O ano é 1991, foi neste ano que nasceu Hideke Matsumoto (o moço que iremos acompanhar daqui por diante). Talvez o nome seja um pouco diferente, mas há uma explicação, Hideke (o "H" com som de "R") é japonês.
Logo após seu nascimento, Hideke foi posto sobre os cuidados de um casal brasileiro, sua mãe, que não resistiu ao parto, acabou morrendo.
Com seus pais adotivos, Matsumoto desembarcou no Brasil no ano de 1992.
A criança cresceu, fez faculdade e se formou em jornalismo..., o jovem também foi cativado pela escrita e logo escreveu e publicou o seu primeiro livro.
Mesmo formado em jornalismo e exercendo a profissão, Matsumoto abriu mão de tudo para se focar apenas na escrita. Escreveu e publicou vários livros, dentre eles romances, contos policias, livros juvenis e alguns outros com a temática leve, nada que não fosse recomendado para menores. Contudo, nenhum de seus livros foi contemplado com o "título" de Best Seller.
Com seus livros não rendendo o esperado, o jovem autor começara a sofrer com problemas financeiros. Toda a pequena herança deixada pelos seus pais adotivos (que faleceram já havia alguns anos) quase não exista mais, sua conta estava, literalmente, no vermelho.
Hideke, no auge dos seus 24 anos de idade, era diariamente aconselhado pela sua namorada, Alexia, a retornar à sua antiga profissão e deixar de lado, pelo menos por um tempo, a vida de escritor, porém, Hik (como ela sempre o chama) não considerava essa opção, preferia encarar a falência do que parar de escrever. Contudo, se as coisas continuassem como estavam, não demoraria muito para que tivessem que arranjar um barraquinho para se abrigarem.
Em uma das centenas de noites frias que assolam a cidade de São Paulo, Matsumoto se encontrava dormindo tranquilamente ao lado de sua amada. O braço direito da Alexia cruzava o peito do rapaz em um caloroso meio abraço noturno, mesmo sem a intenção; fios de cabelos loiros da jovem de 22 anos estavam na boca do namorado, ele os mastigava, inconscientemente, acreditando ser algo comestível. Tudo estava perfeito..., normal como todas as outras noites em que dormiram juntos, mas essa se tornou diferente no momento em que Hideke acordou aos berros de um suposto pesadelo. Os gritos ecoaram pelo quarto, pelo apartamento e talvez por todo o andar. Alexia acordou assustada, como se o pesadelo tivesse sido dela, e se deparou com o seu companheiro sentado na cama, imóvel, silencioso...
-Hik? - A jovem o chamou.
-Hik? - Ela tentou novamente, mas não obteve nenhuma reação.
Alexia o tocou e sentiu sua pele fria.
-Hik? - Ela tornou a chamá-lo aparentando preocupação.
-Terror! - Hideke fala subitamente.
Alex (como o namorado gosta de chamá-la) não compreendeu o motivo dele falar a palavra "terror", por acaso ele estava se referindo ao pesadelo?!
-Devo escrever terror! - Ele fala novamente, mas desta vez ele olha para a companheira e segura em suas mãos.
Alex continua confusa, mas não liga, contanto que o namorado esteja bem.
Os dois se abraçam e tornam a dormir. O relógio marcava 3:05AM.
NA MANHÃ SEGUINTE...
Matsumoto desperta e se vê sozinho na cama, ele empurra o cobertor de lado e se senta na cama massageando a testa. Calça as suas pantufas..., caminha até a cozinha e encontra Alexia preparando o café da manhã.
-Bom dia, dorminhoco! - Ela o cumprimenta com um beijinho.
-Bom dia! - Ele corresponde e se senta em uma das cadeiras acolchoadas que rodeiam a mesa redonda de vidro.
Alex põe várias tigelas de comida sobre a mesa (costume japonês) e se senta em seguida. O casal dar as mãos, fazem os agradecimentos e degustam a refeição matinal em total silêncio, nada sobre a noite anterior foi comentado.
Hik agradece à sua namorada pela refeição e se retira para o banheiro. Chegando onde deveria, ele liga a torneira e apoia as duas mãos na pia, permanece assim por alguns minutos e com a cabeça abaixada.
*Terror! *Terror! *Terror! - Uma voz latejava em sua cabeça na medida em que ele apertava com força as borda da pia em que se apoiava.
Percebendo a demora, Alexia decidiu verificar...
*Toc! *Toc! *Toc! - Ela bateu na porta. - Tá tudo bem?
Ela não teve resposta e mexeu na maçaneta com a intenção de abrir a porta, mas não obteve sucesso.
-Eu estou bem! - Hideke respondeu acalmando-a.
Alexia permaneceu recostada na porta e ouviu o som do chuveiro. Poucos minutos depois, o som parou, a maçaneta se moveu, a porta abriu e ela se acalmou abraçando-o.
-O que houve? - Ele estranhou o comportamento da namorada.
-Nada, não houve nada. - Ela está preocupada com ele, mas decidiu não perguntar nada.
Após o caloroso abraço, Matsumoto segue para o quarto e Alex entra no banheiro para tomar o seu banho.
Hideke entra no quarto, puxa uma cadeira para perto do computador e começa a procurar algo na internet. Ele fica alguns minutos navegando em sites de imóveis, parece ter a intenção de comprar uma casa. Terminado o banho, Alexia entra no quarto e o abraça por trás ... logo percebe a pesquisa que ele está a fazer.
-Por que está pesquisando sobre imóveis?
-Devo escrever terror! - Ele torna a repetir a frase que havia dito na madrugada anterior.
-O que você quer dizer com isso? Desde o pesadelo de ontem você tem falado sobre esse negócio de escrever terror.
-Ontem, durante o pesadelo, uma voz clamava na minha cabeça para que eu escrevesse um livro de terror e, pensando bem, eu nunca escrevi algo do gênero, talvez seja a voz da inspiração me guiando.... - Ele fez um pausa... - Com certeza esse livro será um sucesso e nossas vidas irão melhorar. - Ele concluiu com entusiasmo e abraçando a jovem.
-E o que a pesquisa de imóveis tem a ver com isso? - Ela indaga se livrando do abraço.
Ele para, pensa um pouco e então responde:
-Durante o sono, ou melhor, durante o pesadelo... eu estava em um lugar... em uma cidadezinha quase inabitada, com pouquíssimos habitantes, era isolada, sombria e dava bastante medo... tenho que está em um lugar assim com o intuito de conseguir a inspiração para escrever o livro..., claro que não precisa ser um lugar sombrio, basta apenas ter poucos habitantes e ser um pouco isolado. - Ele explicou sentando-se na cadeira.
Alexia ouviu a explicação, mas achou essa ideia radical demais. Ela discordou, mas Hideke, como todo legítimo japonês de sangue é, não voltou atrás. Comprou, via internet, uma casa em um povoado na região norte do país e estava decido a ir passar uma temporada por lá. Sua companheira não teve outra escolha a não ser segui-lo.
Três dias depois, o casal estava pronto para partir. Eles irão de carro próprio para, entre outras coisas, economizar com passagens, aproveitar a viagem e, principalmente, para garantir mobilidade na cidadezinha que irão morar por um tempo.
O destino é o "Vilarejo das Cruzes", mas não se preocupem, o nome fará sentido no instante que o casal colocar os pés lá...,
...pois os únicos que devem manifestar preocupação são os dois tolos que vão justamente para este local.
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Não Escreva Terror! - VOL. 1
Misteri / ThrillerNENHUM OUTRO AUTOR TEVE QUE PAGAR UM PREÇO TÃO CARO PARA ESCREVER UM LIVRO. Encare os seus medos e desvende os mistérios de um tenebroso e amaldiçoado vilarejo.