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ANTES TARDE DO QUE NUNCA



Passaram-se algumas semanas desde que Michael viu Luke sumir, literalmente, em um piscar de olhos. Não entendeu como aquilo era possível, mas ao mesmo tempo, não deu tamanha importância.

Durante esse tempo Michael procurou se aproximar mais de Ashton, notando que o mesmo queria que houvesse mesmo alguma aproximação. Eles passavam a maior parte do tempo juntos. Sentavam em dupla nas aulas, faziam trabalhos juntos, trocavam músicas e brincavam com o formato das nuvens quando o céu resolvia ficar limpo.

"Michael, isso não parece um elefante!" Ashton riu, apontando para a nuvem que na sua visão, parecia um tipo de muffin que comprava no Starbucks.

"Claro que parece." Michael olhou para o garoto que estava deitado do seu lado, observando seus olhos. Decepcionou-se ao notar que os mesmos davam toda sua atenção às massas no céu.

Ashton percebeu o olhar de Michael queimando sobre si, mas preferiu ignorar.

"Asht-"

"Michael, me explique direito aquela história sobre os remédios que sua mãe te dava?" Ashton interrompeu o garoto a sua frente, lançando um olhar interessado e curioso para o mesmo.

"Nem eu entendo muito bem..." Michael voltou a observar as nuvens, tentando se lembrar de um motivo bom para tomar todas aquelas drogas. "Ela nunca me explicou direito, mas eu confio nela. Ela é médica."

"Médica?" Ashton se sentou, encarando Michael. "Médica de que?"

"Psiquiatra."

O garoto de cabelos encaracolados entreabriu a boca, numa expressão de surpresa e até mesmo, descrença. Tudo estava começando a fazer sentido na cabeça de Ashton, e ele adorava aquilo cada vez mais.

"Pense comigo, tudo bem?" Ashton encarava Michael com certa esperança no olhar, ganhando apenas um gesto de afirmação repentino com a cabeça. "Você tinha um amigo chamado Oliver, que desapareceu misteriosamente após sua mãe começar a te medicar. Você cresceu, veio para um colégio e parou de tomar todas aquelas coisas..." Ashton fez uma longa pausa, suspirando. Estava com medo da possível reação de Michael. "E então, você conhece um garoto que eu nunca vi na escola, entende o que estou dizendo?"

"Está me chamando de louco?" Murmurou.

Ashton tentava decifrar o que se passava no rosto de Michael, mas o mesmo não possuía nenhuma expressão descritível.

"Não é isso, eu só es-"

"Está dizendo que Luke não existe? Eu sinto ele, Ashton! Ele bagunça a cama quando dorme, ele é quente, ele respira!" Michael elevou o tom de voz, não querendo acreditar nas palavras que haviam saído da boca de seu amigo. "Eu não sou louco!" Choramingou.

Ashton apenas permanecia calado, procurando as palavras certas para dizer.

"Por que não faz um teste, hein?" Finalmente soou, fazendo com que a sobrancelha de Michael se arqueasse, em confusão. "Você toma algum remédio que trouxe, se Luke sumir..."

"Isso é loucura." Michael negou com a cabeça.

Ele estava com medo.

"Não custa tentar." Ashton deu de ombros, se levantando. "Vamos."

~*~

"Ele disse que você não é real." Michael admitiu. Estava deitado de lado em sua cama, observando Luke sentado no chão.

"Como não sou real?" Luke riu nasalado, se levantando. Caminhou até a cama de Michael e sentou-se no final da mesma.

"Eu não sei... Ele acha que sou louco." O garoto deitado mudou de posição, ficando com suas costas contra o colchão macio, encarando o teto.

"Você acha que eu não existo, Michael?" Luke possuía sarcasmo em sua voz. Diversão. Audácia.

Começou a engatinhar lentamente na direção do garoto deitado, um sorriso brincava nos lábios do loiro.

"E-eu... Eu não sei." As bochechas de Michael se tingiram em um tom vermelho, mostrando que havia circulação sanguínea naquele rosto tão pálido.

"Como não sabe? Você não me sente aqui?" Luke se aproximou mais, ficando finalmente sobre o corpo do mais velho. Apoiou as mãos no travesseiro onde a cabeça de Michael estava deitada, deixou que seus joelhos se apoiassem ao lado do corpo do garoto na cama.

Você me pertence. Luke pensou.

Por um minuto, Michael conseguiu sentir a presença do silêncio em sua mente. E então Luke o fez.

Luke selou os lábios de Michael em um ato quase desesperado, no objetivo de provar ao garoto que tudo aquilo existia.

Michael não era muito bom com beijos. Claro que já havia beijado alguns garotos atrás da escola, chegou a namorar um, mas como diz Luke, ele não era flor que se cheire.

No momento em que Luke o beijou, o garoto de cabelos coloridos sentiu como se tivesse desaprendido a beijar. Não sabia como agir, então apenas correspondeu. Fechou os olhos, sentindo a língua de Luke contra a sua, o peso que o garoto fazia sobre seu quadril. Sentiu os sorrisos que ele dava entre o beijo, como se aquilo fosse uma grande brincadeira.

Michael levou suas mãos à cintura de Luke, acariciando, sentindo a pele macia do garoto na ponta de seus dedos.

Ele não queria que aquilo acabasse.

Mas acabou.

Luke se afastou quando Michael menos esperava, fazendo com que o garoto bufasse, irritado.

"Sou real para você agora?" Sussurrou, o mesmo sorriso não abandonou os lábios convidativos de Luke nem por um minuto. Mesmo enquanto se levantava do colo do mais velho, ele continuava com uma expressão vitoriosa em seu rosto, como se Michael fosse um troféu que ele acabara de ganhar.

E ele era.

existence // mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora