2. A festa

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I

Quando a notícia de que o povo do oeste havia vencido a guerra chegou aos ouvidos das pessoas houve uma euforia enorme em todo o reino. O povo entendeu que era momento para festejar.

Após dez dias, quando o rei chegou de volta à cidade capital, o silêncio pairou no ar por alguns instantes, ninguém sabia exatamente o que dizer ou como reagir. Alguém que não pôde mais se conter gritou de algum lugar "graças aos deuses, o rei está de volta!". Muita alegria nos sorrisos das pessoas e lágrimas nos olhos. Enquanto Jeremy caminhava em direção ao castelo, as pessoas o reverenciavam. Afinal, o rei estava vivo.

Quando chegou ao castelo, Jeremy foi recepcionado pela filha, que veio correndo em sua direção e pulou em seus braços.

- Papai!

Enfim o abraço tão esperado. Ele a apertou com força, mas de forma gentil para não machucá-la. Passou a mão direita pelos longos cabelos da filha, que agora estava grande demais para ser carregada no colo como fizera tantas vezes antes da guerra. Os olhos da princesa eram azuis como o céu e estavam grandes e cheio de lágrimas. Eles se afastaram por um longo segundo e ela contemplou o rosto do pai.

Jeremy estava nitidamente cansado. A barba loura escura estava grande e desgrenhada demais, muito diferente daquela que cultivara antes da chegada de Keshvi. Os cabelos lhe caiam até a altura das omoplatas e estavam muito sujos. O rosto estava muito magro, grandes olheiras sustentavam seus olhos cansados, haviam pequenas cicatrizes espalhadas ao longo dos braços e das mãos e a pele bronzeada num tom encardido pela demasiada exposição ao sol. Ainda assim, sua beleza era notada atrás dessa carcaça desgastada.

O rei andou em direção à rainha, deu um beijo na testa da filha e um no rosto da esposa, abraçou ambas ao mesmo tempo e disse:

- Acho que preciso de um bom banho, estou imundo.

Os três riram enquanto as primeiras lágrimas de alívio desciam pelo rosto da rainha.

***

II

Agora Jeremy era ele novamente, ou quase isso. A barba fora aparada e os cabelos, apesar de continuarem grandes, não estavam mais sujos e mostravam brilho digno de um rei.

Jeremy decidira que o povo devia comemorar e esquecer, mesmo que temporariamente, a dor e o sofrimento dos últimos anos. A rainha concordara com a ideia e disse que eles deviam anunciar ao povo. A família real caminhou pelos grandes corredores do castelo e as pessoas que lá trabalhavam tinham a mesma feição de sorriso misturado às lagrimas. Eles saíram na varanda do castelo que dava de frente com o centro da cidade. Jeremy tocara o sino do topo do castelo.

- Hastabur, sei que esses últimos tempos foram de muita tristeza e perdas. - Enquanto Jeremy falava, as pessoas paravam para ouvi-lo, muito atentas às palavras do rei. - A morte esteve à espreita apenas aguardando o momento certo para dar seu bote. Mas, apesar de tudo isso, nós vencemos e acredito que mereçamos momentos de alegria agora. Portanto, hoje faremos uma festa com tudo que temos direito. Preparem-se para a farra. Estão todos convidados. Nos vemos à noite!

As pessoas ovacionaram o rei, que retribuía com acenos para todos os lados, e foram começar os preparativos para a festa. Havia muito a ser feito para este momento tão esperado.

Quando a noite chegou tudo estava pronto. No centro da cidade havia um grande mastro de madeira onde várias cordas haviam sido amarradas e saiam em diferentes direções. Em cada corda haviam sido amarradas pequenas redomas de vidro em várias cores com uma vela acesa dentro. O efeito colorido que aquela decoração causava enchia os corações das pessoas de vida.

A dama de amareloOnde histórias criam vida. Descubra agora