Reencontro

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     Acordou atrasada naquela manhã. Tinha combinado com Juan de la Roy de estar em seu estúdio as oito e meia e já eram oito horas. Precisavam escolher as melhores fotos da sessão que fizeram no dia anterior para a nova campanha de bolsas Tori Burch. Colocou um jeans e uma camiseta branca, pegou sua bolsa e casaco de lã azul e saiu correndo. Detestava sair sem comer mas era o que tinha que ser feito. Juan era um fotógrafo argentino que vivia em Londres há mais de uma década. Com seu olhar atento a beleza dos modelos, logo tornou-se o queridinho no mundo fashion. Mas a simplicidade com que tratava a todos fez com que Lise encontrasse nele um verdadeiro amigo. Em troca, Juan se sentia muito a vontade com aquela menina de idade mas uma adulta em profissionalismo.

Havia uma pequena multidão em frente do estúdio naquela manhã e Lise logo pensou que Juan deveria estar fotografando alguém bem popular naquele dia. Observou que eram na maioria meninas adolescentes e pensou consigo mesma que deveria ser um homem e bem bonito para ter aquele contingente reunido logo cedo.

Passou rapidamente a vista pelo estúdio a caminho do escritório de Juan no final do corredor. Uma pequena entourage se movimentava em torno de 3 rapazes. Um loiro, um castanho de cabelo bem curto e um bem alto cujos cabelos castanhos claros longos chamaram sua atenção: One direction, pensou. Isso explicava a movimentação do lado de fora. Eles eram o sucesso do momento no mundo. Ela tinha escutado algumas músicas mas como estava tão ocupada em sua carreira, dificilmente tinha tempo de parar e ver uma revista, TV ou redes sociais. Sentia-se um pouco fora do mundo com isso. Estavam dando risada de alguma coisa que o loiro falou e que ela não conseguiu escutar. Juan estava entre eles mas viu que ela estava lá. Fez sinal para que fosse para seu escritório. Caminhando, escutou que as risadas continuavam. Agora quem falava tinha um tom de voz mais alto e mais grave.

Entrou no escritório de Juan e procurou ascender a luz.

-Por favor não acenda. Pediu uma voz que pareceu conhecida.

Quem está aí?

Eu já vou sair, mas por favor, não acenda a luz.

Posso entrar?

A resposta demorou alguns segundos.

Pode Lise, mas feche a porta.

Quem era? Ela se aproximou do sofá. Ele estava encolhido no canto, como se tivesse que dar espaço para outras pessoas, apesar de estar só.

Desculpe, não consigo ver seu rosto. Nos conhecemos?

Ele não respondeu. Ela podia ouvir sua respiração pesada. Um pouco de luz entrava pela persiana que estava abaixada. Ela reconheceu o rosto do seu vizinho que vira apenas uma vez.

Louis?

No mesmo momento se sentiu ridícula por não ter percebido que seu vizinho era parte do quarteto mais famoso do mundo. Percebeu que os seus olhos estavam inchados e cheios de lágrimas. "Como ele está triste.", pensou e se sentou bem perto dele.

Aconteceu alguma coisa? E no momento em que perguntou, se sentiu novamente ridícula. "Obviamente aconteceu", pensou. "Ninguém se refugia numa sala escura para chorar sem que nada tenha acontecido."

Ele não levanta o olhar que estava fixo no chão. As mão enxugavam as lágrimas e ele parecia um menino abandonado. Sentiu uma grande solidão ao observá-lo.

Posso trazer um chá, uma água? perguntou Lise. Ele não respondeu, estava absorto em sua tristeza.

Ela se levantou, trancou a porta para que ele pudesse ficar mais a vontade e serviu um copo com água da bandeja que Juan sempre mantinha em seu escritório e que agora, mais do que nunca, Lise agradecia em silêncio por esse hábito do argentino. Colocou um pouco de açúcar na água, mexeu e voltou a se sentar ao lado de Louis.

Tome um pouco, vai se sentir melhor. - ela encostou o copo em sua mão esquerda que num reflexo pegou. Ele usou as duas mãos para segurar e tomar um pequeno gole. E como se a água doce fosse um néctar, tomou mais dois goles. Parou e virou para Lise que enxugou uma lágrima que escorria pelo seu rosto.

-É bom. O que é?

Água com açúcar, respondeu dando um sorriso. "Ele está tão triste que não reconhece nem o que toma."

Eu...- tentou falar mas as palavras não saíam de sua boca.

Lise pegou o copo vazio de suas mãos, colocou na mesa ao lado do sofá. Em seguida pegou em suas duas mãos e falou baixinho:

Não precisa falar nada se não quiser.

Ele apertou as mãos dele e respirou aliviado. Não queria falar. Era evidente que estava usando todas as forças que tinha para estar ali. Era ainda mais evidente que ele não havia dormido naquela noite. Ficaram assim, de mãos dadas e em silêncio por um bom tempo. Às vezes ele soluçava baixinho como se a lembrança daquela dor avisasse que ainda estava lá. Então ela apertava um pouco mais firmemente as suas mãos para avisar que ela também estava.

As batidas na portam fez com que os dois voltassem para a realidade do estúdio.

Lise, está aí? Posso entrar? - era a voz de Juan.

Um minuto, respondeu e em seguida procurou o olhar de Louis que consentiu.

Desculpe Juan, disse ela abrindo a porta devagar.

O fotógrafo entrou e viu imediatamente Louis. Já estava começando a falar quando Lise o interrompeu:

Ele não está muito bem, Juan.

Desculpe por atrasar seu trabalho, falou Louis, eu já vou para o estúdio.

Juan se aproximou e falou:

-Olha, estou vendo que está difícil para você. Mas eu tenho um prazo para entrega do trabalho e se não fizermos as fotos hoje, não vou conseguir cumprir com ele.

Eu nunca deixei de fazer nenhum trabalho, não vou fazer isso hoje. - falou Louis tentando controlar a voz trêmula.

Lise encostou na mão de Louis novamente e dessa vez ele rapidamente a pegou e segurou firme. Ela então falou:

Eu vou ajudar você a fazer as fotos e depois vamos para casa.

Ele olhou para ela e consentiu.

Vou indo na frente fotografar os outros. Vamos fazer fotos individuais ao invés de grupo, ok? - perguntou Juan. Lise lembrou que por causa dessa maneira de ser é que ela gostava tanto do fotógrafo.

Posso esperar aqui? - Louis parecia mais calmo.

Claro. Eu mando te chamar quando o estúdio estiver vazio.

Lise, você fica comigo? - não era uma pergunta, era um pedido.

Claro que fico, respondeu sentindo o aperto nas mãos.

Então seremos somente nós três no estúdio, declarou Juan, saindo em seguida.

Quando a porta fechou, Louis encostou a cabeça no ombro de Lise e ficaram assim, imóveis e em silêncio até que Juan voltasse.

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