· Capítulo 3 ·

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Mas que porra aconteceu comigo?

Não consigo parar de me perguntar enquanto coloco mais de uma etiqueta de preço em um livro, já fazia quatro horas que cheguei no trabalho e tudo que consigo pensar é no meu comportamento patético que tive na porta do elevador, Noah não me perguntou nada, ainda bem, não saberia o que responder de qualquer forma.

Termino de organizar uma pilha de livros e decido me sentar um pouco, uma das vantagens de se trabalhar em uma livraria é a liberdade para ficar da maneira que quiser, dou o meu melhor sorriso a um jovem que acabou de comprar uma enciclopédia inteira, sem dúvidas a melhor venda de todo o dia.

Aqueles olhos eram tão intensos...
Lá estou eu a pensar nisso novamente, o que de especial teve aquele olhar pra me deixar tão boba assim? Não intendo...

Meu celular vibra no bolso pelo que parece ser é a terceira chamada da Catherine hoje, deslizo o dedo pelo ecrã esperando ouvir sua voz alegre me saudando.

"Alex você tá ocupada hoje a noite? " ela pergunta rapidamente, uma pilha de papéis cai no chão e reviro os olhos apoiando meu celular no ombro me abaixando para pegar as folhas, ao fundo eu posso ouvir a voz de pessoas e música agitada, Cath e suas festas.

"Não sei se estarei...Acho que não" respondo me levantando segurando os papéis com cuidado para não deixar cair novamente.

"Ótimo!" Ouço som de palmas e uma risada alta. "Hoje a noite tem uma festa na casa da Sue, e você foi convidada."

"Cath não sei...tem tanta coisa pra fazer..." resmungo encaixando uns grampos no pequeno grampiador da loja.

"Não seja careta Alexis, não tem nada de errado nisso, vamos, vai ser divertido." Suspiro, pensando em uma desculpa para não ir, o conceito de diversão da Catherine é bem diferente do meu.

"Não posso..." antes que eu termine a frase ela me interrompe." Por favor!"
Acabo concordando relutante, não estou com vontade de sair agora, tudo que eu quero é ficar com Noah em casa vendo filmes românticos e comendo pipoca.

Conversamos por mais alguns minutos antes que ela desligasse, ao final do meu período de trabalho, apanho meu casaco tentando me proteger do vento frio que faz na rua, tenho que pegar a lotação para voltar pra casa a tempo de me aprontar para esta tal festa.

Tenho duas mensagens de Noah que me apresso a ler.
Baby, estou com saudades :')
Sorrio, ao ler estas palavras, sempre tão atencioso.
Abro a segunda mensagem ao mesmo tempo em que entro no edifício caminhando até o elevador.
Vou estar fora está noite, passo mais tarde se puder XX.
O que? Só isso?
Uma bolha de ciúmes cresce dentro de mim mas logo ignoro a vontade que tenho de falar merdas a ele.

Entro no elevador enquanto digito rapidamente e envio a mensagem para ele.
Okay amor, qualquer coisa liga XX.

Uma mão aparece impedindo que a porta do elevador se feche e vejo assustada enquanto o mesmo cara de hoje de manhã entra no mesmo elevador que eu.

Prendo a respiração olhando para o ponteiro que indicava os andares que iam passando.
De repente as luzes piscam e se apagam me deixando no escuro...com ele.
"Não acredito." Resmungo apertando o botão do andar esperando que o elevador volte a se movimentar.

Meu Deus, não acredito nisso, só pode ser brincadeira, algum tipo de pegadinha, eu não posso estar presa no elevador.
Bufo irritada meu dedo pressionando o botão sem parar.

"Calma loirinha, isso é normal daqui a pouco volta a funcionar, não precisa ficar desesperada." Uma voz resmunga atrás de mim, sinto a respiração dele bater contra minha nuca enquanto as palavras pulam de sua boca, o som é um pouco áspero, rouco, não esperava que a voz dele fosse assim tão grave.

Levo alguns instantes para processar o que acabou de ser dito, ele me chamou de que?

"Do que me chamou?" O tom irritado da minha voz deixava transparecer que não estava confortável com aquele tipo de conversa, muito menos com apelidos que me ridicularizem.

Ele apenas revira os olhos e se encosta contra a parede de metal do pequeno elevador.
Sua atitude só me deixa mais desconfortável, peço a Deus silenciosamente que ele não seja uma espécie de pervertido tarado e que não queira se aproveitar de mim só porque estamos ambos presos nessa situação...

"Loirinha, é por causa do seu cabelo tingido, acho que sabe disso." As palavras dele saem arrastadas, seu sotaque é notável, me pego pensando a quanto ele está nesse país.

"Não lhe dei intimidade para me chamar por apelidos, e meu cabelo não é tingido." Falo, minha indignação clara em minha voz.

Odeio o fato que ele parece o oposto de mim agora, eu estou aqui totalmente transtornada e ele está agindo de forma tão tranquila, como se nada estivesse acontecendo.

Resolvi pensar em uma maneira de sair deste lugar, olho em volta a procura de câmeras de segurança, encontro uma acima da cabeça do estranho homem que estava preso comigo.

"Acha que a câmera está funcionando? " pergunto a ele, tentando alcançar a pequena câmera no teto.

Ele olha para cima por alguns instantes e suspira pensativo.
"Acho que não, suponho que isso tenha sido uma falta de energia."

"E quando acha que vai voltar a funcionar? " estou tentando ter fé que a qualquer instante isso vai acontecer.

Ele dá de ombros e enterra suas mãos em seus bolsos . como ele consegue agir assim?
Tão despreocupado, tenho que ligar pra um técnico ou coisa assim, mas não conheço nenhum técnico...

"Você conhece alguém que lide com isso?" Eu pergunto a ele, o mesmo me encara, estava escuro ali, a única iluminação vinha da luz de emergência que se encontrava atrás de mim, não deixo de observar seus olhos escuros cobertos por uma camada de cílios negros espessos, aqueles olhos nunca deixavam os meus, e mesmo quando eu me virava sentia seu olhar sobre o mim.

"Eu sou mecânico mas não posso fazer muito daqui de dentro, poderia ligar pra alguém mas estou sem bateria." As palavras dele me fazem lembrar que eu poderia ligar ao Noah pedindo ajuda, sem demora procuro meu celular nos bolsos da minha mochila e o encontro, tento ligar ao Noah mas estranhamente a chama não completa, tento outro número mas não consigo contato com ninguém.

Abaixo o celular nervosa, jogo a mochila no chão em frustração e deixo meu corpo cair no gelado chão de metal do elevador.

"Não consigo ligar pra ninguém." Resmungo, fecho os olhos sentindo o cansaço do meu corpo.

"Deve estar sem sinal." As botas dele batem ao meu lado quando ele se senta também esticando suas pernas na minha frente.

"Isso já te aconteceu antes?"
Sussurro massageando meus próprios pés tentando eliminar a tenção que se instalou em mim.

Ouço um suspiro e abro meus olhos me permitindo olhar para ele, seus lábios estavam cerrados e suas sobrancelhas unidas, eu podia ver as linhas de expressão em sua testa, meu Deus como ele consegue ser tão bonito?

Abano minha cabeça tentando afastar esses pensamentos.

"Você está perguntando se já fiquei sem sinal ou se já aconteceu de ficar preso no elevador? " ele pergunta o tom divertido na voz dele me fazia relaxar um pouco.

"Acho que ficar preso no elevador?" Digo e fico surpresa quando um riso me escapa, como resposta um sorriso rasga seu rosto e ele inspira para me responder.

Poison  [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora