No último Inverno

03- Conversa

Abri os olhos e depois de esforços para sair dali, pude ver que a 'tal pessoa' era o Lucas.

- Me solta, seu idiota! - gritei, fazendo com que ele tampasse minha boca pela segunda vez.

- Eu disse que eu iria te explicar sobre ontem, e é isso que eu vim fazer! - disse quase em um sussurro.

Me debatia e fazia de tudo pra ele me soltar, mas era impossível.

- Eu quero te pedir desculpas! Sei que fiz um papel horrível mas às coisas acontecem...

Não queria ouvir mais nada. Pois sabia oque ele iria falar. Além de não querer ver-lo, e nem de ter-lo por perto... queria que o Lucas morresse pra mim, e é isso que eu pretendo fazer.

Fechei os olhos e virei o rosto para o lado esquerdo enquanto ele ainda falava algumas coisas relaciona a desculpas, desculpas e mais desculpas...

- Você não tá prestando atenção? - disse irritado.

- Oque você quer que eu fale? Você não precisa me pedir desculpas, porque no fundo sabe a minha resposta. Se isso for pena não precisa, porque eu vou melhorar. Oque você fez só prova o quanto você é canalha, então me deixa em paz! - disse após ele tirar a mão da minha boca.

Às poucos ele foi me soltando, não me disse nada mas me olhou de um jeito indefinível.

Talvez era pra ser assim.
Sei que vai doer mais o tempo cura e eu sei que essa ferida vai cicatrizar. Eu quero que ela cicatrize.

Peguei minha mochila que tinha caído no chão e recebi olhares de curiosos.
Fui pra direção oposta da dele e entrei na minha sala, estava totalmente desorientada e acho que todos puderam perceber, pois todas às atenções foram voltadas pra mim e eu detesto ser o centro das atenções.

Assim que sentei na carteira, Lia e Raquel me encheram de perguntas sobre o estado que minha cara estava, eu disse que não dava pra explicar na sala de aula.
Eu estava tão fora de mim, que eu nem conseguia pensar na prova de química, mas eu já sabia que era bem provável de eu tirar um 0.

[...]

O resultado da prova será entregue amanhã.

Cada questão que tinha eu não sabia responder, não que eu seja péssima em química, mas tudo que aconteceu, meio que bloqueou às ideias.

Assim que entreguei a prova ao professor e voltei pra minha carteira a Lia e Raquel me encheram de perguntas, dessa vez respondi todas e expliquei sobre oque tinha acontecido comigo e com o Lucas e eu oque achava da Nayara a parti daquele dia.

Elas me ajudaram muito. Até me fizeram rir, (oque fazia tempo). Quando a Raquel disse que tinha um plano pra exterminar a Nayara foi impossível não rir.

O resto das aulas foram assim, conversando bastante sobre tudo que tinha acontecido comigo e até mesmo sobre assuntos aleatórios. Tive espanhol, biologia e a maldita educação física.

Assunto vai, e assunto vem, Lia nos contou que ela iria pra um show de uma banda que o irmão dela gostava, segundo ela iria apenas pra
acompanha-lo já que ele voltou a pouco tempo de intercâmbio.

Ela perguntou se a gente também queria ir, pois tinha mais dois ingressos sobrando que era pra os pais dela que não iriam ir.
A Raquel óbvio, quase surtou quando ela convidou e disse que iria ir concerteza.

Como de se esperado eu disse que não queria ir, preferia passar esse final de semana em casa. Oque era bem melhor.
Elas insistiram no começo, mas depois pararam. O resto da aula foi só falando sobre esse show.

Saí do colégio junto com a Raquel. Era impressionante com o tanto de a assunto que ela tinha. Conversamos até mesmo sobre o o que ela comeu ontem.
A Raquel morava na mesma rua que minha e quando ela não tinha curso, íamos juntas para a casa.

- Cheguei! - disse assim que abri a porta.

Ninguém me respondeu e percebi que havia ninguém estava em casa.
Subi para o quarto, tomei um banho e procurei uma roupa, fui ao banheiro e a coloquei. Era um vestido florido um pouco acima do joelho.

Arrumei meu quarto que estava uma completa bagunça e fiz uma comida básica, coloquei meus fones de ouvidos e deitei na cama após ter almoçado.

O sossego acabou quando ouvi a campainha tocar. Meus fones estavam no volume baixo por isso consegui ouvi, apesar da campainha ser baixa.

- Oque você tá fazendo aqui?
- perguntei assim que abri a porta sem olhar na janelinha.

Era a Nayara.

- Eu vim te dizer, que é pra você ficar longe do Lucas! - disse me dando um empurrão entrando na minha casa.

- Alguém te deu permissão pra entrar? - perguntei incrédula.

- Eu sei que você tá sofrendo com o flagra, mas amiga você tenque superar! - disse em um tom irônico, desviando totalmente o assunto da minha pergunta.

- Você quer apanhar, né? - digo prontamente, com a mão levantada pronto pra dar na cara dela.

- O aviso tá dado. - disse levantando às mãos em forma de redenção.

- Você nunca foi minha amiga! - digo assim que ela saiu da minha casa. - Tinha que ter desconfiado de você! Sempre dizia que o Lucas não prestava que me traía... enquanto era você a vagabunda com quem ele ficava. - digo ardendo de ódio.

- Enquanto você me chama de vagabunda, saiba que ele te trocou por mim. - disse.

Como uma pessoa pode mudar da noite pro dia?
Ela era minha amiga a pessoa com quem eu contei meus segredos em toda a minha adolescência.

Como alguém poderia mudar tanto, assim?

Não me aguentei e por vários segundos tive a vontade de jogar ela no chão, e esfregar aquela cara no asfalto.
Mas eu não podia me rebaixar de tal maneira.

Ela virou às costas e saiu caminhando como se fosse a vitoriosa de toda história, mal sabia que se ele me traiu, poderia fazer o mesmo com ela.

Segurei às lágrimas que queriam a todo custo descer.
Bati a porta com força e fui para o meu quarto, mas dessa vez não para chorar e sim confirmar que iria no show com a Raquel e a Lia.

Confesso que agir no impulso e que ir nesse show não era o certo a se fazer, mas respirar novos ares era o que eu precisava naquele momento.

Liguei pra a Lia e perguntei se ela não tinha vendido o ingresso ela me disse que não, e que poderia dar para mim. Sem pensar duas vezes, aceitei.

No sábado a Raquel o irmão da Lia e a Lia estaria me esperando na esquina da minha casa pra a gente ir pra o show, que acontecerá em um outro bairro bem próximo do nosso.