Capítulo 09

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O restaurante Gordon Ramsay, propriedade de um dos mais famosos chefs do mundo, cujo nome é o mesmo de seu restaurante, localizava-se no bairro Chelsea ,em Londres, ocupa o sexto lugar como restaurante mais caro do mundo.
O ambiente requintado e impecável do local, com seu estilo único e elegante, possuía lustres pendentes, de três tamanhos e cúpulas circulares. A iluminação que proporcionavam eram de tons claros que permitiam uma atmosfera clássica e requintada, que criavam um contraste de sombras valorizadas pelas paredes em tons de salmão. O chão era de carpete degradê em tons de roxo, combinando perfeitamente com as finas cortinas brancas das janelas. As mesas acomodavam de uma a até quatro pessoas, não mais do que isso. A exceção pertencia ás mesas no fundo do salão, com sofás em meia-lua que acomodavam até cinco pessoas. As largas cadeiras possuíam encosto completo, cobertas por tecidos de veludo na cor vinho.

Cruello Devil e Scarlet Medusa haviam sentado-se na melhor mesa do restaurante. O lugar só funcionava com reservas previamente feitas mas o sobrenome Devil permitia que os melhores locais de Londres sempre estivessem com sua melhor acomodação disponível, ainda que ela fosse feita com menos de três horas de antecedência.
Após serem recepcionados pelo gerente que fez questão de lhes oferecer as opções dos melhores pratos do cardápio. E, enquanto esperavam o agradável (prato) saboreavam um bom champanhe ( nome da marca) servido cuidadosamente pelo garçom mais experiente do estabelecimento.
- Um brinde...ao novo desfile selvagem da Devil's!
Cruello ergueu a taça de cristal na direção de Scarlet, que fez o mesmo. Sorveram um discreto gole da bebida e com um gesto o rapaz dispensou o garçom, que se retirou silenciosamente após fazer uma mesura.
- Precisamos encontrar logo um nome para esse desfile e iniciar a decoração temática.
- Farei com que a equipe de marketing comece as criações amanhã mesmo! - falou Cruello. - Agende uma reunião com todos os estilistas da empresa até o final da semana. Terei que entrar em contato com certas pessoas para conseguir "aquele" tipo de matéria-prima.
- É bom que comece a agilizar os contatos logo. Está cada vez mais difícil conseguir certas peças atualmente por conta do ativismo popular.
- Não me importo com eles. São os ativistas contra a Devil's. Veremos quem tem os melhores advogados e os melhores patrocinadores!
- Mas a mídia pode fazer um estardalhaço e agitar a opinião pública. Estamos na fase do politicamente correto.
- O povo é volúvel. O estardalhaço sobre isso sumirá assim que a próxima celebridade londrina aparecer causando alvoroço por estar bêbada!
Cruello sorveu outro gole do champanhe, colocando um ponto final naquele assunto. Scarlet colocou seu tablet ao lado dos dois aparelhos celular de Cruello sob a mesa e deu um rápido olhar envolta. Fazia meses que não jantava no Ramsay Gordon e, diante dos últimos restaurantes que esteve em suas longas férias, ali parecia excessivamente calmo. Poucas mesas estavam ocupadas e as que estavam eram por membros importantes e influentes não apenas de Londres. Chegou a ver um famoso diretor de cinema acompanhado por uma atriz de renome, na certa conversando sobre um novo filme.
- O que foi?
A vez de Cruello a tirou de seus pensamentos e ela o encarou. A beleza de Cruello era de uma simetria anormal. De fato, ele não se parecia com os antecessores da Devil's. Exceto pelo cabelo e gosto para roupas.
- Eu só estava aqui pensando. - Scarlet começou enquanto observava os vários talheres sobre a mesa. - Anos atrás, quando nos conhecemos...sequer imaginávamos que um dia estaríamos aqui. Em um lugar, vida e opinião tão diferente das daquela época.
- Foda-se o capitalismo, foda-se o sistema... - murmurou Cruello. - E agora sou o capitalismo e faço parte do sistema.
Ambos se encararam e então riram. Conscientes de que suas belas aparências e elegância eram algo impossível de se passar despercebido mesmo nos locais mais elegantes de Londres. Scarlet trajava um ousado e caro vestido da linha Devil's que ela mesmo desenhara, tendo uma tonalidade de vinho no estilo sereia que salientava suas curvas sinuosas. Cruello, por sua vez, usava um terno preto da melhor qualidade, sem um amassado sequer. As lapelas do terno eram de um dourado discreto que combinavam perfeitamente com o anel e o discreto par de brincos de ouro que ele usava. Apenas um olhar muito apurado notaria o formato de tesoura do brinco. Um sorriso surgiu nos lábios de Scarlet.
- O que foi?
- Nós mudamos muito, não é? Chega a ser difícil de acreditar.
A sombra de um sorriso pairou por segundos na face de Cruello e ele recostou-se um pouco mais na cadeira. Percebeu que os demais clientes do local ocasionalmente direcionavam olhares para si e prontamente se endireitou, empertigando-se daquele jeito que sempre fazia em público..Scarlet não deixou de notar esse gesto.
A beleza e imponência de Cruello Devil era algo que sempre o fizeram se destacar em meio as outras pessoas. Era assim desde que o conhecera, mesmo que naquela época ele fosse totalmente o oposto do que se tornara.
- E então, Cruello? - perguntou Scarlet ao vê-lo olhar, pela décima vez, para o celular pessoal que mantinha sob a mesa, ao lado do seu. - O que andou fazendo durante a minha ausência? Soube que não criou nenhuma polêmica nesse último mês e que está mais quieto do que galo castrado.
- Eu não estou quieto. Mas nesse mês aquele maldito jornalista não deu sinal de vida e estou podendo ficar em paz!
- Ah sim, soube que ele está de férias.
- Sim, eu também. Aquela febre do rato está de férias no Caribe! Usufruindo de mordomias com o dinheiro ganho por ficar se intrometendo na MINHA vida pessoal!
Cruello alterara um pouco o tom de voz, já se mostrando visivelmente irritado, os olhos reluzentes. Algumas pessoas olharam.
- Ai, ai acalme-se Cruello. Veja, eu lhe trouxe um presente!
Da bolsa, Scarlet retirou uma garrafa mediana de vidro marrom de baixa qualidade e um impresso adesivo com desenho mal feito.
- Que coisa de pobre é essa?
- Não é coisa de pobre! Bom...é coisa de pobre..mas é uma coisa de pobre cultural. É uma bebida típica da região Norte do Brasil.
- Pensei que você havia passado suas férias no Oriente Médio.
- E eu passei! Mas reservei a primeira semana para relaxar, pegar um bronzeado e me aliviar do stress que você me coloca, nas praias do Brasil. Eu não ia aparecer diante do sheik toda estressada e parecendo uma turista londrina! Enfim...encontrei essa bebida e o vendedor me garantiu que ela realmente surte o efeito que propõe. Não havia lembrança melhor para você que, como eu imaginava, está á um passo de perder o controle e isso seria um desperdício.
- Do que está falando?
- Assim sendo eu tinha o dever para com a sociedade, para com a comunidade feminina e para com a linhagem Devil, lhe dar esta bebida!
- ...que bebida?
Scarlet colocou a garrafa na frente de Cruello, com o adesivo bem visível.
- Esta bebida chamada CURA VIADO!
O rosto de Cruello ficou lívido e logo ele fechou os punhos com força. Estava abrindo a boca para dizer uma série de impropérios que vinham á sua mente quando Scarlet fez um discreto gesto para o garçom se aproximar.
- Posso ajudar-lhes?
- Por favor, nos sirva essa bebida, sim?
O garçom acatou e mesmo achando aquela garrafa estranha, a abriu e com elegância encheu duas taças. Scarlet sorria educadamente enquanto Cruello ainda mantinha o olhar mortífero sobre si. Quando o garçom se retirou, ela estendeu a taça na direção do jovem empresário.
- Um brinde ao sucesso de seu posto de macho alfa londrino!
- ...que porcaria é essa? Não vou brindar uma palhaçada dessas com uma bebida suspeita e altamente pejorativa!
- Ora Cruello, por acaso está querendo recusar com medo de que essa bebida cure a sua viadagem?
- O que está insinuando?
- Eu não estou insinuando nada! - Scarlet colocou a taça na mesa. - Mas convenhamos que sua popularidade na mídia e entre o meio da moda é bem dividida. Sua opção sexual é considerada um verdadeiro enigma. Ás vezes até eu fico em dúvida!
- Ora essa! Enigma? Eu sou muito consciente de minha opção sexual e você sabe muito bem qual é! Absurdo, só porque não fico me expondo e sou um símbolo de beleza e estilo as pessoas ficam criando teorias sobre mim! Absurdo.
Cruello cruzou as pernas e passou os dedos pelos cabelos, permitindo que seu anel de ouro e prata reluzisse. Scarlet o mediu de cima a baixo e fez uma careta.
- Vamos lá Cruello. Anos atrás se te oferecessem em um desafio, você beberia até acetona!
- ...aquilo foi passado. Um passado que já vivi.
- Como se não se orgulhasse do que você foi. Me poupe! Foi uma fase complicada da nossa vida, mas nos tornamos lenda!
- Houve poucas coisas proveitosas dessa "fase". O que posso tirar realmente de útil daquele tempo foi nossa parceria e o meu cabelo.
- Ainda bem que estou inclusa nisso. - ela estreitou os olhos. - Agora vamos lá Cruello. Seja homem e beba! Um brinde pela saída do anarquismo e entrada ao capitalismo!
Com um suspiro, Cruello aceitou o brinde, mas manteve o copo em mãos. Scarlet o encarou e ele a encarou de volta. Ela ergueu a sobrancelha e isso fez com que ele virasse o líquido do copo garganta abaixo. Scarlet pensou em falar para que ele bebesse apenas um gole mas era tarde.
Cruello colocou o copo na mesa em mostra de desafio concluído sem dificuldade. Ao sentir a queimação do líquido na garganta, ele arregalou os olhos, levando a mão á boca. Seu rosto pálido começou a se avermelhar com rapidez e ao notar que algumas pessoas nas mesas o olhavam com interesse, Cruello respirou fundo, fazendo um extremo esforço para não transparecer que seu corpo queimava como se estivesse em chamas.
- Vamos, beba água.
Ele aceitou o copo oferecido por Scarlet. Dane-se e não estava bebendo com elegância, não era hora para isso. Esvaziou o copo e bebeu o outro do lado. Passou a mão sobre os olhos, notando que lacrimejava.
- Está sentindo-se mal, senhor Devil?
- ... - ele negou , levando uma mão a garganta. - ...água...traga água...já.
O garçom obedeceu e em segundos voltou com uma discreta garrafa, imediatamente colocando o líquido no copo. E o garçom repetiu esse gesto cerca de cinco vezes até Cruello sentir-se satisfeito.
Scarlet segurava o riso de forma formidável, bebericando com elegância o champanhe. Tendo sua cor voltando ao normal, Cruello dispensou o garçom e encarou a mulher com vontade de enforcá-la lentamente.
- Recuperou sua masculinidade agora, meu bem?
- ...você me paga, Scarlet!
- De modo algum e se comporte, nosso almoço acabou de chegar.

The Cruel BeautyOnde histórias criam vida. Descubra agora