4. Gia

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I.

Os dias se passaram e o reino se mostrava cada vez mais esperançoso. O povo ainda vibrava ao se lembrar que a guerra havia chegado ao fim.

A princesa Giovanna brincava com seus amigos no pátio do castelo quando o rei apareceu para participar da brincadeira.

- Do que vocês estão brincando, crianças? - Indagou o rei em tom divertido.

- De "capture o monstro", papai - Disse a princesa.

- Ora, eu sou muito bom nessa brincadeira, Gia.

Ao dizer isso, Jeremy deu um urro bem alto e levantou os braços, as crianças se espalharam pelo pátio.

- Venham! Venham me pegar seus diabinhos! - bradou, aos risos, o rei forçando uma voz caricata de monstro.

Parecendo sincronizado pelas crianças, todas correram na direção do rei e pularam em cima dele ao mesmo tempo. Com o peso das crianças, Jeremy caiu no chão e deu muitas risadas, fazendo cócegas em todos e dizendo coisas como "Eu vou devorar vocês, pequenos cabritinhos" ou "jamais vão conseguir me capturar". As crianças riam e o abraçavam. Para Jeremy nada podia lhe trazer mais alegria ao coração do que ouvir as risadas sinceras das crianças do reino e, em especial, de sua filha.

Desde o dia em que nascera Giovanna, Jeremy se dispôs a cuidar dela. Por não ter tido pai - o rei Charles, pai dele, faleceu da doença do sussurro quando o filho ainda estava na barriga da mãe -, o rei sabia da importância de estar sempre por perto e fazer parte da formação da filha. Ela se tornou o mundo dele. Por Giovanna, Jeremy faria qualquer coisa.

Durante os anos de guerra, não houve uma noite sequer na qual Jeremy não sonhara com ela. Seus sonhos o levavam de volta ao castelo, onde podia brincar com a filha.

O sentimento que tinha pela filha - que talvez somente amor não seria suficiente para descreve-lo - era tão grande que quando a menina nasceu, o rei passou cinco dias em claro vigiando-a, alerta a qualquer choro de fome ou sono, sempre pronto para cuidar dela.

A vida dele havia se tornado cuidar da filha para que nada de ruim lhe acontecesse. E até então ele havia realizado a tarefa com sucesso.

***


II.

O quarto da princesa tinha tudo que uma criança gostaria de ter. Todos os tipos de brinquedos, bolas, bonecas, casinhas, dados, piões, cavalinho, tudo, tudo. Além disso, as paredes tinham estampas de animais em paisagens bem coloridas, havia também uma parede na qual Giovanna e os amigos podiam pintar e escrever o que quisessem e, por fim, o teto, pintado com uma tinta especial para quando ficasse escuro, as várias estrelas e a lua pintadas ali se tornassem fluorescentes, clareando e tornando o quarto da princesa num verdadeiro universo.

Ora, tantos agrados poderiam fazer da menina uma criança mesquinha e mimada, no entanto, parecia que a humildade dos pais havia abraçado seu consciente. A menina aprendera que devia tratar todos da mesma forma e que seu título não deveria ser utilizado como forma de diminuir alguém. Ao que parece, a lição foi bem absorvida, porque não há uma criança da cidade-capital da qual Giovanna não saiba o nome. Todos a adoram, até mesmo os adultos do reino reconhecem que a princesa terá um futuro longevo e próspero quando a coroa lhe for passada.

E a verdade seja dita, para Gia o pai era como um herói, uma lenda como das histórias que a mãe lhe contava para dormir. Ela sempre ouvia com muita atenção todos os ensinamentos que o pai proferia. Tinha consciência, a despeito da pouca idade, que era importante o que o pai dizia e mais ainda que deveria compreender e assimilar tudo.

A dama de amareloOnde histórias criam vida. Descubra agora