CAPÍTULO 2

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Se você pensou "o idiota que jogou o café no chão", você não poderia estar mais certo. Lembra quando eu disse que eu atraia muito mais coisas ruins que a Bella Swan? Tá aí a prova! Murphy me ama muito, pode falar! O "idiota" era apenas o coordenador que iria me entrevistar e tínhamos tido o pior primeiro contato possível. Fale-me sobre causar uma péssima primeira impressão.

Enquanto eu olhava para o cara sentado atrás da mesa e de cabeça abaixada fazendo anotações, senti o sangue fugir do meu corpo. Olhei para porta e considerei fortemente ir embora. Mas aí, o lance era o seguinte: se eu fosse embora, adeus estágio dos sonhos; se eu ficasse, ainda tinha uma chance, por menor que fosse.

- Pode sentar que já te atendo. - ele disse sem nem levantar a cabeça.

OK, se ele disse, quem sou eu para contrariar, certo?! Com toda a minha classe, sentei na cadeira em frente à mesa, cruzei minhas pernas na altura dos tornozelos (como aprendi em "O Diário da Princesa") e coloquei minhas mãos cruzadas sobre o joelho. Enquanto arrumava minha pose, dei uma avaliada no cara. MEU DEUS!! COMO VOCÊ ME DEIXA FAZER ESSAS COISAS, DEUS?! ACHEI QUE TU ERA MEU PARÇA! O cara era lindo, para simplificar as coisas. Lindo do tipo modelo da Armani, YSL, Gucci... Essas marcas todas. Cabelo castanho entre o curto e o precisando de corte, maxilar bem definido, barba feita pela manhã. Só não conseguia ver os olhos. Em compensação, a blusa de manga comprida agora estava com a manga puxada para cima e eu via claramente tatuagens. Muitas. Outra coisa sobre mim: eu amo tatuagens, tenho um verdadeiro abismo por caras tatuados.

Foi exatamente nesse momento, que eu estava dando uma "checada" nele, que o deus grego resolveu levantar a cabeça e me pegar no flagra. Ainda bem que eu estava muito fascinada com a beleza dele ou teria dado uma gargalhada ao ver sua reação.

- Você? Você é a Sophia? - não sei se havia mais surpresa ou indignação no seu rosto.

- Isso mesmo. Sophia. - dei meu melhor sorriso como se não fizesse ideia de porque ele estava chocado.

- Você só pode estar brincado! Só pode ser uma piada da vida.

- Não estou entendo... - mantive a pose.

- Não? Tem certeza? Você sempre esquece o rosto das pessoas com as quais você grita na rua? - ele flexionou os braços sobre a mesa me observando mais atentamente.

- Na verdade, não. - disse, me rendendo. E já que era para falar a verdade, era melhor contar tudo de uma vez. - Foi só uma tentativa de que talvez, se eu fingisse que não te conhecia, você poderia não ter certeza se era realmente eu a garota da manhã.

Ele continuou me observando atentamente por alguns segundos antes de falar. Nesse meio tempo, eu já tinha prometido rezar novenas para todos os santos que eu conhecia se eles me ajudassem.

- Péssima psicologia a sua. Isso apenas deu a impressão que você faz isso o tempo todo.

- O quê? Gritar com desconhecidos? Claro que não, eu nunca faço isso. Juro.

- Eu devo discordar de você, Sophia.

- Hoje foi uma excessão. - respondi já nervosa com essa conversa.

- Quer dizer que você nunca grita com desconhecidos. - ele frisou essa parte. - Com conhecidos você não tem pudor, é isso?

- Não! Olha, você está entendendo tudo errado. Eu sei que o que aconteceu mais cedo não me dá muita credibilidade, mas eu realmente não sou assim sempre. - falei como se tivesse engolido uma vitrola.

Se o que eu tinha acabado de falar era verdade ou não, ele não precisava saber. Eu só precisava convencê-lo que era verdade. Como diz o ditado, no amor e na guerra vale tudo.

- Compreendo. - eu percebi um ligeiro sorriso passar pelo seu rosto, mas ele logo se recompôs. - Bem, Sophia, eu sou um profissional, e como tal, eu vou deixar de lado o nosso... desastre da manhã, vamos chamar assim. Sua avaliação será feita de forma imparcial. A propósito, meu nome é Josh.

- É um prazer conhecê-lo, Josh. - estiquei minha mão para cumprimentá-lo. - E obrigada pela oportunidade. - ele balançou a cabeça em concordância.

- Vamos começar então por esse ponto, por que você se candidatou ao estágio?

Imediatamente sorri porque veio à minha mente como minhas amigas reagiriam a isso se estivessem aqui. Iria do "E lá vamos nós" até "Obrigada por perguntar, só sairemos daqui amanhã". Com isso em mente, tentei ser suscinta na resposta, mas enumerei para Josh o meu amor pela arte e minha vontade de trabalhar com isso. E o quanto eu estava ansiando nos últimos três anos por esse momento.

E foi nesse momento, meu caro amigo, que Josh soltou uma gargalhada. Não foi um sorriso ou uma risadinha. Foi uma gargalhada, daquelas épicas. Se eu fosse representar Josh por emoticon nesse momento ele seria aquele da carinha sorrindo e chorando. Muitas dessas na mesma mensagem. Advinha que ficou se sentindo uma palhaça pensando no que havia falado e que pudesse ser tão idiota para merecer essa reação? Isso mesmo, euzinha aqui.

- Hum... Desculpa, mas acho que eu perdi a piada que eu contei. - falei um tanto constrangida enquanto Josh se recompunha.

- Olha, existe um certo prazer trágico para mim nessa sua espera. Há uma beleza poética que eu só posso dizer que esse foi um troco antecipado que a vida te deu. - ele achou que estava me explicando algo, posso dizer isso claramente pela sua expressão.

Só que eu ainda não estava entendendo nada. Nadinha mesmo.

- Oi?

- Você esteve esperando por três anos uma vaga de estágio aqui, certo?! Nesse setor, pelo que entendi. Você quer saber o que é divertido? É que você ficou esperando esse tempo todo porque esse foi o tempo que eu estagiei aqui. Eu me formei no último semestre e como você pode perceber, eles logo me ofereceram um emprego. Não é maravilhoso que você tenha esperado todo esse tempo por mim? - Josh abriu um sorriso que, se eu não estivesse querendo voar no pescoço dele por ser tão idiota, acharia que era um sorriso muito bom.

Nesse momento eu totalmente compreendi porque algumas pessoas matam em momentos de raiva. Eu cogitei isso por uns 3 segundos, mas quando comecei a enumerar os contras, logo desisti. Não precisei ir muito longe, foi só pensar que as roupas do presídio são totalmente fora de moda e que a comida também não é das melhores. Sem contar que isso ia totalmente atrasar minha faculdade e meus pais provavelmente me matariam para não ver a filha deles sendo capa dos jornais por cometer homicídio. Então, fui obrigada a sair da minha fabulosa alucinação para retornar à entrevista.

- Entendo seu ponto. Não deixa de ser uma piada, né?! - estou me profissionalizando na arte do sorriso amarelo, talvez até dê um curso sobre isso. - Acho que isso te coloca na frente do placar.

- Não ainda. Já te falei que você não é boa em psicologia. - daí pra frente, a entrevista correu normal, por incrível que pareça.

Eu confesso que apesar de todas as expectativas, achei que tinha ido muito bem na minha entrevista. A única coisa que poderia pesar muito desfavoravelmente seria o lance do café, mas aí eu já tinha feito todas aquelas promessas de novena, né?! Não tinha muito mais que eu pudesse fazer.

- Ok, Sophia. Nós entraremos em contato com você até o final da semana para te dar uma resposta. Até lá, evite gritar com as pessoas na rua, nunca se sabe quando você vai encontra-la de novo. - Josh levantou e esticou sua mão para me cumprimentar. Quanta audácia dele em falar isso para mim!

- Claro. Seria bom também se você não andasse correndo por aí sem olhar para frente, nunca se sabe quando você vai deixar alguém sem café, certo? - sorri fofa enquanto me despedia dele.

Quando eu fechei a porta atrás de mim, sentei logo na primeira cadeira que vi. Queria mesmo era ter deixado meu corpo cair contra a porta, de tão exausta que eu estava depois dessa montanha-russa de emoções, mas eu precisava manter o mínimo de compostura. Fiquei uns 5 minutos repassando a minha vida e no quanto a sorte me amava, só que não. Me diz, qual a possibilidade no mundo de que isso pudesse acontecer?


De repente, o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora