Cap 8

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- Agora que já falou com a minha irmã, tenho que voltar para o hospital!

- Porquê tanta pressa? Não sabia que gostavam tanto de lá estar.

- Simplesmente tenho que ir - que homem mais chato!

- Então isso é de família! - riu-se - A minha irmã também adoro ir lá, mas ela tem os seus motivos. E tu? - parecia daquelas perguntas de um filme de suspense.

- Estou doente tenho que ir.

- Primeiro quero-te levar a um sítio.

- Qual?

- Já verás...

Despedi-me da Taty e segui-o.

Vinte minutos depois estávamos ambos no cemitério a olhar par a lápide da Alexandra, a ex namorada do meu pai e mãe da Taty. Elas eram muito idênticas. Já tinha visto muitas fotos suas e, apesar de a minha irmã ter alguns traços do meu pai, fisicamente era mais parecida com a mãe.

- Que estamos aqui a fazer?

- Vou contar-te a história da tua família. Pelos vistos não a deves saber muito bem.

- Mas...

- Ouve-me só- interrompeu-me - Vou começar pelo início mesmo. A tua avó Elisa foi casada com um homem extremamente violento. Agrediu-a e traiu-a várias vezes. Como tal, o teu pai fechou-se para os estudos para ter um futuro bom. Entretanto o teu avô suicida-se e anos depois a tua avó volta a casar-se, com o Dr. Eugénio e este foi o grande pilar tanto do teu pai como da tua avó.

Ele conheceu a Taty quando andava na universidade. Uns anos depois nasceu a Taty.

Os teus avós maternos separaram-se quando a tua mãe tinha 10 anos. Ele era relações públicas, por isso passava muito tempo fora de casa. Além do mais ele também traiu a tua avó. Contratava prostituas para irem aos eventos com eles, pois a sua mulher e filhas eram "vulgares". Uma dessas era a minha mãe, que morreu há dois anos degolada por aquele monstro.

Os teus pais conheceram-se quando a tua mãe tinha 17 anos, numa visita anual do médico. Ela queria ser dançarina e ele era pediatra. Foi amor à primeira vista. Com o tempo foram-se conhecendo melhor e apaixonando-se cada vez mais.

A Alexandra era muito amiga da tua avó, pois trabalhavam no mesmo sítio e foi assim que se conheceram. Ainda chegaram a ir algumas vezes para a noite, à conquista, apesar de a Di não achar piada nenhuma à coisa.

A relação do teu pai com a Xana nunca foi fácil. Ela traiu-o diversas vezes, mas pior foi que ele apanhou-a na cama com o Paulo, que era como um irmão para ele.

A Taty sofreu muito por causa da separação dos seus pais. Costumava dizer que não tinha pai, sequer. Chegou até a fugir de casa e foi a tua mãe que a encontrou.

No jantar em que a tua avó conheceu o teu pai também se descobriu que era a Xana a ex do teu pai. Até lá, ninguém sabia sequer da existência Taty como sendo filha do Diogo. Houve uma grande confusão e a tua mãe acabou por ir parar ao hospital. Foi aí que descobriu que estava grávida e que tinha de desistir do seu sonho. Além disso, a tua avó demorou até apoiar a relação deles.

Quem a acompanhou com o Eugénio. Desde o início a Di gostou dele. É ótima pessoa.

Depois a Di viu o Diogo em casa da Xana, sendo que esta estava apenas tapada por um robe, portanto ela simplesmente saiu e foi através deste momento que nos conhecemos. Dei-lhe um teto e comida. Obviamente que sabia quem ela era, no entanto, no início o que queria era vingança. Mas naquela altura só queria noite e tentar saber mais sobre o meu pai, que me abandonou quando era criança. Fiz imensos testes de paternidade e nada. Segundo ele, sou filho de uma relação passageira. Ele até queria que a Di abortasse. Por ele, vocês não tinham nascido. Se não fosse eu, tu e os teus irmãos não estariam vivos. Fui preso por vos ter defendido. 

A festa dos seus 18 anos foi um desastre. Fiquei bêbado e não estávamos a festejá-los no local mais indicado para uma grávida. Mas o Diogo apareceu e salvou o dia. Fizeram logo as pazes.

Descobriu-se que a Xana tinha Sida e que tinha sido contaminada pelo seu chefe, que ainda está preso. Uma das coisas mais positivas que aconteceu foi o facto de a tua avó ter finalmente encontrado alguém e o Paulo ter assentado. Ele era um mulherengo da pior espécie.

Durante estes anos todos em que estive preso a tua mãe foi-me visitar todas as semanas. Ela foi um anjo que apareceu na minha vida. O maior medo dela era que não conseguisse ser uma boa mãe para vocês os quatro, especialmente se não fosse capaz de ajudar a Taty a superar a morte da Xana. 

A escola de dança serve-lhe como distração. Ela tem muito medo que vos aconteça algo.

Durante os 14 anos em que estive preso mantive contacto com algumas pessoas que vivem no bairro onde nasci. Há alguns deles que trabalham para o meu pai e contaram-me algumas coisas. Pelos vistos ele anda por aí escondido, mas gere uma rede de prostituição. Ele sempre viveu no mundo das ilusões, mas obrigar jovens a prostituírem-se?! E tenho a certeza que tentou meter a Xana nisto. A Taty também me pareceu saber de algo, mas tenho que falar melhor com ela.


- Uau, há coisas que eu não sabia. Não fazia a mínima sequer. Agora sinto que tenho uma dívida imensa contigo. Mas só sabes isso? Quer dizer, são boas descobertas, mas um pouco vagas.

- É claro que não. Primeiro quero ajudar a Taty a acentar. No meu bairro ela é conhecida como sendo oferecida, mas sei que ela é muito diferente da mãe. Quero mudar um pouco a imagem dela.

- Era isso que achavas que iria ser duro que os meus pais soubessem?

- Não. Acho que há uma pessoa ligada à nossa família que trabalha para ele. Tenho a certeza absoluta.

- Mas como alguém que nos conhece pode estar do lado de um monstro?

- Também fiz as mesmas perguntas, mas quando alguém faz algo assim é porque tem os seus motivos. Foi  uma coisa que aprendi durante estes anos todos. - ele olha para mim muito sério. - Tu queres ir para o hospital por causa daquele tal programa, não é?

Pára de te meter na vida dos outros!!  - pensei.

- E não só. Quero ir ter com o meu pai, ele é das poucas pessoas em que eu confio.

- E as mulheres ainda se continuam a atirar a ele lá no hospital? 

- Como sabes disso?

- Tenho uma irmã ciumenta, mas o Diogo nunca ligou a essas coisas. Desde que vocês tenham saúde, ele está feliz. Olha a tua irmã contou-me que tens problemas na escola. Que se passa?

- Mas porque toda a gente só sabe falar da vida dos outros? Eu estou bem.

- Hehe, se não queres dizer não contes. Anda vamos. Quero que aproveites também o tempo no hospital com o rapaz do programa.

- O meu pai não acha piada nenhuma à situação.

- A mãe da Di também não lhe achava piada e mesmo assim engravidou a filha dela e casou-se com ela. A nível de rapazes, se encontrares um que valha a pena, deixa que o teu pai tenha muitas dores de cabeça. - e piscou-me o olho.

Acho que afinal tinha uma ideia errada do meu tio. É simplesmente preocupado connosco.

Mas deixou-me com medo do meu avô. Ele anda por aí e é contra a minha existência e a dos meus irmãos...


Entrámos no carro e fomos a caminho do hospital. 







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