Capítulo 40

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~*~


— SURPRESA!

Ah não.
Qualquer pessoa, no lugar de Igraine, ao ver quem estava na porta lhe recepcionando com um sorriso caloroso, ficaria feliz e retribuiria o gesto.
Mas não ela.
— Oh, minha querida! Não está contente em nos ver?!

Como se saísse de um transe, Igraine forçou um sorriso e abriu os braços, recebendo em troca, um abraço caloroso das duas pessoas que entraram na casa.
O tumulto chamou a atenção dos presentes na sala e, erguendo-se um pouco de onde estava sentada, Nanny percebeu quem eram as visitas e levou a mão aos lábios, surpresa. Ali estava um homem e uma mulher, ambos vestindo roupas surradas e com uma evidente aparência maltrapilha.
A mulher usava uma saia surrada que parecia ser feita com remendos de vários tecidos, uma blusa larga e inúmeros adereços rústicos pelo corpo: pedras amarradas em cordinhas no pulso e envolta do pescoço no maior estilo hippie. Os cabelos estavam desgrenhados e esturricados, com fios e mechas saindo pelo pano que Eça colocara para mantê-los presos. O rosto dela, fustigado de sol, parecia até um pouco sujo e ela não usava sapatos. O homem possuía uma barba longa meio arruivada e desgrenhada, as roupas velhas e sujas pelo longo tempo de uso e os cabelos longos pareciam uma juba, um pouco ocultados pelo exótico chapéu remendado e com algumas penas na ponta, que ele usava. As botas estavam extremamente gastas, com a sola deslocando e com barro seco grudado.

— ...não acredito!
— ...eita... – murmurou Valder. – São quem eu to pensando mesmo?
— Caramba, parece que vocês viram assombração! – Cruello ergue um pouco o corpo para ver as duas pessoas á porta da casa. – Mas que diabos...!

Ele se levantou, se aproximando.
— Igraine, pode parando com isso aí! Tudo bem se você gosta de ficar ajudando os pobres, dando uma de boa samaritana e coisa e tal. Pode ajudar com um pouco de dinheiro e um prato de comida mas não precisa chegar ao ponto de ficar abraçada á pedintes de rua! Pode acabar pegando alguma doença e...
— ...são meus pais.
Um silêncio tenebroso se instaurou no local. Cruello olhou para Igraine e então olhou para o casal á frente, que se afastara alguns centímetros de sua namorada.
— Ah, nem!

~*~

Surreal.
Aquilo era fora dos limites, até mesmo sendo algo vindo de Igraine.
Ou melhor, de Igraine ter vindo daquilo.
Após a súbita chegada dos pais, Igraine parecera murchar como uma flor no deserto e se relegava a fazer algumas perguntas e responder de forma meio monossilábica quando seus pais lhe dirigiam a palavra. O que, logo ficou evidente, não acontecia muito. Os pais de Igraine pareciam ansiosos e empolgados demais em narrarem sobre o que estiveram fazendo durante os três anos em que estiveram longe do que classificavam como "sociedade-urbana-consumista".

Após uma recepção surpresa e uma apresentação básica, todos sentaram-se na sala enquanto Nanny servia um lanche em uma bandeja, a qual rapidamente os pais de Igraine devoraram ferozmente, como se não estivessem em contato com comida abundante há algum tempo.

— Nossa Nanny, você continua fazendo sanduíches deliciosos, mesmo com todos esses ingredientes industrializados!
— ..obrigada, senhor Braum. Eu faço o que posso e Igraine também adora esses lanches.
— Me chama só de Braum, não gosto desses pronomes de tratamento . Ainda mais porque eu sou apenas um homem comum como todos os outros homens.
— Não quer se sentar no sofá, Amber?
— Ah estou bem aqui! – falou a mulher.

Ela estava sentada no chão, do lado da caminha de DoisTons, observando a cadela e o filhote enquanto o gato Mimo dormia em seu colo.
— Adoro o contato com os animais! Uma vez eu criei um filhote de macaco e ele até tentou mamar em meu peito mas eu não tinha leite, obviamente. Tão bonitinho ele!
Cruello olhou de soslaio para Igraine que evitou o contato visual.

The Cruel BeautyOnde histórias criam vida. Descubra agora