Não me deixe

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- Bom dia meu amor! - conhecia bem aquela voz. Era família
- Bom dia Gabis! Quanto tempo.
- O Ariel já me falou tudo. Sinto muito.
- É ela ia saber que sou gay de qualquer jeito mesmo.
- Mas esse é o mais doloroso.
- Nunca me senti tão péssimo.

Ficamos conversando sobre tudo que tinha acabado de acontecer. Chorei um rio novamente mas era muito bom ter Gabis por perto. Ela é muito importante pra mim. Nem da para acreditar que dormimos juntos. Acredito que por isso ela estava tão distante. O Ariel estava muito triste por tudo que estava acontecendo comigo. Ele estava sentado na poltrona com uma xícara de café com leite olhando pra mim como um cachorro pedindo carinho. Estava tão envolvido que não escutei meu celular tocar.

- Fonso é seu pai. - falou Gabis estendendo-me o celular
- Obrigado. - falei pegando o celular com medo do que poderia ouvir
- Filho vem pra casa agora! - falou meu pai com voz chorona
- Pai estou bem. Não precisa se preocupar. Depois vou em casa buscar minhas coisas. - disse em voz baixa com medo de sua reação
- Filho é a sua mãe vem pra casa agora! - ele estava desesperado
- Esta bem pai estou indo.

Peguei minhas coisas e fui a caminho da porta com cara de preocupação.

- Afonso para onde você pensa que vai? - perguntou Ariel
- Aconteceu alguma coisa com minha mãe. Tenho que ir em casa!
- Eu levo você. - disse ele realmente tentando ajudar
- Depois de tudo que aconteceu? Não podemos chegar lá como de nada houvesse acontecido. Vou sozinho.
- Ariel eu vou com ele! - disse Gabis tentando entender tudo que estava acontecendo.
- Você veio de carro Gabriela? - perguntei
- Não. Você não esta com o seu?
- Também não. - responde enquanto amarrava os sapatos
- Vão com o meu! - falou Ariel
- Não precisa! Muito obrigado mesmo. Mas não precisa, vou de ônibus!

Saímos e fomos para o terminal próximo a casa de Ariel quando o Eduardo para o carro e pergunta

- Estão indo para casa?
- Estamos. - respondi em voz baixa
- Entra ai que levo vocês.
- Não precisa! - falei
- Precisa sim! - falou Gabis me empurrando para dentro do carro

Não conseguia parar de pensar na voz do meu pai, ele estava segurando o choro. Tenho certeza pois lembro de quando bati com o carro no ano passado e ele ligou para mamãe segurando o choro enquanto falava que eu teria que fazer uma cirurgia.

- Não deve ser nada. - disse Gabis passando a mão sobre a barriga
- Espero que não.

Nunca estive com tanto medo. Agora meu pai sabe que sou gay e masoquista. Não falta mais nada para piorar a situação. Vou ser expulso de casa, humilhado e agredido em um único dia. Sabia do que estava por vir. Mas ainda assim não sabia qual decisão tomar. Por que é tão difícil que as pessoas me deixem ser feliz?

- Chegamos e são apenas duzentos reais a corrida. - falou Eduardo tentando nos arrancar sorrisos
- Obrigado! - falei saindo e entrando porta adentro Gabis ficou no carro. Ela sabe que essa conversa seria de família

Quando entro porta adentro tinha sangue por todo carpete e minha mãe jogada ao chão.

- Mãe! - Falei em tom alto, para ser sincero gritando
- Filho fica calmo, tudo vai ficar bem.
- Mãe! Não me deixe. Mãe, mãe, mãeeeee

Quando tudo acabar.Onde histórias criam vida. Descubra agora