|ANTES|Desastre

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Parte 1
Chamas


"Para o frio existe o calor.
E essa chama até então desconhecida não permitirá
Que o frio permaneça".
_autor desconhecido.




    A NOITE ESTAVA SILENCIOSA. A lua grande e brilhante no céu escuro e limpo era uma clara evidência do clima agradavelmente quente que a atmosfera continha. As estrelas formavam uma linha torta e deslumbrante nas entrelinhas manchadas de cinza acima das nuvens, lembrando ás pagina rabiscadas de um caderno. Desorganizado, mas incrível.

A cidade flutuava em um longo silêncio etéreo traduzido apenas pelo trânsito intenso e abafado que desembocava em todos os pontos da cidade. Pessoas voltavam-se para a atração central da cidade, onde o novo Parque de Atrações Vienna havia sido inaugurado, onde o núcleo de habitantes havia se reunido, o único ponto barulhento num raio de oitenta quilômetros. A diversão havia impressionado a todos numa constante nuvem de sorrisos e gritos. A música alta abafava qualquer sinal frustrado de comunicação. Os convites, avisos e folders da nova atração principal da cidade voavam em todas as direções, perdidos entre as pessoas que corriam de um lado para o outro entre os mecanismos vibrantes e luminosos espalhados por todos os cantos do enorme parque. O cheiro de algodão doce e pipoca com manteiga carregava o ambiente, transformando o aglomerado de pessoas em uma massa grudenta de açúcar e gargalhadas. A cidade estava completamente atraída pelo som da diversão.

A ponto de ninguém notar o que estava acontecendo.

Ninguém percebeu quando um clarão estranho fez com que as nuvens claras recuassem com um estrondo macio, como se uma tempestade estivesse se aproximando sorrateira e vingativa. Mas então, alguma coisa mais foi abalada. Os céus tremeram de uma forma estranha, como se blocos de gelo cristalizados estivessem se quebrando, e os rabiscos estrelados passaram a mudar de forma, como se estivessem sendo reescritos, e então... tudo aconteceu.

Todos começaram a notar quando as construções começaram a abalarem-se sob seus pés, como se um terremoto estivesse tomando formas e ruídos. Mas era tarde demais. Gritos começaram a soar quando a roda gigante começou a dançar de um lado para o outro, ameaçando se deslocar de suas engrenagens. Então a correria começou, quando todos tentavam escapar do desastre eminente. Mas não havia nada que pudesse impedir.

Ninguém pode perceber ao certo o quê ou como aconteceu, mas de um momento para o outro, era como se o parque inteiro estivesse desmoronando. As faíscas começaram a saltar em todas as direções, o barulho de engrenagens sendo esmagadas abalou o restante das estruturas, e aos poucos, as luzes começaram a se apagar, uma a uma.

O mundo se rompeu.



•••


Mas em outro lugar, havia alguém acompanhando a situação com os olhos vidrados.

― Droga, aconteceu!

A linda garota de cabelos brancos correu ao encontro de seus binóculos, que haviam caído em algum lugar do caminho que havia tracejado em cima de um dos maiores arranha-céus da cidade escura. Apesar da visão aguçada, a fumaça e a poeira acabaram impedindo-a de utilizar seu dom em toda sua magnitude. Mas quando o encontrou, não o mirou para a confusão ao longe que se seguia no novo Parque de Diversões da cidade, mas sim para cima, em direção aos céus. O que havia acontecido era mais do que óbvio. Suas mãos congeladas tremeram ao constar que a barreira que havia criado acima das nuvens havia se estraçalhado em milhões de pedaços. Neve e Fogo.

― E então, Dublemore? O que houve!? Vai me dizer ou não? ― outra voz feminina e hipoteticamente apreensiva soou ao seu lado.

A segunda garota usava uma roupa escura, e seus cabelos vermelhos estavam desgrenhados. Em meio ao vento impetuoso que uivava de um lado para o outro, ela parecia não ser atingida, mesmo que estivesse com seus braços brancos e marcados descobertos. Seus olhos profundamente azuis recriavam a cor dos céus durante uma tempestade.

― O que você acha? ― a garota congelada à sua frente cuspiu entre dentes, arremessando o binóculos a frente com todas as força ― Apenas não funcionou, ela passou! E aconteceu da forma mais estranha que poderia ter acontecido...

A segunda garota tremeu momentaneamente, cílios longos indo e vindo, dançando na sinfonia do medo.

― Como você tem tanta certeza?

― Dê uma olhada nas estrelas, Arbo! Elas estão completamente desalinhadas... Apontando em todas as direções erradas. E se essa breve constatação não bastar, observe a pequena confusão no Parque terreno.

Arbo chacoalhou a cabeça enquanto dava voltas ao redor de si mesma, como se não soubesse direito o que fazer ou como agir. De repente, sua presença ali apenas parecia meio inútil, meio insana, meio... nada.

― Isso não vai prestar. Isso não vai prestar mesmo. Qual foi a última vez que uma coisa dessas aconteceu? Droga. Isso nunca aconteceu. ― ela parou de repente, gritando enquanto olhava para cima ― Que confusão é essa agora?

― Não adianta ficar fora de mente agora... ― Dublemore xingou enquanto se levantava às pressas ― Temos que agir. Agora mesmo.

― E o que exatamente você pretende fazer?

― Encontrá-la. ― Dubb constatou o óbvio.

Arbo parou um segundo, e inesperadamente gargalhou alto, de uma maneira sinistra, fazendo com que o vento assoviasse ainda mais forte, desgrenhando ainda mais seus cabelos vermelhos. Mas não havia nenhum humor no riso. Como uma boneca eletrônica.

Encontra-la? Você acha que vai ser tão simples assim?

― Não, é claro que não acho.

Então... ?

Foi a vez de Dublemore parar por um instante, como se considerasse seriamente o que iria propor, como se ela mesma não acreditasse no que estava prestes a dizer. Pela primeira vez, estava prestes a ir contra O Punho. Contra sua natureza, contra tudo! Mas que outra saída havia, a não ser divergir na situação? Não havia nada em seus movimentos ou em sua expressão que pudesse delatar parte de seus pensamentos agora, e era assim que Dublemore geralmente era. Uma pedra de gelo sem emoções. Havia apenas o frio. Cortante e etéreo.

― Vamos ter que Despertá-lo.

Os olhos azuis de Arbo se abriram mais em direção a ela.

― Despertar quem?

Mas Dublemore já estava refazendo seu caminho, incomodada com a pergunta, por que Arbo provavelmente já sabia a resposta.

― O único que pode detê-la.

― Mas, Dublemore, você não pode...

― É claro que eu não posso... _ela sentenciou enquanto seus olhos cor de gelo miravam o Parque em plena destruição pela última vez ―, mas não tenho escolha. ― ela baixou o tom de voz ― nenhum de nós tem.






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Escrito por Christyenne A. C. 
Em wattpad.com

~repostado~






FALANGE _Caminho das Estrelas I (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora