CAPÍTULO 4

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É um fato, as coisas acontecem nos piores momentos para te constranger. Eu estava apresentando um seminário durante a aula de Estética e Filosofia quando "Hey ! Oh! Let's Go!" do Ramones começou a tocar interrompendo a minha apresentação. Senti meu rosto ficar vermelho, porque eu conhecia aquele toque, e seria muita coincidência que mais alguém tivesse essa música como toque de celular, na mesma versão que a minha.

– Desculpa! Esqueci de desligar. – falei enquanto buscava meu celular para silenciá-lo.

Lydia Smith era uma senhora extremamente respeitada no meio, mas estava para existir alguém mais mal humorada do que ela. Ela tinha uma regra nas suas aula que era de silêncio absoluto. Ridículo, eu sei, mas era como era. Na mesma hora que ela percebeu que o celular tocando era o meu, ela fez uma careta e pegou a caneta. Tenho certeza que eu estava prestes a perder pontos naquele momento. Para minha surpresa, Caleb, começou a batucar na mesa no ritmo da música, o que rendeu um olhar mortal da bruxa. Mas Caleb era bom demais para se deixar abater por isso, e ele detestava Lydia tanto quanto eu. Isso é a única coisa que explica ele ter começado a cantar Ramones em alto e bom som na sala de aula, fazendo a turma acompanhá-lo.

Ah sim, você deve estar se perguntando de onde Caleb surgiu, né?! Então deixa eu te dar uma rápida explicação: nós somos da mesma turma de calouros. Caleb é um daqueles tipos que parece que atrai todos à sua volta, sabe? Alto, bonito, inteligente, com um ar meio rebelde que contrasta com o óculos que ele usa religiosamente, divertido e educado. É difícil não se sentir cativado pela magia dele, e confesso, eu não resisti também. Nós tivemos um namoro rápido, que terminou quando eu descobri que ele tinha ficado com outra garota. Era de se esperar que eu ficasse chateada com ele, certo? Errado. Claro, eu fiquei irada quando aconteceu, mas depois passou. O problema era que Caleb não queria que nós fôssemos amigos, ele queria que nós continuássemos namorando, e quando ele percebeu que isso não aconteceria, nos afastamos. Daí pra frente ele ignora a minha presença a maior parte do tempo. Por isso, como você pode compreender agora, o meu choque quando ele veio em meu socorro.

– Parem com essa bagunça na minha aula! – Lydia se exaltou enquanto Caleb me lançava um olhar cúmplice. – Senhor Clark, onde o senhor pensa que está? Isso é uma sala de aula, não um concerto de rock.

– Professora, isso é um hino. A senhora poderia aprender a relaxar um pouco de curtisse uma boa música. Além disso, Ramones inspira artistas o tempo todo. A senhora já viu aquela exposição "Ao Ritmo dos Ramones", do pintor chileno Pablo Echaurren? Eu vi quando estava em Roma e achei fantástico.

Pelo sorriso que Lydia deixou escapar, eu sabia que Caleb tinha feito sua mágica novamente. Ela fez trocou algumas informações com Caleb e eu sabia que ela nem lembrava mais do que tinha acontecido. Assim, eu terminei de apresentar o meu seminário e retornei para meu lugar, que por acaso estava uma cadeira à frente e à esquerda de Caleb. Foi quando eu peguei meu celular para conferir a ligação e vi que o número era do Museu. Droga! Eu tinha perdido a ligação. Eu ainda estava lamentando quando a aula terminou.

– Caleb! – eu chamei quando vi que ele já estava se afastando e ele olhou para trás com a sobrancelha erguida. – Obrigada.

Ele não disse uma palavra, mas deu de ombros e deixou um ligeiro sorriso escapar, tentando demonstrar que não era grande coisa o que tinha feito, mas ao mesmo tempo gostando de ter sido reconhecido. Senti umas borboletas voarem no meu estômago mesmo contra a minha vontade. Esse era o "Efeito Caleb", o qual eu ainda me pegava lutando contra mesmo depois de todo esse tempo.

De repente, o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora