The King and The Knight // l.s

Sir Tomlinson parte

Com o fim das aventuras em busca do Santo Graal todos os cavaleiros sobreviventes voltaram à corte, onde houvesse muitas festas, celebradas com alegria. Somente Sir Tomlinson e a rainha Guinever guardavam imensa tristeza. O retorno do Cavaleiro do Lado fez reacender em ambos o antigo amor, ainda mais forte e ardente, o que amargurava terrivelmente o cavaleiro, pois ele havia jurado ao ermitão afastar-se da rainha, já que seu destino era com o Rei. Esta, por sua vez, não compreendia a frieza do amante.

Enquanto isso os olhares pérfidos de Sir Agravaine e de Sir Mordres não deixam de segui-los, aproveitando ou criando oportunidades para incrimina-los e atrair a suspeita de outros cavaleiros sobre o caráter da Rainha e de Tomlinson.

Mas, com a chegada da primavera, época em que os cavaleiros florescem e se alegram com a proximidade do verão, Sir Tomlinson, incapaz de manter sua promessa, cedeu aos apelos do coração. Para Sir Agravaine e Sir Mordred, era a oportunidade que esperavam, pois passaram a insinuar que o Rei estava sendo traída e que era preciso alerta-lo.

- Por favor, senhores. Peço-vos que não continueis a dizer tais coisas na minha presença. - interrompeu Sir Gawaine, irritado.

E todos os outros cavaleiros foram da mesma opinião.

-Pois então nós o faremos! - disseram Mordred e Agravaine. - O rei tem de saber.

-Seria horrível que houvesse uma guerra entre nós e o Sir Tomlinson. -ponderou Sir Gawaine. - Muitos nobres ficariam do lado dele. Eu mesmo devo a ele minha vida. Não podemos esquecer tantas boas ações praticadas por tão caloroso cavaleiro.

Atraído pela discussão acalorada que se seguiu, o rei entrou no salão. Nesse momento Sir Gawaine e todos os outros cavaleiros pediram permissão para se retirar, e saíram.

Era a grande chance guardado por Agravaine e Mordred, que, imediatamente, relataram o que sabiam das relações de Tomlinson com a rainha.

Harry, que dedicava tanta afeição, amor a Tomlinson e devia tanta à sua bravura e coragem, não levou essa história a sério, gostava tanto do Sir Tomlinson que não confiava neles de ter o Sir em outras mãos a não ser a sua.

Mas os dois muito insistiram e propuseram um plano: o rei sairia para caçar, dizendo à rainha que não voltaria senão no dia seguinte; Sir Mordred e Sir Agravaine ficariam escondidos próximo aos aposentos da rainha esperando Sir Tomlinson, para então desmascara-lo. O rei concordou, embora a contragosto.

Na verdade, a intenção dos cavaleiros intrigantes não se resumia em surpreender Tomlinson em falta grave, mas matá-lo, e para isso contavam com auxílio de doze homens.

Conforme o previsto, Tomlinson foi surpreendido a caminho dos aposentos de Guinever, mas reagiu e lutou bravamente. Embora sozinho e sem armadura, matou na luta Agravaine e seus dozes companheiros. Mordred, apenas feridos, sem demora procurou Harry, a quem relatou o ocorrido.

O rei foi então tomado de imensa dor, pois via a um só tempo desfazer-se para sempre a Tavalo Redonda - já que muitos cavaleiros seguiriam Sir Tomlinson - e o seu casamento. Como soberano, cabia-lhe fazer cumprir a lei, que previa a morte na fogueira para o crime de adultério. Fez chamar seus sobrinhos Gaheris e Gareth e ordenou-lhes que escoltassem Guinever para a morte.

Julgando faltas as provas apresentadas por Mordred, os nobres irmãos imploraram pela misericórdia de Harry. Mas todos os seus apelos e os de outros cavaleiros presentes foram inúteis. Restou-lhes apenas dizer:

- Iremos, senhor, porque é vossa ordem. Mas é contra a nossa vontade. Não levaremos armas, como símbolo dessa missão de paz. - E retiraram-se, chorando amargamente.

Mordred, no entanto, não gozava da confiança de muitos cavaleiros da corte de Harry, que, sem demora, trataram de informar Tomlinson sobre a dura decisão do rei. Por isso, no momento em que Guinever era levada para a morte, surgiu Tomlinson acompanhado dos seus partidários, que lutaram até libertar a rainha, fugindo em seguida com a dama condenada.

Na luta feroz que se travou, morreram muitos bravos cavaleiros, entre eles Sir Gareth e Sir Gaheris, que não estavam armados nem sequer puderam reagir.

O Rei Harry ficou desolado com a morte de tantos cavaleiros, principalmente de seus sobrinhos.

- Quem me dera essa guerra nunca tivesse começado! - lamentava ele. - Meu coração está pesado por todos os cavaleiros e amigos que perdi e ainda vou perder.... Posso vir a desposar outra mulher, mas nunca terei um grupo de companheiros tão valorosos. Ah, por que dei atenção a Mordred e Agravaine? E quando Gawaine souber que seus irmãos Gaheris e Gareth, tão bons e leais, tão queridos, tão amigos de Tomlinson, também foram mortos, será o fim de tudo....

Sir Gawaine, ao ser informado da morte dos seus irmãos não só jurou que não daria descanso ao Calaveiro do Lago, como também influenciou Harry a não receber todas as missões de paz enviadas por Tomlinson.

Deflagrou-se uma guerra encarniçada entre outrora tão unidos cavaleiros da Tavola Redonda. Centenas de feridos e mortos de ambos os lados tornaram tão famosa a contenda, que chegou ao conhecimento do papa. Em pouco tempo uma ordem papal veio de Roma até Camelot: que cessassem imediatamente as hostilidades.

O Rei Harry e Sir Tomlinson, então encontraram-se para firmar a paz. Tomlinson declarou seu arrependimento com toda a sinceridade e trouxe a Rainha Guinever para entrega-lá ao rei. Harry prometeu aceita-lá como ordenava o pontífice.

O rei ficou tão magoado depois que a raiva passará, ele lembrará que cometeu adultério com Sir Tomlinson mas continuava a ser rei e mandava em tudo e sabia que o Sir Tomlinson não contaria a ninguém porque o mesmo ama o rei.

As palavras que Sir Tomlinson disse na ocasião foram tão sentidas e emocionantes, que todos em volta choraram copiosamente; nem mesmo Harry conseguiu conter as lágrimas que lhe escoriam pelo rosto.

Entretanto, o rei também prometerá a Sir Gawaine que ele poderia vingar a morte dos irmãos, desde que não empregasse violência. Impaciente, Gawaine aproximou-se e, apesar de toda a emoção do momento, disse com altivez:

- Podes pedir perdão e prometer penitência, Tomlinson podes mesmo amolecer o coração do rei e de todos os outros, mas o meu continuará duro. Como Sua majestade fez uma promessa ao papa e eu devo respeita-la, sairás daqui com vida. Mas o rei também me fez uma promessa, e nós temos um acordo. Eu devo te dar uma punição: serás banido. Não poderás ficar nesta terra mais do que quinze dias; iras embora para sempre e nunca mais porás os pés neste chão. Assim pagaras pela morte de meus irmãos.

Harry sentiu seu coração terminar de quebrar e as lágrimas marcaram o rosto de Tomlinson, que, com humildade, aceitou o exílio que lhe foi imposto. Despediu-se de sua terra querida e dos amigos.

Tomlinson, então, uniu a mão direita de Guinever à mão direita de Harry. Montou no seu cavalo e partiu. Deus cavaleiros, solidários, acompanharam-no às suas terras na França, declarando que nunca abandonariam, nem por bem, nem por mal.

Não houve uma única pessoa na corte que não chorasse, exceto Sir Gawaine.