Fugir

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AURORA

Uma vez sonhei que encontrava meu amor verdadeiro em meio a uma multidão, ainda que ele fosse um unicórnio e eu tivesse doze anos.

— Minha.—

Meu corpo paralisou como se algo o apertasse fazendo-me perder seu controle, quando percebi a atenção que recebemos com todos aqueles olhos voltados para a pequena comoção, todos naquele salão começaram a parar aos poucos o que estavam fazendo e começaram a olhar em nossa direção, ou melhor, em minha direção a garçonete de cabelo colorido. Eu poderia virar uma pedra agora, ou quem sabe um sapo, poderia até mesmo desaparecer se dependesse de minha vontade. Engoli em seco sentindo minha garganta apertando como se minhas mãos envolvesem meu pescoço quando o pânico começou a me consumir, principalmente por culpa daquele par de olhos intensos que me encarava de volta bebendo-me sem pudor algum. Apressei minha respiração ao roçar minhas coxas uma na outra, me sentindo quente.

Meus pés começam a se mover sem que recebessem uma ordem minha, porém não em direção ao meu alvo de desejo e sim na direção oposta, como uma presa eu virei e me pus a fugir sentindo que seria sua comida se continuasse parada encarando aquele par de olhos azuis, minha cabeça latejava com uma única pergunta em meio a toda aquela confusão, perguntando-me que merda acabou de acontecer.

Sim, definitivamente aquilo era uma merda.

A primeira coisa que vi assim que firmei meus pés na cozinha foi meu chefe de braços cruzados e com uma carranca no rosto, carranca que fechou ainda mais assim que me viu entrando pela porta com a bandeja ainda pela metade em mãos. Murchei em resposta.

—Srta. Aurora, o que faz aqui dentro?— Perguntou lançando o olhar sobre a bandeja que a ponta de seu sapato batia contra o chão de forma impaciente. Me encolhi. Precisava do dinheiro que recebia daqui.

Merda.

Respirei fundo.

—Chefinho— A doçura em minha voz fez um brilho de aversão passar por seus olhos o que quase me fez rir, porém me mantive com meu olhar pidão de olhos brilhantes e tristes. Pisei em sua direção, porém sem me mover realmente. — O senhor não vai acreditar no que aconteceu! Desceu! Minha menstruação desceu! É eu to toda melada de sangue!— Lambi os lábios ao acabar de falar, tentando relaxar sobre minha mentira, meu nariz não começaria a crescer por uma simples mentira, ao menos assim eu espero. Sorri ao ver sua carranca morrer enquanto suas bochechas adquiriram uma tonalidade rosada, observei ele levantar uma sobrancelha em minha direção antes de balançar a cabeça em negação ficando cada vez mais vermelho.

—Apenas some da minha frente Aurora!.—Ele se rende cansado, e eu vibrei e sem pensar duas vezes saí correndo daquele lugar aos tropeços.

CHRISTOPHER

O que minha vida tinha de longa ela tinha de infeliz, e hoje, meu aniversário número 323, como o Alfa da alcateia eu era obrigado a dar uma festa apesar de já não sentir a vontade de festejar se é que um dia senti, talvez um dia eu tenha sido feliz porém agora me parecia tão irreal quanto uma miragem no deserto, foram tantos aniversários que aquele ritual se tornará sem sentido, se desgastando e perdendo todo o ar especial que deveria ter ao comemorar aquele ano de vida, mas era necessário, como o alpha de uma das maiores alcateias eu precisava socializar com as outras e mostrar que ainda era poderoso, perda de tempo na minha opinião, aquele tipo de festa só servia para me lembrar que eu era incompleto comparado as outras pessoas me relembrar o quanto minha vida era agonizante de ser vivida, todos com suas almas gêmeas enquanto eu completava mais um ano sem encontrar minha companheira.

A cada dia, a cada ano... eu apenas ficava mais vazio sem encontrar aquela que fui destinado a amar.

Entretanto quando eu senti aquele cheiro tudo mudou.

Era ela, minha companheira, quando nossos olhares se cruzaram e eu falei profundamente eu soube que ela era minha. Com seus olhos castanhos em um quase âmbar brilhantes e genuinamente vivos, cabelo tão colorido quanto o arco-íris parecia combinar perfeitamente com sua aparência, seu nariz arrebitado e pequeno que enrugou-se levanta ao cheirar o ar á procura de algo como o nariz de um coelhinho adoravelmente movendo-se, pele lisa como o mármore a qual eu amaria profundamente e seus lábios cheios e atraentes como o inferno foi como se meu mundo parasse e ela se tornasse o centro de tudo, meu tudo. Tremi com meus pensamentos, podia sentir meu membro duro e meu coração acelerado combinando com o frio em meu estômago. Algo em meu interior puxava-me em sua direção, dando-me vontade de percorrer todo seu corpo curvilíneo com meus lábios apreciando como ela deve ser apreciada.

Não consegui reagir de primeira, ela parecia tão pequena e indefesa com suas bochechas grandes e rosadas que ficavam mais e mais rosadas conforme seu olhar permanecia ligado ao meu, estava tão maravilhado e enfeitiçado por seu cheiro e por sua aparência que eu apenas queria aproveitar cada segundo aquele momento porém quando percebi ela havia fugido, deixando apenas o seu cheiro como uma lembrança de sua presença, me lembrando que ela era real e não uma alucinação.

Eu estava triste por estar separado dela, eu precisava dela para respirar.

Minha companheira, meu novo motivo para viver.

AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora