Descobertas*

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Ela caiu com tudo em cima de uma rocha, e a transformação insistia em dar lugar a seu corpo humano com suas forças se esvaindo, mas ela sabia que permitir isso era perigoso; quem atirou a flecha devia estar próximo, e como foi apenas uma flecha lançada, ele deveria estar sozinho e ser bom em caçar aves.

Seu corpo tremia querendo ceder à transformação, seu tamanho ficava mudando a cada momento, ela cerrou os olhos forçando seu corpo a continuar na forma de coruja, a com muito esforço conseguiu. Então ela o viu, ele veio em sua direção e a segurou. Ela sentiu a dor pelo corpo por causa do movimento e o fitou com ódio no olhar.

E então ele procurou algo em sua bota.

− Droga! Devo ter deixado na casa - ela o ouviu dizer e olhando pra ela continuou a falar sem imaginar que ela o entendia. − Não posso levar você lá, se a dona voltar ela com certeza vai querer minha cabeça empalhada.

Você entrou na minha casa? - Ela se indignou - Eu jamais vou querer sua cabeça feia, mas sua morte será muito bem vinda! - Ela pensou com ódio.

Ela o fitava com raiva, mas sua dor estava ficando cada vez maior que seu ódio e o medo da morte eminente começou a tomá−la. Ela viu a surpresa, o reconhecimento e a duvida aparecerem nos olhos verdes dele.

Uma nova onda de dor passou por seu corpo quando ele a movimentou para amarrar seus pés. Ele a colocou uma arvore e voltou para a casa dela.

Como ele pôde? − Ela se perguntou mentalmente − Eu sabia que não podia confiar nele. Ele seria minha morte − se repreendeu − Não posso perder tempo pensando nele, tenho que sair daqui.

Sua forma humana tomou conta de seu corpo, era uma medida de proteger sua vida, seu corpo de coruja tinha pouco sangue e o perdia rapidamente, já sua forma humana poderia salvar sua vida. Então já humana de novo ela saiu dali antes que o caçador voltasse.

Assim que ficou longe o bastante tirou a flecha de seu braço tentando não gritar e estancou o sangue com a mão, a madrugada esfriava cada vez mais e ela estava nua e sangrando. Se não chegasse a sua casa com certeza morreria. O caçador ainda devia estar procurando por ela e isso o manteria afastado de sua casa. Com esse pensamento ela deu a volta para retornar a sua casa por um caminho que não cruzasse com o do caçador.

Ela seguiu por entre as arvores, tentando não gritar toda vez que perdia o equilíbrio e batia seu braço machucado contra uma arvore, mas nem sempre conseguia conter o grito antes dele sair de sua boca.

Suas forças iam e voltavam, sua visão começava a escurecer e suas pernas fraquejavam pela perda de sangue, forçou suas pernas a darem mais alguns passos vacilantes e então a escuridão a tomou.

Quando acordou estava na sua casa, na sua cama, seu braço havia sido enfaixado, e seu corpo foi limpo e coberto com um lençol.

Ao seu lado, sentado numa cadeira, estava o caçador. Ele estava com os olhos fechados e aparentava dormir. E ela esperava que ele estivesse realmente dormindo. Ela fitou o teto, procurando alguma resposta ali, apesar de saber que jamais encontraria. Queria tempo pra criar uma explicação logica para o que ocorrera, e torcer para que ele não juntasse os fatos e a matasse ali mesmo. Quando o olhou novamente, ele a fitava com olhos inquisidores e desconfiados.

Ela sentiu um tremor de medo e angustia a afligirem quando ele falou:

− Então Suindara, por que não começa a se explicar?

Ela pensou em algo que pudesse dizer e que não parecesse que ela era uma louca ou um demônio.

− Por que me trouxe pra cá? − Ela tentou mudar de assunto e ganhar tempo.

− Aqui é sua casa não? Mas não mude de assunto. Como se machucou? E o que estava fazendo nua na floresta ainda mais de madrugada?

Ela ficou vermelha e abaixou a cabeça.

− Então? Me responda! − Ele pediu firme.

− Eu sai pra... − ela começou mas não soube o que dizer

− Pra? − Ele insistiu.

−E−eu não lembro. − Ela mentiu gaguejando.

− Então deixe−me lhe contar o que aconteceu: Eu encontrei essa casa por acaso, estava perseguindo uma caça e acabei por perde−la de vista e como estava longe da minha casa ia passar a noite aqui, se ela estivesse abandonada, claro. Mas ela não estava não era? Você mora aqui! Como eu soube? Tinha roupas suas, alias as mesmas de ontem a tarde, jogadas no chão da sala. Logo decidi esperar você voltar, já que não estava em casa, não queria que pensasse que algum desconhecido tinha invadido sua casa. Então depois de passar horas esperando, decidi ir procurá−la nas redondezas, e caso não achasse voltaria pra cá e tiraria um cochilo. Mas ao me distanciar da casa eu avisto minha caça que eu estava perseguindo mais cedo, eu já disse que era uma coruja?

Ele analisava cada reação que ela tinha, ao ver seu rosto ficar pálido sabia que estava chegando onde queria

− Enfim, como um bom caçador, tirei uma flecha e atirei acertando a asa direita da coruja. Eu então vim até a casa buscar a faca que havia esquecido aqui, quando eu voltei a coruja havia sumido; havia pegadas no chão e eu supus que você tivesse mais uma vez salvo a coruja, segui o rastro de pegadas e gotas de sangue, algum tempo depois escuto um grito de dor e andando mais um pouco encontro a minha flecha jogada no chão, o grito era seu então eu apressei meus passos pensando que algo tinha acontecido com você. E qual minha surpresa ao te encontrar nua e caída desacordada no meio da floresta, com o braço direito com um ferimento semelhante ao causado por uma flecha, e nenhum sinal da coruja.

Ela tinha perdido toda a cor ao escutar a narrativa dele, e sabia que mentir só o enfureceria, mas contar a verdade colocaria a vida dela nas mãos dele, e ele já havia tentado mata-la uma vez, certo que ele não sabia que era ela, mas não se pode confiar em caçadores.

− Então como explica o que aconteceu? E não diga que não sabe ou não se lembra. Pois sei que está mentindo. − ele pressionou ainda mais mostrando que não ia deixar aquilo de lado − Eu atiro uma flecha na noite, acerto uma coruja, e encontro você com uma ferida de flecha no mesmo local que feri a coruja, e não somente isso, mas a coruja tinha seus olhos!

Ele se exaltou e a agarrou pelo braço que não estava machucado

− Eu reconheci seus olhos nela, e que coruja tem olhos azuis? Não existe coruja com os olhos azuis. Eu não estou louco! Pelo amor de Deus, eram seus olhos, você olhava pra mim através daquela coruja! é isso ou eu estou ficando louco! − ele a olhou e ela viu o medo e um pedido silencioso de ajuda, ele realmente estava com medo de estar ficando louco e ela soube que não podia mentir quando por fim ele perguntou − Você era aquela coruja?


***

Pessoas do meu S2... gostaram do capitulo? espero que sim... não se esqueçam de votar pra me incentivar a continuar escrevendo esse livro!

Próximo capitulo sera a resposta dela ao caçador, como acham que ele vai reagir???


O canto da Coruja  (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora