Já faz algum tempo. Uns quatro anos para ser mais precisa.
Estava com umas amigas numa festa a festejar o Verão.
Usava uns calções de ganga e uma t-shirt básica branca. Sempre fui alta e com umas pernas salientes, mas não me considerava verdadeiramente bonita.
Aliás, achava-as bem mais elegantes que eu.
Muito álcool, muita dança,... só precisava de me sentir livre.
Ainda me sinto ligada à minha mãe. Quero honrar a sua morte. Ela não era má pessoa. De todo. Criou-me e tentou ensinar-me os valores mais corretos da vida.
Perdi-a cedo, mas nunca a esquecerei.
O meu pai é ótima pessoa, mas não me sinto sua filha. Tenho ciúmes dos meus irmãos. A eles, dá-lhes tudo. A mim nada.
Eles são uns mimados. Não sabem o que a vida custa. Quero ser veterinária no futuro e sei que terei que lutar muito.
A Diana anda cada vez mais ocupada. Sei que tentou não nos diferenciar, mas falhou. Não me sinto amada naquela casa. Custa-me viver com eles.
Pai desculpa por pensar isto. Amo-te do fundo do meu coração. Mas sinto que já não faço parte da tua vida. E isso magoa-me muito.
Sempre te desejei o melhor. Aliás, mereces-o mesmo.
Fizeste o teu melhor, não foi? Ás vezes sinto que te odeio. Sei que passaste por muito e que nunca tiveste a sorte de demonstrar o teu verdadeiro eu. Poucas foram quem o conheceu.
Fizeste a pessoa que hoje sou. Mesmo que tenhas sido quem começou esta guerra em mim.
Se a tua felicidade é a Diana, mesmo que não o consiga compreender, estou feliz por ti.
A sério que estou.
Arranjaste-me uma mãe que bem podia passar por minha irmã.
Causaste a morte da minha mãe. Uma mulher que sempre te amou. À sua maneira, é verdade, mas fez o melhor que podia.
Mãe como queria que estivesses aqui comigo. Agora, neste momento. Sinto-te sempre comigo. Deixa que a tua luz me guie.
Estava uma noite ótima na praia. Todas juntas festejávamos.
Sinto que um rapaz me observa constantemente. Dirige-se até mim.
E beija-me à força.
Isto nunca me tinha acontecido, mas estava num estado tão lastimável que não conseguia negar tal ato.
Não te tenha sido o meu primeiro beijo. Aliás, até era bem experiente...
Estivemos naquilo durante algum tempo. De repente ele pára, dá-me a mão e convida-me a sair dali para irmos para um sítio mais calmo, pensei eu...
Fomos para trás de uns prédios abandonados. Lá estavam mais quatro rapazes, pelos vistos à nossa espera.
- Boa, podias era ter sido mais rápido.
- Hey, pensas que é fácil? E ela está meia bêbada, tal como as amigas, por isso não foi preciso convencê-la a vir.
- Mas o que se passa aqui?- perguntei-lhe meia tonta.
- Nada princesa, só preciso que estejas calma.
Encosta-me à parede e beija-me, outra vez.
Começa a percorrer o meu corpo com as suas mãos. A sua boca no meu pescoço e eu a suspirar por mais.
Elas vão descendo, até que as introduz dentro de mim.
Aquilo era uma novidade para mim. Mas era ótimo.
Baixou-me os calções e tirou-me as cuecas. Dentro das calças dele tirou o seu pau.
Só neste momento é que percebi realmente o que iria acontecer.
- Pára - gritei, mas não deu em nada. Aliás ainda fiz pior.
Os amigos dele, que estavam ao fundo a observar-nos, vieram acudi-lo.
Agarraram-me nos braços enquanto ele colocava o preservativo.
Fechei os olhos na esperança que aquilo acabasse depressa. Já não aguentava mais.
- Ótimo, ainda era virgem - disse passando um pano branco na minha vagina para levar a prova da minha inocência. - Vamos, o trabalho já está feito.
- Nem penses, fizeste a parte melhor, deixa-nos agora aproveitar. - indignou-se um dos amigos.
- Nem pensem nisso. Ela está assustada e dorida, não lhe podemos fazer mal.
Vi-os a desaparecer no meio da escuridão. Ajoelhei-me e senti lágrimas a percorrerem a minha cara. Mas tinha que ser forte, nunca poderia contar isto a ninguém.
Dois meses depois, a Diana achou que deveria ir ao ginecologista.
"- Nos últimos anos o teu corpo sofreu muitas alterações. É só para ver se está tudo bem. Até pode ser que ele te aconselhe a começares a tomar a pílula para controlar as espinhas"- disse ela.
Quanto mais me obrigava, mais contestava. É incrível, mas esta mulher tem imenso poder sobre a minha vida e nem sequer é minha mãe.
É claro que como bom profissional que é, o Paulo descobriu logo o meu segredo.
Estive a fazer tratamento secretamente. O meu pai bem que desconfiou, mas nunca descobriu o motivo.
Não entrar em Veterinária foi o meu maior desgosto. O pior é que foi mesmo por pouco, o que acabou por aumentar ainda mais a minha angústia.
Consegui uns contacto numa agência de modelos e isso tem sido o meu ganha pão. Mas tudo me recorda aquela fatídica noite. As festas, o convívio, até os rapazes que conheço... Tive que aceitar que a maioria só quer passar uma noite acompanhado e fazer disso o meu modo de vida.
Agora ando à procura de alguém que preencha este meu vazio...
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Desejos do Coração
RomanceContinuação de Fragilidades do Coração *-* Convém ler a obra anterior antes de iniciar a leitura desta ;)