Cap 1

408 26 8
                                    

- Meninos despachem-se! Já estão atrasados!! - avisa a minha mãe enquanto que eu e os meus irmãos tomávamos o pequeno almoço.

Ótimo, mais um dia de escola!

Não me levem a mal, mas eu até poderia gostar de andar lá... se houvesse alguma coisa que me motivasse a tal.

Simplesmente não é fácil quando se é filha dum dos melhores médicos do país e da dona da escola de artes mais prestigiada do país. E, para melhorar a situação, a minha meia-irmã, a Taty é modelo fotográfica, o meu irmão é o melhor aluno da turma e sonha, um dia seguir os passos do pai e do avô e a minha irmã, a Ana é capitã da equipa de futebol feminina da escola.

Enquanto que eu não faço a mínima do que ando lá a fazer.  

Visto o meu blusão azul, pego na minha mochila e vou com os meus irmãos apanhar o autocarro para mais um dia no inferno.

- Que cara é essa, Maria? - pergunta-me a minha irmã.

- Nada! Simplesmente preferiria passar o dia em casa a dormir. Sinto que não aprendo lá nada! Para que é que me interessa saber resolver equações e o nome de todos os objetos de um laboratório?

- No meu caso irá ser útil - alerta-me o meu irmão - Quero ser útil para a sociedade salvando vidas!

- Mas eu nem sei o que quero ser! Detesto a escola! Por mim ficava todos os dias em casa.

- Devias começar a falar mais com as pessoas, ganhar amigos. Tens de parar com esse feitio! - reclama a Ana.

- Eu só quero provar que consigo fazer alguma coisa bem! Sou das piores alunas, nunca chegarei a lado nenhum se continuar lá.

- Descobre algo que realmente gostes e nem irás notar que a estás a fazer. - aconselhou-me o Dioguinho.

- Obrigada, vocês são os melhores do mundo! Mas, ainda bem que a Taty chega hoje de França! Ela prometeu-me que me levaria a uma festa que vai haver.

- Como se os pais te deixassem... - resmungou o Dioguinho.

- Vou com ela! Além disso já tenho idade para sair e vai ser a minha primeira balada. Que poderá acontecer de errado?

- Se forem, tenham juízo! Sabes bem que és muito ingénua e inocente. - aconselhou a Ana.

Aquilo ofendeu-me.

- Mana, podes parar de me chamar inocente. Eu posso ser, pronto, tu sabes, mas não quer dizer que seja isso. Sei muito bem tomar conta de mim própria. - Ela namora com o Luís há dois anos. Mas acha que é muito mais experiente do que eu. Simplesmente não preciso de rapazes na minha vida!

- Só te estou a dizer que estás muito habituada aos pais e a nós. Praticamente não falas com mais ninguém...

- Porque são estúpidos! 

- Comporta-te e tenta falar com alguém. Vais ver que a escola não é assim tão má.


Tentei seguir o conselho dos meus irmãos, mas simplesmente isto não era para mim.

Nós éramos os três da mesma turma, mas cada um de nós tinha os seus amigos. Tirando eu. Simplesmente não confiava em ninguém.

A aula de hoje era de Biologia. O meu irmão sentava-me logo na primeira fila, a Ana na do meio e eu na última. Assim podia desenhar e estar no telemóvel que ninguém me chateava.

O professor entra. Era Telmo, o irmão mais novo do Paulo. 

O meu pai contou-me que, há uns tempos atrás, eles eram da mesma banda. Hoje é o nosso professor de Biologia. Já tem uns 38 anos. Usa cabelo curto, mas ainda se nota os seus caracóis castanhos, barba e tem os olhos castanhos. As suas alunas adoram-no, por ser jovem e bonito. Eu e os meus irmãos olhámos para ele como sendo o irmão do Paulo, o namorado da nossa avó. Praticamente é nosso tio. O que faz com estas aulas sejam estranhas para nós. 

Desejos do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora