Rainha - ela revirou os olhos; voltara a ser a minha esposinha irônica - Claro que é você.

Fiz um ninho desajeitado com os braços para acolher Rosa. Hermione passou-a para meu colo com cuidado.

- Apoie a cabeça e a coluna - ela me ensinou.

Rosa era leve como uma pluma, e me observava com um olhar inteligente que eu nunca havia visto em nenhum recém-nascido. Igualzinha a mãe. Suas mãozinhas estavam fechadas e ela não estava chorando mais.

Ali estava o presente que eu havia esperado por nove meses. Uma pessoinha fantástica que parecia tornar meu mundo ainda mais incrível. O fruto do amor entre mim e Hermione, um pedacinho meu e dela num único corpinho minúsculo.

Não tive vergonha de chorar ali mesmo, enquanto beijava a testa de minha esposa e ninava minha filha.

Afinal, minha vida finalmente era completa. Eu sempre fora filho, irmão, amigo, marido.

Agora eu era pai.


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"Ainda que eu fale todas as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor sou como o bronze que soa ou o sino que retine... mesmo que tivesse toda a fé a ponto de, transportar montanhas, se não tiver amor, não serei nada."

Paulo de Tarso, 1 Coríntios 13:1



De Botão À FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora