I.
Na manhã seguinte à discussão, Jeremy decidira ficar um pouco mais na cama apesar da bela manhã ensolarada de outono. May o havia acordado e ele dissera então que gostaria de tentar descansar um pouco mais. Ela, então, se levantara e se trocara para ir de encontro à filha para que pudessem tomar café da manhã juntas.
Ele ficara na cama olhando fixamente para o teto e pensando em tudo que estava acontecendo a ele. Ponderava sobre suas atitudes nos últimos dias e onde estava indo agindo daquela forma. A esposa havia dito para queimar a caixa e isso ele não faria, de jeito nenhum. No entanto, ela havia mencionado a filha também. O instinto paterno do rei havia entrado em alerta. Talvez aquela situação já tivesse ido longe demais, era hora de pôr um fim naquilo. A filha, a esposa e todo o reino precisavam dele e naquele momento ele não estava ali, pelo menos não mentalmente.
Logo pulou da cama, se trocou e pegou a caixa. Foi para um dos vários cômodos vazios do castelo. Trancou a porta e se sentou em uma cadeira. Estava ofegante, as pupilas dilatadas e o coração acelerado. Suas mãos suavam frio, seu pescoço estava duro e tenso. Estava agora a um movimento de desvendar o mistério por trás daquela tampa de madeira.
Analisou a caixa mais uma vez, passou as mãos por toda a superfície e com os dedos indicadores fez o contorno da coroa entalhada na tampa. Sentiu uma força atraí-lo cada vez mais para dentro da caixa.
Com o polegar da mão esquerda tirou a trava e então, vagarosamente (talvez fosse o medo o impedindo de fazê-lo mais rápido), levantou a tampa...
Ao terminar de abri-la, o que Jeremy viu foi um forte clarão invadir o quarto. Fora ofuscado por aquela luz branca que agora o deixara paralisado. Ele olhava fixamente para dentro da caixa amarela e, apesar do fato de estar ofuscado, enxergou muito além do que podia e do que queria.
II.
Jeremy acordou na orla da praia da cidade-capital, estava um pouco zonzo, como se estivesse acordando ainda bêbado depois de uma longa noite regada a muito vinho. Ao abrir os olhos a claridade ardeu. Aquela sensação de tontura viera mais forte e então ele vomitou na areia branca e fina.
Limpara os resquícios de vômito que ficaram nos lábios com o braço direito e cuspira os restos que estavam dentro da boca. Ficara deitado mais alguns minutos, de olhos fechados, esperando que a tontura cessasse.
Abrira vagarosamente os olhos e desta vez não tivera o mesmo impacto da luz. A tontura, aparentemente, diminuíra. Se apoiou nos braços e tentou sentar. Olhou ao redor e notou que estava só.
- Pelos deuses, onde estou? Como vim parar aqui? - Perguntou para o nada ainda sentindo a garganta ardendo e amarga.
Tentou se levantar, mas as pernas fraquejaram e caiu sentado de novo na praia.
"Não se apresse, Jeremy". Aquela doce e conhecida voz. Mais forte e mais presente do que jamais estivera.
"Você está na praia da cidade-capital. Se olhar para trás verá que digo a verdade".
De fato Jeremy reconhecera o lugar.
- O que estou fazendo aqui? - Repetira a pergunta.
"Lhe trouxe aqui para lhe mostrar algo".
- O que? E como vim parar aqui?
"Quantas perguntas. Tudo ao seu tempo. Vá para a cidade, você vai querer ver o que está acontecendo".
Tentara se levantar de novo, desta vez com sucesso. E então começou a caminhar de volta à cidade. Ao chegar lá ele se deparou com uma cena que o deixou muito desconfortável. A pobreza havia assolado o reino. O povo estava nas ruas, clamando por ajuda.
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A dama de amarelo
HorrorO rei Jeremy é conhecido por sua generosidade e justiça. Homem nobre e fiel aos seus princípios ele entra na guerra contra Keshvi e os Descendentes das Trevas para que a paz seja restaurada em Hastabur. No entanto, um objeto misterioso encontrado no...