CAPITULO 2 - O vizinho

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NO DIA SEGUINTE...

Hideke Matsumoto despertou às 7h da manhã de um sono que durou aproximadamente 10 horas, sentou-se na cama e ficou olhando o sono de sua amada enquanto relembrava tudo o que acontecera na noite anterior. Ele desejava que tudo não tivesse passado de um pesadelo, mas quando viu o Revolver Magnum disposto sobre a cabeceira, começou a cogitar que tudo aquilo poderia ter sido real.

Matsumoto calçou suas tradicionais pantufas e caminhou para fora do quarto. Chegando na sala, deparou-se com a porta em ruínas. Levando as mãos à cabeça, sentiu-se tenso.

Era fato consumado de que algo tentou arrebentar àquela porta, e esse "algo" tinha uma força assustadora.

-Hik? - Alexia surge sonolenta.

-Oi, amor! - Ele a recebe com um forte abraço.

O casal segue para o banheiro e tomam banho juntos e, em seguida, degustam o café da manhã em silêncio. Nenhum dos dois queriam falar do acontecimento perturbador da noite passada, não naquele momento. Após a refeição matinal, Alexia fica na cozinha preparando uma refeição para o gatinho e Hideke vai para o seu escritório improvisado, trancando a porta.

No pequeno, isolado e aconchegante cômodo, Hideke abre o seu notebook e começa a dar vida ao seu novo livro e como é comum, não inicia com um título. Ele prefere intitular os livros apenas quando concluído.

Suas primeiras palavras são:

A respiração pesa, o coração se agita, os olhos arregalam e as mãos suam... são os sinais de que o mal se aproxima.

Mas logo ele percebe que esses também são os sinais de quem está apaixonado e ver a pessoa amada se aproximar. Então, consequentemente, ele deleta tudo.

Enquanto o jovem escritor tenta entrar em harmonia com as palavras, Alex está sentada na cozinha lendo um livro.

Por incrível que pareça, o casal está ignorando por completo o que acontecera.

O sol atinge o ponto mais alto no céu.

*Toc! *Toc! *Toc! - Alex bate na porta tentando chamar a atenção do namorado.

-Almoço! - Ela avisa.

Ele abre a porta do quarto e segue a amada até a cozinha. Os dois comem em silêncio.

Após o almoço, Hideke finalmente decide sair um pouco de casa e ao chegar no terreiro, nota que o portãozinho - que havia sido arrancado - estava de volta no lugar, inclusive desamassado.

-Alex? - Ele gritou.

-Hik? - Ela surgiu rapidamente.

-Foi você? - Ele perguntou apontando para o portão.

-Eu o quê? - Ela não entendia, afinal, não tinha conhecimento de que o portão havia sido arrancado.

-O portão! - Ele disse. - O portão foi arrancado ontem e agora está novamente no lugar.

-Tem certeza que ele foi arrancado? - Alex duvidou.

-Claro que tenho certeza, inclusive ele passou voando por mim antes de chocar-se com a parede de casa.

-O que diabos era aquilo? - Ela resolveu tocar no assunto.

-Um cão! Um cão negro e enorme. - Hideke falou com um tom apavorado.

-Um cão? Com toda àquela força?

-Alex, você acredita em mim?

-É claro que acredito!

-E se eu lhe disser que esse enorme cão se transformou em fumaça e sumiu no vento?

Era muito para ela digerir, então não houve mais nenhum comentário sobre o assunto durante a tarde toda.

*Toc! *Toc! *Toc! - Batidas na porta, visita!

Alexia estava na cozinha preparando o jantar e foi verificar quem era.

-Olá, boa noite, sou o seu vizinho. - Um homem de aproximadamente 30 anos, alto e magro se prestava diante da moça.

-Olá! - Ela o cumprimentou.

-Espero que o portãozinho tenha ficado bom. - Ele comentou.

-Então foi o senhor que o concertou?

-Acordei hoje e vi que ele estava arrancado, resolvi colocá-lo de volta no lugar como um agrado de boas-vindas. - O moço disse rodando seu chapéu de caipira nas mãos.

-Muito obrigada, senhor....

-Caetano, meu nome é Caetano.

-Meu nome é Alexia, prazer! O senhor gostaria de entrar, senhor Caetano?

-Não precisa usar o "senhor". E agradeço a cortesia, mas vim aqui saber se gostaria de ter sua porta reparada.

-Não precisa se incomodar.

-Não é incômodo, gosto de ajeitar as coisas e é de graça, não se preocupe. - Ele dar um sorrisinho mostrando alguns dentes amarelos e outros podres.

-Oi? - Hideke surge.

-Amor, esse é o responsável por termos o nosso portãozinho de volta, o nome dele é Caetano. - Alexia falou.

Os dois apertaram as mãos. E Hideke se apresentou.

-Ainda bem que o senhor correu ontem. - O vizinho comentou.

-Então era você na janela?

-Eu mesmo!

Sedento por respostas, Hideke convidou o sujeito para um cafezinho.

Acomodados nos sofás da sala, os dois começaram um diálogo.

-O que era aquilo? Por que o povo daqui não sai de casa? E as cruzes? O que diabos era aquilo? - Hik estava louco por respostas.

-Calma. Uma coisa por vez. Primeiro, "aquilo" é o que chamamos de "O Guardião".

-Guardião do quê?

O moço riu como se achasse Hideke ingênuo demais.

-Ele guarda esse lugar. Protege a comunidade de coisas malignas.

-Que coisas malignas?

-Espíritos vagantes. - O homem falou de tal forma que fez com que os seus ouvintes se arrepiassem.

-Espíritos vagantes? - Alexia indagou.

-São espíritos de pessoas que fugiram do purgatório ou demônios renegados por suas castas. - Caetano explicou.

-E por que ele me atacou? - Hideke indaga.

-Ele não distingui. Quando a noite caí, ele ataca tudo o que pelas ruas vagar.

Subitamente, um poderoso raio corta o céu e um estrondoso trovão ruge.

-Parece que teremos uma tempestade, melhor concertarmos a porta antes que o anoitecer chegue por completo. - O visitante propôs e assim foi feito.

Antes que Caetano partisse, Hideke lhe fez outra pergunta: - Por que, mesmo durante a claridade do dia, os habitantes se escondem dentro de suas casas?

Caetano olhou para o vazio...

-Uma vez por mês, uma entidade visita nossa comunidade. Nós o agradamos com as cruzes, as flores, as velas, a comida e a cachaça. Durante as 24 horas de sua visita, não saímos de casa para não darmos de cara com ele.

Era muita coisa para o japonês dirigir de uma vez só.

-Ah, e tem mais uma coisa... - Caetano continua. - ...talvez, nos dias dessas visitas, você se depare com alguns animais presos no meio das ruas. Não os libertem! São sacrifícios para ele e ele não gosta que tomem algo que lhe pertence.

O moço foi para a sua casa e Hideke tratou logo de trancar a porta, pois já era hora de "O Guardião" vagar pelas ruas e ele estava ciente de que não era uma boa ideia duvidar do único habitante, do estranho vilarejo, que conhecera até agora.


Não Escreva Terror! - VOL. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora