Capítulo 36

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~*~

- Se você sabia que DoisTons estava grávida, por que não me avisou, Nanny?

Na mesa da cozinha, Cruello e Igraine comiam avidamente o lanche da tarde que Nanny lhes preparara. Ela serviam ais uma xícara de café para Cruello, qe pegava o terceiro pão de queijo e passava requeijão por cima.

- Ora Igraine, eu imaginei que você soubesse... a Dois Tons estava mais dorminhoca e comilona...Aceita uma fatia de bolo, senhor Devil? - Nanny ofereceu a fatia para Cruello.
- ..o.brigado.
- Mas... dorminhoca e comilona ela sempre foi! E ela nem estava barriguda, no fim estava esperando só um bebê então..deveria ter me falado que estava suspeitando da gravidez dela!
- Eu acabei esquecendo, muita coisa na minha cabeça, muita responsabilidade....e ora Igraine, você estava bem ocupada com outras coisas! E pelo que vi, estava muito ocupada na hora do parto também!

Igraine corou enquanto Cruello parecia ocupado demais em comer mais uma fatia de pão com requeijão enquanto verificava as notificações no celular.

- Mas o que me surpreendeu nem foi a confirmação de que DoisTons estava grávida e iria parir justo hoje mas com o que vi quando cheguei no quintal!

**flash-back**

- Agora temos que esperar a Nanny voltar.. .- Igraine direcionou-se para o tanque a fim de se lavar... - Vou ver se tem alguma roupa seca na lavanderia.
- Quanto tempo faz que estamos aqui? - resmungou Cruello. - Eu preciso ir para a Devil's! Tenho trabalho a fazer, reuniões, contatos...tanta coisa pra fazer e eu aqui, sentado no chão de um quintal imundo olhando uma cadela que acabou de parir um rato branco!
-Ah Cruello, me poupe... o que você veio fazer aqui mesmo?? - Igraine alfinetou - Não estamos nem a meia hora aqui.

- Para mim já é tempo demais! Maldita hora que resolvi ver qual erao barulho no quintal. Se tivesse ficado quieto, teríamos namorado mais um pouco, sua cadela teria parido de qualquer jeito e eu já estaria indo embora para o meu trabalho.
- Ora, ora... - Igraine sorriu divertida - Não reclame, veja pelo lado bom...estamos só eu e você aqui fora, em trajes mínimos... e bem... nos podíamos usar esse tempo para namoramos mais um pouco?

Cruello a mediu de cima á baixo e um sorriso tremeu em seus lábios.

- Não está saciada ainda?
Ela sentou-se no colo de Cruello e logo ambos já estavam a trocar longos e intensos beijos. Nunca em sua vida Cruello pensara que chegaria o dia em que transaria em uma lavanderia mas também nunca imaginaria que transaria em um celeiro.
- Espera, espera!
- O que foi?
- Não podemos fazer isso. Não aqui, não agora.
- Por quê? Estamos presos aqui mesmo sozinhos, sem nada pra fazer.
- Não estamos sozinhos.

Ela indicou com os olhos Furacão que arfava e abanava o rabo e para DoisTons que lambia o filhote e em seguida olhava fixamente pra eles.
- Eu...- Igraine começou. – Não posso fazer isso na presença deles!
- ...são cachorros! Não entendem nada disso!
- Eles são inteligentes, sim! Não posso fazer sexo com eles assistindo! DoisTons acabou de parir, ela pode ficar em choque e o filhote presenciar isso pode ser traumático para a formação dele!

Ela saiu do colo de Cruello e foi acariciar DoisTons, deixando Cruello estarrecido.
Com um suspiro frustrado, ele recostou-se na parede amaldiçoando a própria situação. Olhou com raiva para o filhote branco que mamava. Era tudo culpa dele.
- Droga, de torneira que não abre!
Ele olhou para Igraine, que estava debruçada no tanque.
- Pode me ajudar aqui?
- ..por quê?
- Ora, por quê! Eu preciso de água!
- Você abriu essa torneira antes, deve conseguir agora.
- Eu acho que fechei com muita força! – ela esperou alguma manifestação da parte dele, que não ocorreu. – Será que tenho de pedir com todas as palavras pra você me ajudar?
Com um resmungo, ele se levantou.
- Sai, deixa eu ver isso.
Ele tentou abrir, sem sucesso. Forçou um pouco mais mas parecia que estava emperrada. Girou-a com força, sem sucesso.
- Que raios de força você usou para fechar essa porcaria?
- Eu não sei! Pode ser que pegou pressão, essa torneira anda pingando e sou totalmente contra o desperdício de água. Então sempre acabo tentando apertar bem a torneira pra fechar. Mas ela está meio enferrujada e pode ser que tenha emperrado.
- ...existe alguma coisa nessa choupana que está funcionando corretamente?
- Primeiramente minha casa não é choupana. Segundo é uma casa antiga que requer reformas mas eu não sou rica como você que posso ter dinheiro para bancar tal coisa de uma vez. E terceiro...senão tem capacidade para abrir uma torneira, apenas admita e não fique querendo criticar minha casa!
- Mas você está realmente muito bocuda hein, garota? Você não era assim no começo do relacionamento!
- Desculpe se te decepciono! Mas não aguento mais...
- Ou ficou assim por conta da convivência com Scarlet ou quando quebrei teu hímen também quebrei seu selo de bocuda!
- ...como pode dizer uma coisa dessas com tamanho descaramento?!
- Eu falo mes...AAAAAAAH!

Cruello girar com força a torneira, rompendo-a e fazendo um jato forte de água atingi-lo no peito.
- Mas que carralho!!!! Faz alguma coisa!!! Eu vou me afogar!!
Igraine rapidamente foi até o registro, desligando-o. A pressão da água foi diminuindo até cessar por completo. Cruello olhou pra si mesmo encharcado.
- Eu já não aguento mais isso!
Ele se afastou, olhando para a calça encharcada. Tão absorto consigo mesmo que por pouco não pisou em cima do filhote recém-nascido.
- TOMA CUIDADO! Seu insensível! Quase pisa no bebê!
- Olha o estado em que fiquei! Essa calça custa uma fortuna, sabia?! Agora estou todo molhado e posso acabar me resfriando!
- Tire a calça e coloque pra secar! Aproveita que não tá chovendo e tem um vento, seca rapidinho!
- E eu vou ficar de cueca?!
- Eu estou de calcinha e sutiã e não estou reclamando!

Irritado, Cruello tirou a calça e a colocou no varal, ficando apenas de cueca e sapatos porque nunca que iria pisar naquele chão com pés descalços. Percebendo o quanto ele parecia irritado, Igraine se aproximou (não sem antes verificar se estava tudo bem com o filhote).
- Não fique assim....até que não é de todo ruim você ficar desse jeito. Pelo menos pra mim...
- ...não venha querendo me bajular por conta da minha bela aparência. Estou aqui e você não quer me agarrar porque acha que um cachorro vai ficar traumatizado!
Ele cruzou os braços no peito, emburrado.
- Okay, se é assim que prefere. – ela se sentou no chão, encostando as costas na parede. –Vamos ter que sentar e esperar por ajuda.
- ...você poderia muito bem pegar alguma ferramenta e tentar quebrar a fechadura da porta. Ou enrolar a mão em um pano e quebrar o vidro da janela da cozinha e entrar por ela.
- ...se está com essas ideias, por que você mesmo não faz?
- E correr o risco de me machucar? Não, obrigado!
- ...Devs faria isso sem problemas, ele até levou um golpe de canivete na barriga pra me salvar anos atrás.

Silêncio. Cruello observou entediado DoisTons lamber o filhote que logo caiu em sono profundo. Aquela coisinha só comia, dormia e cagava. Cruello suspirou e se sentou ao lado de Igraine (não sem antes verificar se aquela parte do chão estava limpa).
- Sente tanto assim a falta Dele?
- ....por que fala como se ele fosse outra pessoa? Você sofre de dupla personalidade por acaso?

Ele apenas revirou os olhos e não disse nada. Igraine pensou um pouco antes de falar.
- ...pode ter sido por apenas um dia mas...quando te conheci naquela vez, você era uma pessoa muito diferente do que se tornou atualmente. Entendo que talvez devido há tantas responsabilidades e ter que se adaptar á vida da alta sociedade não tenha sido fácil e precisou passar por mudanças. O pouco que já tive que fazer para o desfile já me fez perceber o abismo de diferença da minha realidade para a realidade da riqueza mas...você sempre foi rico, certo? Porque antes você se tornou um punk? E por que depois que herdou a Devil's abandonou tudo da sua época de punk? Quando te conheci, me pareceu que você gostava muito de ser e agir daquele jeito.
- ...tive meus motivos.
- Quais?
- São coisas do meu passado, Igraine. Já foram.
- Por quê não quer me contar? Eu...gostaria de saber.
- Não quero falar sobre isso. É desnecessário e estou muito bem sendo como sou atualmente.
- Mas eu gos...
- Você fica exigindo que eu fale sobre meu passado e minha vida antes de eu ser o que sou agora. Vejo que está bem curiosa mas a vida é minha e eu não estou á fim de falar sobre coisas que já foram. Eu também não sei nada do seu passado exceto sua vida de camponesa ordenhadora de vacas e vidinha caipira na fazenda dos avós!
- Você pelo menos conheceu pessoas da minha família! Não meus pais , mas aqueles que fizeram papel de avós e pais pra mim. Eu já não conheci ninguém da sua família, na verdade acho que nem a mídia conhece, tirando Cruella Devil.
- Bom, então me fale de seus parentes, primos, tios...pais! Se é casos de família que quer discutir.
- Eu gostaria de saber um pouco mais da sua família, de conhecer ela.
- Não há nada que precise saber sobre minha família e não há ninguém dela para você conhecer!

A forma como ele dissera aquilo, a fizeram concluir que não conseguiria obter mais nenhuma informação dele. Que Cruello se alterava fácil e dava xilique por qualquer coisa, era fato e já estava até se acostumando. Mas a forma como ele se alterara somente por estarem tocando no assunto "família Devil" o fazia se alterar de um jeito...diferente.
Talvez, assim como ela, ele não tinha bom convívio ou talvez até mesmo contato com os pais. Até porque para uma pessoa aceitar conviver com Cruella Devil, seria ou muito gananciosa ou muito desesperada.
Deitou a cabeça no ombro de Cruello, pegando uma das mãos dele entre as suas. Ele nada falou, mas também não se moveu, exceto e entrelaçar os dedos aos dela.

The Cruel BeautyOnde histórias criam vida. Descubra agora