Às vezes eu gostava de me imaginar voando, mas sempre acabava caindo no final sem conseguir manter a altura na qual estava. As vezes eu me imaginava como pessoas diferentes, já fui um idoso, uma mãe de família, um soldado que salvou o país, um bêbado e mais recentemente me imaginei como uma criança que fazia parte de uma família feliz, mas não consegui saber se estava criando os cenários certos para a família feliz da próxima vez acho que vou tentar ser um gato ou quem sabe uma ave já que sempre me imagino voando.
—AURORA!.—Meus olhos se fecham imediatamente quando o grito agudo perfura meus tímpanos como agulhas de tortura. Minha mãe certamente não poupará fôlego para gritar meu nome.
Fechei os olhos com força, eu poderia ser um camarão ou talvez um tubarão.
Outro grito
Um serial killer poderia estar fazendo uma visitinha para minha mãe, fechei os olhos pedindo a qualquer divindade que pudesse me ouvir - por favor, que seja um serial killer. - já estava cansada de repetir meus dias em um loop, um Serial Killer iria dar uma mudança drástica em meus dias.
Repito como um mantra até pousar meus pés apressados na sala, tropeçando pela rapidez impressionante na qual me movo afobada. Não poderia ter tanta sorte, então a primeira coisa que vi ao pôr meus pés na sala foi minha mãe com uma garrafa de whisky vazia em sua mão direita e um cigarro amarelado em sua mão esquerda o qual ela tragou profundamente, seu rosto pequeno e delicado cheio de traços finos estava avermelhado pela bebida ou pela raiva que ela obviamente sentia já que seu delicado rosto angelical se contorcia em uma carranca, alguém deveria avisar para ela que carranca dá rugas e se continuar assim seu rosto será uma uva passa.
Lembro-me quando fui um idoso que gostava de jogar mahjong, sequer sei jogar mahjong.
Não poderia dizer que era uma novidade encontrá-la assim, minha mãe poderia ser bem adicta ao álcool ainda que não admitisse isso, quase todas as noites eram exatamente desta forma, uma garrafa de uísque na mão direita, um cigarro velho na mão esquerda e roupas apertadas que valorizavam o corpo perfeitamente esculpido que ela ainda exibia mesmo que , na minha opinião, ela já estivesse fazendo hora extra na terra com o tanto de álcool e nicotina que ela ingeria todos os dias desde que eu ainda era uma pirralha.
Eu poderia ser como Cinderela moderna, tirando o príncipe, o pai rico, os pés pequenos e a voz bonita, e ainda meu interior clamasse para adicionar 'ratos' nesta lista, eles eram mais abundantes nesta casa do que eu gostaria que fossem, e diferente da cinderela que é amiga dos ratos, eu mato ratos a vassouradas, okay, talvez eu não seja assim tãoo parecida com a cinderela.
Poderia me imaginar como uma cinderela também.
Suspirei ainda grogue pelo sono quando uma fina e embolada voz começou a soar pelo pequeno cômodo que chamávamos de sala, ainda que ele também fosse cozinha e se não fosse por mim, provavelmente lixeira e cabide poderiam ser agregados nesta lista também.
— Sabe a quanto tempo eu estou te chamando porra? — Meus olhos balançavam junto com a garrafa em sua mão conforme ela gesticulava em minha direção. Sua fala estava atrasada, como sempre quando ela se encontrava bêbada, e mais alta que o normal. — Estava dormindo enquanto a casa está esta imundície? Se não vai trazer dinheiro para casa ao menos se dê ao trabalho de limpar a maldita casa! — Precisei conter a vontade de revirar os olhos, mesmo sua fala parecia algo clichê, até a madrasta da cinderela faria algo melhor que isto, mas bem... eu não sou a cinderela e ela com toda a certeza não é minha madrasta, infelizmente.
Ainda que sua fala estivesse alta ela parecia tentar falar mais baixo ainda que fosse inútil para uma bêbada, e eu sabia o motivo e este motivo tem nome e sobrenome porém eu o chamo adoravelmente de irmã, ela neste exato momento se encontra dormindo no andar de cima após chegar de seu emprego seja lá qual ele for, coisa que apenas sabia por ter em plena madrugada acordada para lavar as roupas dela já que 'elas são de pura seda, e não podem ser lavadas em uma máquina xexelenta' palavras dela não minhas, e eu estava lá até agora pouco, lavando aquilo que ela chama de roupas. —OLHA PARA MIM QUANDO EU FALO!. —A madrasta malvada gritou com a pequena cinderela.
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Aurora
WerewolfLivro escrito quando eu tinha 12-13 anos.Ta horrível a escrita. Você foi avisado! Primeiros capítulos tiveram trabalho beta na época. Aurora uma garota única que vê o mundo do seu jeito "colorido" e que já viu o pior do mundo, mas continua lutando...