1. O fim

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A batalha entre o reino de Hastabur - que compreende as quatro cidades litorâneas do oeste do mundo e suas seis vizinhas diretas - e as forças aliadas de Keshvi, a Donzela da Escuridão, já durava mais de cinco anos.

A morte estava em todo lugar, para ela não havia distinção entre bem e mal, pobre e rico. Ela ceifava sem misericórdia e seu sorriso era visto por aqueles que chegavam ao último suspiro.

Com seus generais de guerra, chamados de A Congregação dos Condenados, e o exército de descendentes das trevas - criaturas deformadas oriundas dos lugares mais sombrios - a Donzela marchou durante meses em direção à Hastabur. Ela veio dos confins do mundo com apenas um objetivo. Dominar a cidade-capital e se sagrar rainha do reino. Não havia vaidade em seus propósitos, tudo que Keshvi queria era levar o caos ao restante do mundo. A feiticeira havia se apaixonado pelo caos. Em seu íntimo, Keshvi via beleza na desordem, na morte e na tristeza alheia. Sua magia servia apenas para destruir e com esse ideal ela marchou.

Jeremy, o rei, já estava ciente da chegada das tropas da Donzela. Haviam informantes de Hastabur em todos os cantos do mundo. O fator surpresa que ela esperava ter a favor, na verdade, foi invertido para o lado do rei. E, apesar de ter uma quantidade bem inferior de homens na guerra, o exército real foi vencendo as batalhas. O conhecimento antecipado da vinda da Donzela e também o domínio sobre a geografia da região permitiram emboscadas e táticas eficazes de guerra.

E foi assim que a guerra chegou a seu fim.

***

- Avante, homens! - Bradou o Rei Jeremy às suas tropas. - Vasculhem todas as áreas deste acampamento para que não fuja nenhum descendente das Trevas.

O rei, sempre destemido, liderou o exército de Hastabur pelas terras do oeste. Seus homens diziam que nada lhes poderia dar mais coragem que o detentor da Coroa estar à frente deles, lutando pelo seu povo. Muitas vezes Jeremy era o primeiro a entrar no campo de batalha. Ele convocava suas tropas a o seguirem empunhando a espada forjada no Fogo Dos Dragões aos céus.

A luz do sol refletia na lâmina afiada do aço. A parte letal era grande e

pesada, em toda sua extensão havia um dragão gravado que brilhava num tom turquesa ao receber os raios de sol. O cabo feito em madeira nobre tinha dois dragões entalhados em espiral numa espécie de coreografia sensual. As cabeças, olhando para a baixo, se encostavam na parte inferior, os olhos eram de esmeraldas.

Essa havia sido a espada do pai de Jeremy, o rei Charles. Ele a ganhou dos Guardiões de Eternidade, um lugar misterioso no extremo leste do mundo onde os monstros e criaturas inimagináveis habitam. Os Guardiões são seres mágicos que mantem o portal de Eternidade fechado. Charles conseguiu aprisionar em Eternidade uma criatura nefasta chamada Gankion e recebeu a espada como recompensa.

Nas mãos de Jeremy fora a primeira vez em que a espada saíra da bainha.

- Vamos, homens! Vamos à luta e se os deuses quiserem que seja a nossa última batalha, assim será, mas iremos até o fim, por nossas famílias!

A coragem de Jeremy era notável e comovia seus homens. Não havia medo em seus olhares, só a certeza de que defender o reino era o certo a se fazer e que se morressem, seria uma honra ter lutado ao lado do homem mais nobre que eles já haviam conhecido.

Cavalgando pela guerra, Jeremy vira muitos de seus homens morrer no caminho. Homens dos quais sabia o nome, conhecia suas famílias. Mas como toda guerra, sempre há perdas e nessa não foi diferente. Apesar da tristeza que era deixar aqueles soldados para trás, o combate devia continuar. Todo soldado morto que Jeremy encontrava após o fim de uma batalha, ele se agachava, e com a mão direita no peito do cadáver, jurava que iria vingar a morte daquele que jazia em sua frente.

A dama de amareloOnde histórias criam vida. Descubra agora