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acho que já reescrevi esse cap umas 30 vezes e nada ficava bom, mas enfim, aqui estou com uma perguntinha: o que vocês tão achando do michael nessa fic? :-) muahh

Gritos. Motivo pelo qual Michael acordou ás 4:00 da manhã. Gritos desesperados, frustados, capazes de deixar qualquer um que os ouvia louco.

Risadas. Altas, finas, femininas. Riam de Michael, se divertindo com a desgraça alheia, glorificando sua volta.

Xingamentos, fraquezas, medos. Todos os demônios de Michael resolveram se juntar para lembrar o menino como ele era inútil.

A cada som Michael se encolhia ainda mais em sua cama, cobrindo as orelhas com as mãos, achando que aquilo poderia calar todas aquelas vozes que moravam dentro de si.

Não demorou para sentir seus olhos queimarem, recebendo lágrimas grossas como resposta.

Como um incêndio.

Cada pedaço de angustia descia descontroladamente pela pele pálida de Michael, tornando seus olhos ainda mais desbotados, era quase impossível notar o verde presente ali.

Choramingava e murmurava coisas sem sentido algum, procurando alguma âncora que pudesse deixá-lo instável.

Michael virou bruscamente para trás, esperando encontrar o corpo de Luke adormecido sobre a cama em sua frente, como um pássaro em um ninho, mas a mesma vazia.

O único que poderia ajudar Michael, o único que fazia o coração do garoto se aquecer, sendo capaz de derreter todo o gelo que se transformara não estava ali.

Michael levantou, completamente confuso por não encontrar Luke em plena madrugada.

Ele foi embora. Ele me odeia.

Michael caminhou lentamente até a cama desarrumada, soluçando a cada passo. O mesmo objeto que em algum momento acolheu um corpo, agora, acolhia o seu.

Segurou o travesseiro do mais novo com força, enterrando seu rosto ali. Passou a ponta de seu nariz pelo objeto macio, suspirando na tentativa falha de sentir-se protegido apenas inalando o cheiro de chuva que Luke exalava. Queria sentir a presença do mais novo, sentir como ele poderia acabar com sua dor.

Michael chorava. Chorava como uma criança pobre ao receber um não na frente de uma vitrine. A cada soluço, o garoto de cabelos coloridos se sentia mais fraco. Ele estava insano.

"Nem sua família consegue te amar." Era um sussurro rouco, baixo, porém inexistente para pessoas que Michael considerava normais. "Sabe onde ele foi? Embora. Como seus amigos, todos eles. Como Oliver."

Michael precisava parar com aquilo ou seria capaz de cometer outra loucura. Levantou-se, lembrando do conselho que Luke lhe deu. Ele não deveria tomar os remédios.

"Eu não tomaria se você estivesse aqui." Choramingou, engatinhando até sua mala, procurando por qualquer frasco que fizesse o silêncio voltar a ser presente em sua mente. Suas mãos estavam tremulas. "Você poderia ser meu remédio." Sentia como se conhecesse o garoto loiro há anos, como se já tivessem passado por tudo aquilo juntos. Sentia aquele abandono que sentiu quando Oliver foi embora. Sentia como se Luke fosse Oliver.

Não tinha noção de quantos comprimidos havia em uma de suas mãos, ele apenas os encarava. Suas cores, formatos. Sabia que os mesmos tinham finalidades diferentes, mas ele precisava daquilo. Pensou em tudo que aquelas pequenas pílulas poderiam fazer em uma vida. Poderiam tanto aliviar quanto causar dor, como Luke. Para Michael, o garoto com olhos de lago poderia ser sua cura, mas ao mesmo tempo, sua sentença de morte.

Lembrou-se de Karen. Era tão fácil para a doutora dar aqueles remédios ao filho, por que era tão difícil para ele o fazer sozinho? Afinal, não era como se ele estivesse cometendo suicídio, ele apenas queria calar todas aquelas vozes que gritavam em sua cabeça e o tornava ainda mais inútil a cada risada.

"Michael?" uma voz soou atrás da porta, dando leve batidas na mesma, fazendo o garoto se assustar. "Você ainda está acordado?" As batidas eram constantes, porém baixas, deixando evidente que as mesmas só tinham objetivo de acordar quem estivesse dentro do quarto. Michael sentiu seu coração aquecer, ele conhecia aquela voz, não tempo suficiente para se dizer apaixonado por aquele som mas, provavelmente, era seu favorito. "Se me pegarem aqui, eu posso ser retido!"

"Luke..." Michael murmurou dentro do quarto, outro soluço. Não tardou para correr até a porta e abrir a mesma, sendo examinado por um par de olhos azuis, que possuíam as pupilas dilatadas por conta da escuridão. Fez questão de abraçar Luke como nunca abraçou ninguém, escondendo seu rosto na curva do pescoço do loiro, segurando sua camiseta como se o mesmo fosse fugir, deixando-a molhada em alguns pontos por conta das lágrimas que ainda desciam por suas bochechas.

Luke não disse nada, apenas envolveu os braços em volta do corpo tremulo que estava apoiado contra si. Deixou que o garoto chorasse, e ficaria ali com o mesmo quanto tempo ele precisasse.

Michael sentiu a pele quente de Luke, sentia sua respiração bater contra seus cabelos coloridos. Pôde inalar o cheiro de chuva que estava desesperado para sentir novamente, vindo do dono legítimo. Michael sentia as mãos de Luke nas suas costas, como se o garoto entendesse e soubesse pelo o que ele estava passando, como se também ouvisse os gritos frustrados em sua mente, mas isso não acontecia. Luke era normal.

~*~

"Não adianta, Michael. Eu não sei quem é Luke." Ashton disse após dar outra mordida em sua maçã. "Eu estudo aqui há bastante tempo, e nunca vi nenhum Luke como o que você descreveu."

"Você está querendo dizer que eu estou mentindo?" Michael suspirou. "Por que eu inventaria alguém, Ashton?"

"Eu não sei." O garoto de cabelos encaracolados deu de ombros, levantando o olhar para os olhos do garoto ao seu lado. "O que aconteceu depois do abraço?"

"Por que quer saber? Você nem ao menos acredita em mim." Michael disse se levantando da mesa que estavam, era o intervalo entre as aulas. Caminhou pelo pátio, esbarrando algumas vezes em alunos aleatórios, desejando estar em casa pela primeira vez na sua vida. Correu os olhos para o amplo jardim que ficava do lado de fora do prédio, enxergando ao longe um garoto loiro, o encarando. Luke.

Virou para trás, observando Ashton ainda na mesa. Essa seria sua chance de provar ao garoto que havia sim um Luke no segundo ano. Olhou novamente para a árvore onde o mais novo estava encostado.

Luke havia sumido.

existence // mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora