Hermione andava esquisitíssima nas últimas semanas.
Ela nunca foi uma pessoa de fazer chilique por bobagens. Era uma mulher fantástica, inteligente, linda de morrer.
Tinha uma família - a minha e a dela, agora unidas - que a adorava. Amigos que a apoiavam. Um marido - eu - que deitaria numa poça para ela passar por cima e não molhar seus pés.
Era fenomenal na hora do tchans de noite.
E foi por ser fenomenal nesse quesito que tudo começou.
OK, noventa e cinco por cento foi culpa minha. Mas ela aparecer de lingerie preta e liga de varinha, naquela noite de outono, e chegar junto sem eu nem ter tempo de me preparar não ajudou nada. Então, cinco por cento são dela.
GIna me olhava na mesa do café com se eu tivesse cometido uma insanidade punível com morte. Eu não entendia por que Hermione parecia tão socada... nem porque elas se olhavam com uma estranha cumplicidade criminosa. Eu, burro e inocente, não fazia ideia do que estava por vir naquela manhã fantástica.
– Hermione... tá tudo bem?
Hermione pulou ao meu lado, como se eu tivesse enfiado uma agulha na sua coxa. Ela arregalou os olhos para mim, assustada. Gina revirou os dela.
– Tô bem - sua voz era um canto de passarinho, fina, baixa e envergonhada.
Terminei meu café em silêncio, tentando imaginar o que ela estava escondendo de mim... será que algo a incomodava? Eu tinha feito algo errado ontem? Ou - engoli em seco com a possibilidade - outra pessoa estava ocupando sua mente?
– Já vou sair - murmurei enquanto me arrumava para sair.
– Bom trabalho, amor - bocejou Hermione, de um jeito tão forçado que não ocultou em nada sua expressão preocupada.
– Até mais...
Antes que eu pudesse sair porta afora, porém, Hermione se levantou de um salto, correu até mim e me tascou um beijo agoniado na boca. Gina riu.
– Uau... ganhei o dia agora - brinquei, abraçando-a. Hermione deu uma risada tão linda que a minha dúvida anterior sobre um possível rival se esvaiu imediatamente da minha mente. Ah, não, só eu conseguia fazer ela rir daquele jeito. Se outro cara conseguisse fazer isso, podia leva-la embora sem problemas.
– Tchau, seu bobo.
– Tchau, sua linda.
Não tive tempo de terminar de ouvir Gina gritar: "Ah, vai tomar no..."
Fiquei tentando me convencer que a expressão tensa de Hermione era só coisa da minha imaginação fértil, enquanto organizava os documentos do meu escritório. Graças á algum poder divino, desde o nosso casamento não tínhamos mais nenhum segredo entre nós. Ela se abria quando precisava, se queixava dos meus erros, me ajudava, ouvia meus problemas. Era como um presente dos céus naquele recomecinho de vida após a queda de Voldemort.
Mas definitivamente ela estava mudada. As reclamações estavam ficando um pouco incômodas. E, algumas noites antes, ela acordara duas vezes com um pesadelo e chorara no meu colo por quase sete minutos. Fiquei tão assustado com aquela fragilidade dela que nem sabia o que fazer.
E também tinha aquela intolerância á comida. Hermione não estava suportando nem passar perto do cheiro de suco de abóbora e de empadão. Harry e Gina me ajudaram á esconder todas as garrafas na adega para que Hermione parasse de vomitar.
Por mais que eu tivesse dicas, eu concluí erroneamente algo que, naquela hora, parecia óbvio. Hermione deveria estar doente. Muito doente. E não queria me contar.
Pensei - com um assomo de pânico - se ela não deveria estar tendo outra crise de vampirização ou algum outro vírus. Meu Deus, era só o que faltava.
Saí no fim do expediente ainda confuso. Bom, eu ia tirar tudo á limpo naquela noite mesmo.
Entrei em casa sem fazer barulho. Gina tagarelava com Hermione no quarto. Estranho. Normalmente ela voltava para a casa dela antes do sol se pôr, mas naquele dia ela ficara até a noitinha.
– Caramba, você pensou nisso enquanto voltava? - dizia Gina.
– É - Hermione riu - você acha...
– Olá - eu disse, sobressaltando as duas. Gina pulou aonde estava. Hermione, que até aquele momento estava deitada na cama, se levantou de repente.
– Oi, Rony - disse Hermione. Gina olhava dela para mim, parecendo tensa, como se nós estivéssemos desarmando uma bomba.
– Ah... - Gina gemeu - acho que vou fazer um chazinho de erva-doce... - essa era boa. Gina detestava chá - vai querer açúcar no seu, Hermione?
– Por favor - murmurou Hermione, me olhando como se eu fosse a bomba que ia ser desarmada.
Gina sumiu tão rápido que parecia ter aparatado.
Cruzei os braços, esperando Hermione voltar ao mundo real.
– Ah... como foi o trabalho, querido?
– Bem - eu disse, erguendo a sobrancelha - e você, fez alguma coisa diferente hoje?
– Hum, dei uma saída - ela disse enquanto eu sentava na cama. Outra piada. Desde quando Hermione dava "saídas"? - Fui ao Beco Diagonal comprar olhos de sapo... o estoque para Poção do Sono estava acabando - ela olhou para mim, definitivamente nervosa - ah, comprei um presente para você.
Ela me estendeu uma caixinha quadrada, muito leve e de cor escarlate. Tirei o laço.
– Não precisava... - eu sorri.
Hermione me olhou tão profundamente naquele momento que senti um arrepio.
– Precisava sim, Rony.
Abri a tampa, jogando-a para o lado, e desfiz o embrulho.
Algo fino, macio ao toque, deslizou na minha mão. E era laranja. Muito laranja. Demorei para reconhecer o formato, e só compreendi ao ver o brasão.
Era uma mini-camiseta do Chudley Cannons.
Do tamanho exato para vestir um bebê.
Meu coração, quase parado, começou á dançar uma valsa rápida, antes de ir parar na minha garganta.
Embaixo na roupinha minúscula, havia um pergaminho de exame do Hospital Saint Mungus.
Eu não reconhecia termos médicos, mas aquele "positivo" piscava para mim como se fosse a única coisa escrita no papel.
Fiquei completamente paralisado. Aquilo tudo se juntou em meu cérebro entorpecido. Só podia significar uma coisa.
Tudo fazia sentido agora... justamente quando não deveria fazer sentido algum. Nada mais fazia sentido...
Exceto a garota que segurava meus braços naquele momento. Exceto um novo brilho que deveria estar surgindo em algum lugar na imensidão á minha frente. Exceto as palavras sussurradas de Hermione.
– Estou grávida.
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De Botão À Flor
FanficSinopse: Um dos periodos mais fantasticos da vida de Rony e Hermione, repleto de altos e baixos, mas que, no fim das contas, foi definitivamente memoravel. Narrado por Rony Weasley