Prólogo *

4.2K 276 86
                                    

Há muito tempo atrás, dentro de uma floresta há muito esquecida, existia um reino.

Era um reino muito pequeno, porém todos eram felizes e viviam seus dias sem medo, felizes e em paz. Todos amavam seu rei e sua rainha, e esses amavam o povo.

Uma noite, porém, quando a aldeia estava em mais um de seus festejos de fim de ano, um grito foi ouvido, não um grito de uma pessoa, mas o grito de uma coruja, ela estava pairando em cima da rainha quando soltou seu piado estrondoso. Em seguida foi embora.

Os aldeões não deram nenhuma importância a isso.

Porém, na lua cheia que se seguiu, a rainha foi encontrada morta sem seu coração.

A maldição então, foi ouvida pela primeira vez:


"Uma canção de morte sobre sua cabeça entoará
O grito da coruja seu destino selará
A cada sete anos, doze gritos se seguirão
Uma chamada a cada lua servirá de marcação.
Apenas com o fim do mal esse tormento cessará
Pois a morte com a morte se deve pagar
Ou depois de sete anos o sofrimento voltará.
"

De onde essa profecia amaldiçoada veio? Ninguém sabe, porém todos acreditaram.
O medo foi invadindo, como uma erva daninha, o coração de cada habitante desse reino, e esse medo só aumentava a cada lua cheia, quando uma nova vítima era encontrada.

Doze mortes foram antecipadas por doze gritos horripilantes que ecoavam no céu, um a cada lua cheia.

Depois das doze primeiras mortes alguém da aldeia teve uma ideia: deveriam caçar e matar todas a corujas, pois seus gritos traziam a morte e se não tivesse corujas, não teria gritos e se não tivesse gritos, não teria mortes.

Assim a primeira coruja foi morta... Depois a segunda... Depois a terceira... Até não restarem mais nenhuma. E por um tempo a aldeia voltou a viver em paz.

Uma nova rainha assumiu o trono, ela tinha uma beleza sem igual, muitos homens caíram por causa dela. Seu coração, porém era negro, sua alma estava corrompida, ela maltratava a aldeia, criou muros ao redor do castelo para que nenhum aldeão pudesse se aproximar, era orgulhosa, vaidosa, sedutora, manipuladora, sempre conseguindo o que queria, e o pobre Rei estava tão enfeitiçado que apoiava todos os feitos da Rainha, como uma marionete que tinha de obedecer aos movimentos de seu condutor.

À pedido da Rainha, o Rei expulsou aldeões de suas casas obrigando− os a irem morar na floresta e destruiu suas casas para que dessem lugar a um jardim gigantesco de rosas vermelhas. A maldade da Rainha não tinha fim.

A vida, entretanto seguiu seu curso e nenhum grito de mal presságio foi ouvido desde o massacre das corujas, e esse triste evento foi esquecido.

A aldeia estava novamente em festa, celebravam o festival de início de ano. O céu estava iluminado pela enorme lua cheia, sem nuvens, apesar do brilho da lua as estrelas pontilhavam o céu enfeitando aquela noite alegre, varias tochas iluminavam o festival.

O batuque dos tambores soava animado, seguido pelos dedilhados certeiros no bandolim e pelas palmas empolgadas dos aldeões, enquanto as vozes já alteradas pela bebida elevavam aos deuses preces de agradecimento pelo ano vindouro.

Um grito estrondoso, porém, fez a alegria dar lugar ao silêncio e o silêncio deu lugar ao pânico, eis que o sétimo ano chegara, e a coruja acabara de anunciar a próxima vítima.

O canto da Coruja  (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora