Capítulo 1

1.3K 46 5
                                    

"Esta história começa em Londres, nos dias atuais e há bem pouco tempo atrás."

O relógio na mesa de canto marcava 8:15. Na penumbra daquele quarto, a porta deslizou suavemente e nele entrou um cão da raça dálmata em passos lentos e decididos. Circundando a cama, ele foi até onde havia uma pessoa enrolada em cobertas, que dormia profundamente.
O cão sentou-se observou o suave ressoar da pessoa adormecida. E, sem aviso prévio, emitiu uma forte sequência de latidos que ecoou no quarto.
- Minha nossa senhora, puta que pariu!
A garota levantou-se de supetão da cama, aturdida e assustada, sem conseguir enxergar direito. Tropeçou no próprio chinelo ao lado da cama, deu um tapa no abajur e dominada pela tontura de ter se levantado muito rápido, caiu novamente na cama procurando se concentrar.
O dálmata continuava sentado, olhando-a fixamente e abanando a cauda. Ela remexeu-se na cama, piscou algumas vezes para aguçar a visão e murmurou, enquanto o cão se aproximava com a intenção de subir na cama.
- Dois Tons, você tem que fazer isso todos os dias...? Ah na-na-na! Na cama você não sobe, volta pro chão, garota!! E ainda são oito e quinze de domingo!
Puxou novamente a coberta sobre a cabeça o que induziu o dálmata a latir mais uma vez.
- Ah, tá bom tá bom! Já estou levantando! Onde já se viu, eu sendo mandada por um cachorro!

~*~

Igraine Radcliffe morava em um pequeno e singelo bangalô perto do Rigerst Park, em uma rua de residências simples e que ainda conservavam uma forte arquitetura antiga. Não tão antiga como determinadas construções londrinas, mas ainda sim conservavam a aparência de elegantes bangalôs, de casas estreitas, coladas umas ás outras, desprovidas de quintal e portão. Possuíam apenas um pequeno lance de degraus até a porta e um minúsculo jardim na lateral.
Todo o bairro era composto por construções semelhantes, que davam ao local uma atmosfera antiquada,porém agradável. Embora fosse situada na cidade londrina, era um local calmo, com ruas limpas e arborizadas. Os moradores estavam, inclusive, acostumados com turistas que passavam por ali para admirar a arquitetura da época.
A residência de Igraine era um sobrado que outrora pertencera a seus avós nos primeiros meses do casamento. Logo depois eles haviam comprado uma fazendo no interior, onde puderam criar calmamente sua quantidade absurda de cães da raça dálmata. Assim, o pequeno sobrado ficou durante muitos anos sendo alugado até que Igraine, libertando-se daquela vida inteira passada no campo, arranjara um emprego em Londres.
Como o custo de aluguéis seria muito alto para uma jovem recém-formada, seus avós concederam em lhe ceder a casa pelo tempo que ela precisasse para trabalhar e se habituar em viver por sua própria conta.
O que, obviamente, não estava se mostrando tão fácil e esplendoroso como muitos diziam.
Após tomar um banho e trocar de roupa, Igraine olhou-se diante do espelho, procurando tentar dar um jeito em seus cabelos castanhos. Fazer aquelas mechas loiras nele não deu muito certo e seu cabelo estava mais rebelde do que o habitual. E a cabeleireira errou de novo no corte, melhor procurar outro salão na próxima vez. Optou por amarrá-lo em um rabo de cavalo baixo e, ao notar o típico dia londrino, com seu ar úmido de suave garoa e nuvens cinzentas, se limitou a colocar uma calça de moletom e a camiseta com Greenpace estampada. Tratou também de passar uma maquiagem leve para esconder um pouco a palidez e olheiras de mais uma madrugada varada na internet em busca de informações sobre comércio ilegal de peles animais , coisa que ela abominava totalmente.
Ouviu um barulho vindo do andar de baixo e desceu as escadas, indo em direção á cozinha. Encontrou-a ocupada por três pessoas as quais estava habituada em ver. Nanny, a diarista que vinha ajeitar a casa duas vezes por semana, sua amiga Yukie e seu amigo-irmão Valder.
- Mas o que está havendo aqui?
- AHHHH!!
Se o grito de susto dos três tivesse sido ensaiado, não sairia tão perfeito.
- Igraine! O que faz aqui? - indagou Yukie, que era uma japonesinha miúda e uma tiara com orelhinhas de gato.
- Eu moro aqui.
- Ma-mas é que...que...
- Estávamos preparando as coisas para sua festa de aniversário. - falou Nanny tirando uma bandeja do forno com o delicioso aroma de empadinhas.
- Gente, não precisa disso! - falou Igraine sem graça. - É só um aniversário em casa, chamei vocês para ficar de boas aqui, não precisa fazer nada. A gente pede uma pizza depois.
- Ah, mas de jeito nenhum! - falou Nanny. - Festa de aniversário tem que ter bolo, chocolate, sanduíches e salgadinhos!
- E presentes! - emendou Valder sorrindo alegre. - Deixamos seus presentes encimado sofá!
- No...sofá...?
Como se percebessem a razão do medo estampado no rosto de Igraine, todos correram para a sala (Valter ainda segurava a tigela na qual batia a massa do bolo) e, viram no sofá, um amontoado de papéis picados e, no meio deles um alegre vira-lata castanho de grandes olhos gentis.
- Furacão! Você fez de novo?!
Sabendo que havia aprontado, o cão murchou e saiu rapidamente do sofá. O gato preto, deitado no parapeito da janela, apenas balançou a cauda.
- Bom..pelo menos ele te livrou do trabalho de abrir os presentes...

The Cruel BeautyOnde histórias criam vida. Descubra agora